Uma amizade

Uma amizade

Editor Luís Gomes faz 60 anos

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    Sou conservador. No lado esquerdo do meu peito entram raras novas amizades. O Leandro Minozzo furou um bloqueio de vários anos. O meu clube de amigos se renova pouco. Não rompo nem abraço espaço. Talvez seja um defeito. Tenho amigos de direita e de esquerda. Não tenho de centro por só crer em amizades verdadeiras. O centro é uma ficção geopolítica. Hoje, um amigo do peito faz 60 anos. Eu o conheci em 1982, na faculdade de história. Ele tinha cabelos cacheados de quase adolescente, já citava Sartre e outros filósofos, aparecia nas noites do Bom Fim vestido de Carlitos ou algo parecido. Guri, era conhecido como John Travolta de Alegrete. Tornou-se um dos grandes editores de livros.
    Estou falando do Luís Gomes, editor da Sulina. O cara pegou a editora Sulina quebrada e fez dela, com diferentes proprietários, um bastião de qualidade, publicando grandes autores regionais, nacionais e internacionais. Lançou no Brasil os seis volumes de “O Método”, obra-prima de Edgar Morin. Trouxe para cá os primeiros livros de Michel Houellebecq, “Partículas elementares” e “Extensão do domínio da luta”, quando os fazedores de reputação daqui ainda não o conheciam ou torciam o nariz por se tratar de um francês. A lista de grandes nomes que publicou é longa. O catálogo que construiu merece respeito. Precisou adaptar-se aos novos tempos para sobreviver. A mídia de Rio de Janeiro e São Paulo é da Companhia das Letras e agora da Todavia, que saiu de uma costela da primeira. Vez ou outra, fura-se o bloqueio. Uma editora periférica funciona como um clube formador de atletas: quando um estoura, vai embora. Houellebecq foi rapidamente capturado. É do jogo.
    Luís Gomes lançou o nome do momento: Jeferson Tenório. Eis um guerrilheiro da edição, amante dos vinhos, das viagens, de autores sofisticados como Paul Auster e de cineastas como Godard. Duvido que alguém conheça tanto Elias Canetti quanto ele aqui nos pagos. Acho que um dia ele se mandará do Brasil em busca de novas emoções. Muitos o admiram. Ele tem um jeito meio esquisito, às vezes, meio casmurro. É muito do bem. Vai falar de música clássica com ele! Sabe e ouve tudo.
Luís Gomes e eu atravessamos as últimas quatro décadas juntos. Brigamos de vez em quando. Tem algo nele que me espanta: nunca sente inveja de quem quer que seja. Jamais ouvi dele manifestação de despeito. Para tirá-lo do sério é fácil: basta falar mal do Caetano Veloso. Se eu fosse vereador – o que não serei por só aceitar mandato de oito anos e remoto –, proporia que se desse a ele o título de cidadão de Porto Alegre. Ele se enrolaria todo no discurso. E tomaria dez espumantes. Parabéns, velho amigo, tens dado a tua contribuição à cultura do RS.
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Será revelado hoje o layout do maior mural a céu aberto em Porto Alegre, que cobrirá a parede do prédio DAER-PGE. Produção do Laboratório de Políticas Públicas e Sociais, sob a coordenação de Marcelo Sgarbossa, com participação e artistas como Trampo e Erick Citron. O painel exibirá uma planta e a cabeça de mulher negra anônima. Vai ficar lindo.
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Estão abertas até dia 29 de outubro as inscrições para mestrado e doutorado em Comunicação na PUCRS (www.pucrs/comunicao)


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