O humor para a vida

O humor para a vida

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"Ele me disse que não estava preparado para a vida, porque carecia de sentido do humor"

Jerome David Salinger, autor de O Apanhador no Campo de Centeio.

 



Por Luiz Gonzaga Lopes

 

Nesta semana, Porto Alegre recebe com risadas e também com um olhar compenetrado a visita de um novo livro. "Humor é Coisa Séria", de Abrão Slavutzky (Arquipélago Editorial) é o resultado de três décadas de estudos do médico e psicanalista porto-alegrense e para tanto deve ser levado muito a sério. O poder do humor está em questão nesta obra que tem lançamento nesta terça-feira, dia 25 de março, às 19h, na Livraria Cultura do Bourbon Country (Tulio de Rose, 80, 2º andar), com sessão de autógrafos e debate com o autor, a escritora Cintia Moscovich e o psicanalista Mario Corso.

 

Com esta obra, o psicanalista constrói uma história cultural do humor. No prefácio de Renato Mezan está a chave da leitura desta obra: "Para fundamentar sua tese, Abrão nos convida a uma tripla viagem: pela história da cultura, pelas condições que favorecem a eclosão do humor ou a ela se opõem e pela intimidade do consultório de um analista". Slavutzky discorre sobre o humor diante da iminência da morte, na sua relação com o inconsciente, no Holocausto, a sabedoria de Dom Quixote, o sexo e o nascimento e o desenvolvimento do humor infantil.

 

Na parte II, intitulada Piada, Sexo e Morte, o primeiro capítulo é sobre "O Dia em que Conquistei Minha Analista", de nome Fanny, no qual o humor teve participação decisiva e se criou um laço forte, por ser a primeira pessoa a quem ele devotou segredos no divã de couro preto em Buenos Aires, em pleno 1972, quando ele foi fazer a sua formação em psicanálise. As referências de grandes autores que usaram o humor como aliados essenciais está na parte III, Humor é Rebelde: "O humor, sendo rebelde, desafia o autoritarismo e assim diminui o medo". No capítulo Dom Quixote Vive, o psicanalista considera que a leitura de Dom Quixote de La Mancha, de Cervantes, é "uma diversão garantida, repleta de piadas e situações engraçadas. Se não desfrutamos mais desse humor fundado na paródia, talvez seja porque as fábulas cavalheirescas nos sejam estranhas".

 

O humor aliviando o desamparo, a visão do humor com Chaplin, o Vagabundo, que o autor conheceu nos cinemas do bairro Bom Fim, que era o herói dos desvalidos e um humorista com "sensibilidade social" e outros gênios do humor como Woody Allen e Buster Keaton e personagens que eram trágicos mas que se tinham no humor uma das principais ferramentas de comunicação com o público e de avançar na trama, como o Hamlet, de Shakespeare, ou ainda o Analista de Bagé e a Velhinha de Taubaté, de Luis Fernando Verissimo. O autor faz um tratado, mas também se desnuda ao falar do seu próprio processo psicanalítico, como analisado e analista, a passagem pelo célebre consultório de Cyro Martins e a troca com os pacientes. Rir é o melhor remédio e ler o livro de Slavutzsky pode ser o lenitivo necessário para entender porque estamos sempre buscando no humor a defesa para o vale de lágrimas que pode ser a vida, como diria Camilo José Cela.

 

Sobre Abrão Slavutzky:

Abrão Slavutzky nasceu em Porto Alegre, em 1947. É médico pela Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre e psicanalista com formação em Buenos Aires (1972-1979). Escreveu Psicanálise e cultura (1983), Para início de conversa (1990), com Cyro Martins, e Quem pensas tu que eu sou (2009). Foi organizador de A paixão de ser: depoimentos e ensaios sobre a identidade judaica (1998) e coorganizador, com Daniel Kupermann, de Seria trágico... se não fosse cômico (2005), entre outros.

 

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