Um poema de Luiz de Miranda
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Talvez produza demais e não devesse publicar tudo.
Mas quem pode dizer a um poeta que seja econômico?
Os moderninhos atuais, que produzem uns versinhos secos achando que revivem João Cabral, torcem o nariz para ele. Afinal, Miranda não é convidado da Flip, não integra comitivas brasileiras de escritores para salões europeus, não publica pela Cia. das Letras, etc. Mas conheceu os grandes e deles recebeu comentários incríveis. Ou eram todos mentirosos ou viram qualidades na poesia desse gaúcho meio excêntrico que vive para sua poesia.
(Miranda e Mario Benedetti)
Canto IV
Olho o que passa,
o resto que passa
eu invento
no relógio noturno
das estrelas.
Componho o que penso
e lembro de Benedetti,
na querida Montevideo,
em nossa primeira conversa
na Porta del Sol,
em março de mil novecentos
e setenta e dois.
Me reconheceu pelo
longo cabelo
e a barba preta.
Fomos amigos
nos duros anos das ditaduras
aqui, no Uruguai e Argentina,
flor menina
do meu coração
e que sempre põe paixão
no meu sentimento,
que é o alimento
de toda minha alma,
desordenada e vadia,
como a vida
que tenho levado,
onde passaram meus pés,
já cansados
de andar sozinho
de carne viva
que palpita
em minha mão esquerda,
que alinha a página branca,
que nunca estanca
o fervor do meu olhar
e continuo amar
toda a esperança
que passa,
trazida pela mão de uma criança.
*
Continental é um livro para 200 cantos, escrito onde estiver minha alma vivendo.
Este livro é o de numero 45 da obra do Poeta Luiz de Miranda.
*
Luiz Miranda foi indicado pelo Pen Club para o Premio Rainha Sofia 2018, atribuído pela Espanha aos maiores poetas do mundo.