Brincando com palavras: o espaço jovem na Feira do Livro de Porto Alegre

Brincando com palavras: o espaço jovem na Feira do Livro de Porto Alegre

Estudante de Jornalismo fala sobre sua relação com a literatura ao escrever sobre evento voltado para crianças e jovens

Correio do Povo

Professor Marcelo Spalding publicou seu primeiro livro com 17 anos

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*Daiana Dal Ros (8º semestre Unijuí)

Feiras de livros são momentos mágicos na vida de crianças e adolescentes. Percorrer corredores e mais corredores, repletos de novas obras a serem descobertas, é um sonho para aqueles que fazem do mundo das palavras a sua realidade. Imagine então para quem escreve suas próprias histórias e pode torná-las públicas em um dos maiores eventos literários da América Latina. Em 17 de novembro de 2008, aos 10 anos, vivi a experiência de participar da Feira do Livro de Porto Alegre como escritora mirim, com a obra “Imaginando a Primavera”.

Em 65 edições, inúmeros jovens escritores autografaram na Feira, mostrando seu trabalho e buscando a inserção no mercado editorial. Um deles é Marcelo Spalding. Premiado em diversos concursos literários, ele teve atuação destacada na área desde a infância. Em 2000, então com 17 anos, publicou a novela “Conto de uma estrela”. Hoje formado em Jornalismo e em Letras e professor universitário, atribui o sucesso nos estudos ao fato de ter escrito desde a infância. “É fundamental que se incentive os jovens a escrever. Não sei se devem publicar livros, mas que os professores incentivem a escrita criativa."

“Hoje, me parece que há pessoas publicando livros muito cedo, porque está muito fácil. Mas talvez não teve uma boa edição, uma revisão, não é um livro pronto. Por que não começar na internet, criar um público primeiro?”, indaga Spalding. Ele afirma também que a pressão do mercado sobre as crianças pode acabar afastando-as do prazer pela escrita. Ao pensar em alternativas para esta questão, idealizou a Editora Metamorfose, através da qual promove, na web, oficinas de criação, além de um curso presencial de formação de escritores.

Iniciar na internet também é o conselho de Paloma Rodrigues, 32 anos. Ela, que escreve desde os nove anos, mas tirou as produções da gaveta em 2018, já é autora de duas obras: “Talvez, no fim” e “É recém segunda e já quero morrer”. Paloma já participou de diversas feiras de livros, em cidades como Pelotas e Antônio Prado, superando o medo de falar em público e conquistando oportunidades.

“O mercado editorial é bem fechado, mas existem editoras pequenas que podem ser um caminho para quem quer ter o livro impresso. Além disso, a internet também facilita. Hoje em dia, qualquer um pode publicar um livro, usando plataformas como o Kindle ou sites como o Wattpad”. A Associação Gaúcha de Escritores Independentes (Agei) é uma grande aliada para novos autores no Estado. Foi junto à entidade que Paloma encontrou a chance de participar da Feira do Livro de Porto Alegre.

A Agei acolheu também Francisco e João Gabriel Weiler de Jesus, de 12 e 14 anos. Com “A poesia de dois irmãos”, os jovens escritores fizeram sua estreia na Feira, sob o aplauso e o apoio incansável da família. Francisco relata as mudanças que já percebe em sua rotina, após o término da obra. Para ele, a melhoria no desempenho escolar é visível, em especial, nas disciplinas de Língua Portuguesa e Produção Textual.

Francisco se diz contente em poder inspirar outras crianças que sonham em ingressar na literatura. “Me sinto bem em saber que divulgo meus pensamentos e opiniões”, ressalta. Ele tem apenas 12 anos, mas já sonha alto: quer cursar Direito na Universidade de Coimbra, em Portugal. O objetivo, porém, é continuar escrevendo. “Pretendo levar a escrita para todo o lugar que eu for, pois é um ótimo meio de expressão”.

Assim como fizeram Spalding e Paloma e também pretende fazer Francisco, eu, Daiana, segui por outros caminhos, fazendo uma opção profissional à qual uni o amor pela literatura. Certamente, eu e meus entrevistados compartilhamos do mesmo sentimento de gratidão pelas marcas que a Feira do Livro de Porto Alegre trouxe às nossas vidas. Oportunizar, por meio da escrita, um lugar de fala ao jovem, é fortalecer sua identidade como protagonista social, formando cidadãos que deixarão uma contribuição positiva no mundo por meio das palavras. 


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