Feira dá voz às pessoas em situação de cárcere

Feira dá voz às pessoas em situação de cárcere

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Durante o cárcere, detentos acham nos livros e na escrita um conforto para enfrentar esse momento de suas vidas. Pensando nisso, a Secretaria Estadual de Segurança Pública (Susepe) em parceria com o Banco de Livros e a UniRitter, deram início ao projeto Vozes de Um Tempo, livro que teve sua terceira edição lançada nesta quinta-feira na Feira do Livro de Porto Alegre. O evento contou com a presença dos organizadores e quatro autores. Projetos como esses são umas das propostas incentivadas pela Susepe para ressocializar pessoas privadas de liberdade.

“Nós precisamos pensar em não só encarcerar essas pessoas mas em buscar ações de tratamento penal”, afirma Ana Dreher, Coordenadora do setor de Educação Prisional da Susepe. Ana é Assistente Social e promove ações como o “Passaporte para o Futuro”. O projeto educacional tem o objetivo de estimular a leitura e a alfabetização dentro das casas prisionais. Simone Schroeder, uma das organizadoras do projeto e professora de Direito, acredita que a escrita é uma forma de empoderar essas pessoas.“Fazer um trabalho desses é resistência, é abnegação e é comprometimento com o ser humano”, destaca a professora que trabalha há 15 anos no Presídio Feminino Madre Pelletier.

Theo Gomes é autor de um dos 122 textos publicados no livro. Ele é um homem trans e por isso cumpriu pena de 16 anos no presídio feminino de Porto Alegre. Desde antes de ser preso já adorava escrever e nesses anos detido aprimorou ainda mais essa habilidade, mas mesmo tendo essa intimidade com o texto ficou surpreso em saber que participaria do livro. “Eu não esperava que fosse se tornar um livro, até porque a gente escreve mais pra desabafar”, conta o ex-detento.

Porém, algumas dificuldades podem estar pondo em risco a continuidade dessas iniciativas. No último ano muitos agentes penitenciários se aposentaram, diminuindo o número de servidores disponíveis para fazer o deslocamentos de detentos. Conforme Ana, isso dificulta a realização das atividades. “Se não dá dois dias por semana então a gente troca pra um mas não tem sido um impeditivo”, pondera a coordenadora.

Dar voz às pessoas que cuprem pena de reclusão é importante. Ana Dreher conta que a integração oportunizada pelos projetos tem trazido esperanças aos detentos. “Hoje, diferente do que era há uns quatro anos, eles já pensam também em frequentar uma universidade. Ta mudando esse pensamento da própria pessoa, ela percebeu que ela pode mudar”, afirma. Os participantes das atividades se sentem estimulados a voltar aos estudos. Muitos dos escritores do livro acabam fazendo o Encceja e o Enem para pessoas privadas de liberdade.

Theo acredita que o projeto é uma oportunidade de recomeço. “Poder ver que eu realmente posso ter uma segunda oportunidade, que é o que eu to tendo hoje longe de tudo que o sistema significou pra mim”, destaca emocionado. Hoje ele vê a oportunidade de ter participado do livro como uma vantagem e segue a vida confiando que momentos ainda melhores estão por vir.

Texto: Helena Ribeiro e Lúcia Haggstrom/Uniritter


Foto: Helena Ribeiro/Uniritter


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