Vinte de anos de Correio do Povo

Vinte de anos de Correio do Povo

Duas décadas como colunista

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Hoje, 1º de setembro, completo 20 anos como colunista do Correio do Povo. No começo, era um texto dominical um pouco mais longo do que os atuais. Depois, o texto dominical e outro, mais curto, às quartas-feiras. Em seguida, passamos a seis textos por semana. Depois, todo dia. Em duas décadas, fiz crônica, artigo, conto, poesia, comentário, análise, crítica e elogio. Usei humor, ironia, análise, parábola, seriedade, criei personagens, falei de políticos e de muitos autores. Escrevi sobre praticamente tudo, especialmente sobre o cotidiano dos homens como eu que sonham com um mundo melhor. Em algum momento, a política impôs-se. Nesse tempo todo, embora alguns pensem o contrário, mantive o mesmo norte: a independência. Acertei e errei, fui aplaudido e atacado por direita e esquerda. Persisti. Bifurqquei.

      Na caminhada, fiz caminho, vibrei, sofri, chorei e sempre quis mais. Quando comecei, tinha 38 anos de idade e ilusões de um menino de 18. Hoje, quase sexagenário, cabelos embranquecidos, eu me agarro às esperanças possíveis e agradeço por ter sobrevivido ao coronavírus. Acompanhei a cada texto as crises do nosso país e o ressurgimento das nossas crenças no futuro, esse tal futuro sempre fugidio e gelatinoso. Falei de amor, da infância, de literatura, de cinema, de história, de viagens e de Palomas, o meu povoado na fronteira com o Uruguai. Abri meu coração tantas vezes aqui. Chorei a morte do meu pai, confessei minhas expectativas e emoções a cada livro que lancei, torci pelo Internacional e pela seleção brasileira, fiz incontáveis amigos.

      Recebi críticas e elogios. Vivi momentos inesquecíveis.

Um dia, um ônibus parou fora do ponto diante de mim.

O motorista gritou: “Vai trabalhar? Suba. Que honra”.

O cobrador completou: “Neste ônibus o senhor não paga passagem”. Tanta coisa aconteceu nestes 20 anos. Fiquei velho. Passei a sofrer de ansiedade. Li muito. Contei sempre com o apoio sábio e infalível do meu velho amigo de faculdade, o nosso diretor de redação, Telmo Flor. Ao meu lado, dia e noite, a Cláudia ilumina cada texto. Meus amigos Luis Gomes, Álvaro Larangeira e Celso Dias, com quem há mais de três décadas divido alegrias e tristezas, foram cúmplices em muitas ideias. Minha maravilhosa família nunca deixa de me confortar pelo seu orgulho com minhas pequenas obras.

      Vinte anos de escrita, milhares de textos, frases, imagens, metáforas, provocações, encontros, desencontros, abraços e beijos, quando beijos e abraços eram saudáveis, polêmicas e enfrentamentos. Combati, na medida das minhas parcas forças, racismo e homofobia. Denunciei incansavelmente a desigualdade indecente que caracteriza a sociedade brasileira. Dei voz a muito gente. Acima de tudo, senti prazer escrevendo. Toda a minha rotina passou a ser organizada em torno do tempo para escrever. Quando me perguntam como é possível escrever diariamente, sempre respondo: difícil é não escrever todos os dias. Capturei flagrantes deste nosso século surpreendente ano a ano. Creio que informei, distraí e, quem sabe, emocionei e dei alegria.

O que direi aos 78 anos de idade?

Hoje, vibro com a chegada de setembro.

Quero sair, tomar sol, que vai chegar, e comemorar a primavera.


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