Órfãos da Feira do Livro

Órfãos da Feira do Livro

Com a Feira do Livro em formato virtual, frequentadores que não utilizam a internet lamentam por não poderem acompanhar o tradicional evento

"O bom do livro é poder pegá-lo, sentir o cheiro e marcar as partes favoritas no decorrer da leitura", diz a professora aposenta

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Todos os anos, em meados de outubro, a capital gaúcha recebe a Feira do Livro. Nesta edição, com a pandemia da Covid-19, as atividades ocorrem em formato virtual. Mas, o uso da internet e smartphones, para algumas pessoas - principalmente os idosos -, é algo desafiador e a maioria que não tem familiaridade com estes meios acaba recorrendo aos mais novos para aprender ou deixando o aparelho de lado. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 97% dos brasileiros acessam a internet pelo celular e apenas 18% são idosos a partir dos 50 anos.

Milhares de admiradores e frequentadores passavam pela Praça da Alfândega, no Centro Histórico de Porto Alegre, como é o caso da professora aposentada Cleusa Soares. A simpática moradora do bairro Partenon tem 71 anos e é leitora assídua desde criança -  hábito incentivado pelos pais na infância. 

Nesta edição, Cleusa lamenta por não participar do evento, como muitos idosos, ela teve dificuldades para lidar com o mundo digital e não se adaptou com os celulares mais modernos: “Participo da Feira desde criança. Este ano não vou acompanhar, infelizmente! Tenho computador e celular com internet em casa, já tentaram me ensinar a usar, não deu certo. E agora na pandemia não tem quem me ajude a mexer -  quase ninguém entra aqui em casa”, explica a aposentada, que também tem problemas de visão, algo que atrapalha a ficar exposta ao brilho da tela de aparelhos eletrônicos e de computadores por determinado tempo.

“A Feira do Livro é uma recordação da minha infância e da minha mãe”

A professora aposentada conta que faz tudo lendo e que não gosta de ler virtualmente - para ela o bom do livro é poder pegá-lo, sentir o cheiro e marcar suas partes favoritas no decorrer da leitura. Com a voz embargada pela emoção, Cleusa explica os motivos de apreciar tanto a ida à tradicional praça: “A Feira do Livro é uma recordação da minha infância e da minha mãe. São lembranças boas de nós duas no evento, escolhendo os livros”.  Sobre as expectativas para a próxima feira física, Cleusa é direta: “Com certeza estarei lá! Se aqui eu estiver, a Feira do Livro que me aguarde! ”. 

Sentimento de tristeza

Para outra residente do bairro Partenon, Carmen Oliveira, de 73 anos, o sentimento de não ir à Feira este ano é de tristeza: “Sempre frequentei o evento, até quando era na avenida Mauá. Fico triste de não participar, mas não tenho internet em casa e nem quem me ensine a mexer nessas coisas”, lamenta.

Tyane Leal / UniRitter


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