Votar em pessoas ou em partidos?

Votar em pessoas ou em partidos?

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      Emmanuel Macron surgiu quase do nada e ganhou, aos 39 anos de idade, a eleição presidencial francesa enterrando elefantes. Para isso, fundou um partido, “Em Marcha”, que até ontem não existia. Neste domingo, confirmou a maior vitória eleitoral legislativa das últimas décadas na Europa. Obteve 350 cadeiras, sobre 577, no parlamento. Pulverizou mastodontes como o Partido Socialista, que caiu de 284 deputados para 29. O que isso indica? O óbvio: cada vez mais se vota em pessoas e não em partidos. Qual é o problema? Por que se deveria privilegiar essas estruturas do século XIX em detrimento de homens e mulheres de carne e osso? Quem realmente, salvo militantes, confia no PMDB, no PT e no PSDB mais do que em algumas pessoas desses partidos? 57,4% dos eleitores franceses não foram votar. A renovação do parlamento chegou a 75%. São 224 mulheres na Assembleia Nacional.

O Brasil estuda mais uma reforma eleitoral. É só jogo de cena. Caciques partidários defendem voto em lista fechada. É assalto à mão armada ao direito de cada cidadão de escolher um nome e recusar os demais. Afirma-se que hoje, no sistema proporcional e com as coligações, o eleitor vota num candidato de esquerda e elege um de direita ou vice-versa. Acontece mesmo. A solução é simples: acabar com as coligações nas proporcionais. Ou optar pelo voto distrital. Elege-se quem fizer mais votos num distrito. Corre-se o risco de uma distorção e de eliminar as minorias do parlamento? Não há sistema perfeito.

Em todos sempre se perde alguma coisa.

As minorias podem trabalhar para virar maioria em alguma circunscrição. É a democracia.

Nada pode ser pior do que votar num e eleger outro ou ver o mais votado ser superado pelo menos votado graças ao sistema de cesta eleitoral baseado em quociente partidário. Partido é uma sinalização de que as pessoas nele reunidas comungam de certas ideias. Uma verdadeira democracia precisa aceitar candidaturas avulsas. O marxismo inventou o partido sem parte, o partido único acima do eleitor e do Estado. O capitalismo adapta-se até a ditaduras se for rentável. Os eleitores do século XXI indicam cada vez mais que gostam de pessoas com ideias votando numa mesma eleição em vários partidos. Podem se enganar, ser enganados, errar. Tem sido assim com os partidos. Entregar aos partidos brasileiros mais poder no momento em que eles apodrecem ao ar livre é uma ideia absurda. Uma ideia deles, evidente.

Lista fechada no Brasil significa eleger para sempre Romero Jucá, Renan Calheiros e até, certamente entusiasmados com uma nova regra do jogo tão generosa com o caciquismo, Carlos Lupi, Rui Falcão e todos os burocratas ou controladores de siglas. A Alemanha tem voto distrital misto. Inglaterra e França praticam o distrital. Todos se queixam um pouco. Onde está pior? Lá ou aqui? A lista fechada dispensa o eleitor de comparar nomes, de estudar biografias, de conhecer pessoas. Basta confiar na pizza entregue por seu partido. Macron faz pensar em Collor. Foi horrível. Os grandes partidos brasileiros posteriores não se comportaram muito melhor. Há petistas, claro, que se consideram vítimas de uma conspiração. Já o deputado Alceu Moreira acha que a conspiração é contra o reformista Michel Temer. Que coisa!

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