Vitórias do governador Sartori

Vitórias do governador Sartori

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Um sujeito chamado René entrou para a história. René Descartes. Foi filósofo, matemático, geômetra e outras coisas. Usava peruca. Como todos os que podiam. Ele escreveu livros. Um deles, Discurso sobre o método, deu o que falar. Descartes era bom frasista. Consagrou-se com esta: “Penso, logo existo”. Os implicantes o contestam assim: “Se os cachorros não pensam, logo não existem?” Descartes apostou na dúvida como base do método científico. Estranhamente usa-se o termo cartesiano para insultar quem tem certezas demais. Eu sou cartesiano dia sim, dia não. Hoje, é dia sim. Tenho certeza de que José Ivo Sartori tinha um plano de governo. Não sei se o método escolhido e o discurso sobre ele foram os melhores.

As vitórias, porém, começaram a ser colhidas. Está 1 a 0 para ele.

Na semana passada, os deputados aprovaram a principal reforma de longo prazo: a mudança da previdência dos funcionários públicos. Daqui em diante, quem se concursar receberá, na aposentadoria, o teto do INSS e o que resultar de um plano complementar compartilhado entre o Estado e o funcionário. Cada parte botará 7,5% para capitalização. É um por um. Os nobres parlamentares que aprovaram isso foram brindados, no ano passado, com uma aposentadoria especial na base do dois por um: duas partes do empregador (26,5%) e uma parte do deputado aderente (13,5%). Sartori nada tem com isso.

A oposição protestou mais contra a forma de aprovação (galerias da Assembleia Legislativa vazias, projeto em regime de urgência e falta de discussão) do que em relação ao mérito. Afinal, o mesmo método já foi adotado pelo governo federal dirigido pelo antes glorioso Partido dos Trabalhadores.

Sartori já pode dizer que aliviou as contas futuras do Estado. Falta resolver os problemas de curto e médio prazos. O curto prazo deve ser atendido com o aumento dos saques dos depósitos judiciais de 85% para 95%. Favas contadas. Vai acontecer e deve garantir as folhas até o final do ano. O médio prazo começa em janeiro de 2016. Até agora, doa a quem doer, só apareceu uma solução viável: aumentar impostos. A votação do aumento do ICMS deve acontecer amanhã. Não tem saída. Ninguém apontou outra solução mais efetiva. Os empresários alegam que haverá uma retração da economia. Parece mais uma ameaça. A oposição votará contra por dever de ofício, pois já sonhou com o mesmo. É verdade que se poderia arrancar mais dos ricos. Mas, cartesianamente, o método, apesar dos discursos, será o mais direto.

Se o governador Sartori vencer, como parece o mais provável, terá ganho uma poderosa quebra-de-braço. Olívio Dutra não conseguiu. Os que hoje são favoráveis eram contra na época. Yeda Crusius também não levou. Sartori e Dilma podem dizer: “Tamu junto”. Sartori precisa de mais ICMS. Dilma necessita da CPMF. Os dois estão certos. Ninguém quer pagar essa conta. Faz sentido. Se não tiver aumento de ICMS, os pagamentos do funcionalismo continuarão parcelados, os serviços afetados e todo mundo prejudicado. A frase de Descartes, modificada, vem a calhar: penso, logo aumento. É pagar ou largar. Vai passar?

Amanhã é que se saberá.

 

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