Watergate tropical

Watergate tropical

Conversas de Moro e Dallagnol desacreditam o sistema

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O site The Intercept Brasil foi criado pelo jornalista norte-americanos Glenn Greenwald. Ele já ganhou o prêmio Pulitzer – o Nobel do jornalismo – por ter divulgado em 2013 a montanha de dados obtidos pelo ex-agente da CIA Edward Snowden sobre grampos ilegais praticados pelos Estados Unidos atingindo cidadãos de todo tipo. Foi um terremoto na escala máxima. Agora, o jornalista recebeu o material extraído de grupos de discussão de membros da Lava-Jato e do então juiz pretensamente imparcial Sérgio Moro. Segundo Greenwald, o filão é ainda mais rico. Ele resume sem pressa e com a confiança de quem tem bala na agulha: "Moro era um chefe da força-tarefa, que criou estratégias para botar Lula e outras pessoas na prisão, se comportando quase como um procurador, não como juiz”.

Os diálogos travados em aplicativos por Deltan Dallognol, Sérgio Moro e outros mostram que juiz e procuradores agiram em parceria, em conluio. O material é ótimo para uma boa análise de discurso. Em 9 de setembro de 2016, Dallagnol, no aplicativo Telegram, num grupo sugestivamente chamado "Incendiários ROJ”, abriu o coração: "Falarão que estamos acusando com base em notícia de jornal e indícios frágeis? Então é um item que é bom que esteja bem amarrado. Fora esse item, até agora tenho receio da ligação entre Petrobras e o enriquecimento, e depois que me falaram tô com receio da história do apto. São pontos em que temos que ter as respostas ajustadas e na ponta da língua"”. Nem provas cabais nem convicção?

Em 21 de fevereiro de 2016, Moro orientou Dallagnol a inverter a ordem duas operações da Lava Jato. A Constituição Federal prevê que juiz e Ministério Público, o acusador, não podem atuar em conluio. A defesa não teve a mesma facilidade. Dizer que isso é normal tem nome: fazer o cidadão de bobo. Anteontem, em entrevista ao Esfera Pública, na Rádio Guaíba, o ministro do Supremo Tribunal Federal Marco Aurélio Mello disse que o Brasil vive tempos estranhos e triste. Afirmou também que qualquer conversa fora dos autos é inadequada e que Moro ficou sob suspeição, o que pode prejudicar sua pretensão ao STF. Moro diz que não vê nada demais nas conversas reveladas. No Congresso Nacional, fala-se em CPI. Dallagnol tornou-se objeto de representação no Conselho Nacional do Ministério Público.
      Num momento missionário, Sérgio Moro escreveu ao parceiro Deltan: “Fiz uma manifestação oficial. Parabéns a todos nós. Ainda desconfio muito de nossa capacidade institucional de limpar o Congresso. O melhor seria o Congresso se auto limpar mas isso não está no horizonte. Eu não sei se o STF tem força suficiente para processar e condenar tantos e tão poderosos”. Era o Moro fazendo política. O site do jornal Folha de S. Paulo repercutiu amplamente as informações do Intercept. Já os do Estado de São Paulo e de O Globo no começo não deram muita bola. Por que mesmo? Por inveja, ideologia ou estratégia? A mídia internacional não faltou ao encontro. Le Monde foi direto: “E se o maior escândalo da história do país tiver sido manipulado?” Em texto que se tornou o mais lido do dia, Le Monde destaca que se ficou sabendo que “mesmo os procuradores tinham sérias dúvidas sobre a existência de provas da culpabilidade de Lula”. A imprensa de língua inglesa também se interessou pelo assunto. The Intercept garante que tem muito mais. Não há tédio neste Brasil tropical. Mas há muita hipocrosia, parcialidade e seletividade.

Sairá hoje a nova leva do Intercept?

As tropas da Lava Jato adotaram uma estratégia: tentar dizer que os arquivos foram editados. Muitas coisas estão provadas:

1) Que o próprio MP duvidada das suas provas contra Lula.

2) Que MP e juiz Moro trabalharam de mãos dadas para condenar.

3) Que procuradores, conforme se lê nos diálogos, tinham forte viés antipetistas e queriam ajudar a evitar a volta do PT ao poder.

4) Que fizeram politicagem.

5) Que Moro orientou o MP, ofereceu testemunha, cobrou mais operações, deu conselhos, puxou orelha, comemorou com a sua galera e combinou com Dallagnol a liberação do grampo ilícito que ajudou a derrubar Dilma Rousseff.

6) Que Morou não foi imparcial.

7) Que Moro está em contradição: antes, não queria saber de origem de material, mas só do seu conteúdo. Agora, inverte. Uma coisa é o Estado cometer ilegalidades para condenar. Outra, o acusado obter provadas ilegais para se inocentar.

8) The Intercept está fazendo o jornalismo que a midia convencional abandonou.

9) Moro, como diz o jurista Miguel Reale Jr, deixou de ser mito.

10) Vem mais por aí.

     

 

 

 


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