Esperança

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Esperança

A primeira coluna de cada ano é um desafio gigante que o leitor mal imagina. Precisamos começar com alguma mensagem positiva. Tipo jogador substituto que, no meio de uma partida importante do campeonato, chega a dar uns pulinhos para garantir que entrará com o pé direito em campo. Superstição, talvez. “Chamar boas energias”, justificará alguém, adepto dessas teorias sobre lei da atração etc. Então, mesmo que seja a coluna da página policial, onde a fragilidade da vida fica demasiadamente exposta ante as incredulidades da violência, é preciso encontrar algo bom para dizer. Difícil. Mas o autor que se vire. No meu primeiro Ano Novo aqui, em 2011, decidi alertar sobre os perigos do excesso de velocidade e do descaso com as regras neste período de férias. Ano passado, eu temia um conflito universal entre EUA e Irã, que matasse muitos inocentes. A guerra não veio, mas as mortes vieram da maneira mais inesperada possível. E estamos aí. Meio com medo ainda. Mas com esperança.

Pensei se deveria abordar dois crimes que chocaram o país nos últimos dias. Dois feminicídios nos quais, ao que tudo indica, não bastou a violência do ato, foi necessária a exposição macabra, a extensão da dor aos que amavam as vítimas. O assassinato da juíza, no Rio de Janeiro, esfaqueada brutalmente na frente das filhas, em plena luz do dia, e a morte de uma jovem na frente de seus familiares, na noite de Natal, apenas reforçam tudo aquilo que já dissemos aqui. Tudo aquilo que o livro “Mulheres Empilhadas”, de Patrícia Melo, aborda com maestria e crueza. E nos deixa tão decepcionados, tão frustrados, tão abalados na nossa fé que, sinceramente, é melhor exercitarmos essa reflexão sozinhos. Cansa bater na mesma tecla. Cansa repetir sobre a necessidade de uma nova onda de educação e cultura, mais permeada de amor, respeito e menos de posse e consumo. Não parece que nossa sociedade esteja muito disposta a mudar resultados. Basta acompanhar o noticiário.
 
Prefiro falar sobre a vitória da vida. Da esperança e do amanhã. No final de novembro, policiais militares do 3º RPMon, em Passo Fundo, salvaram um bebê de apenas sete dias, engasgado com leite materno. Faltando uma semana para o Natal, desta vez em Três Passos, PMs do 7º BPM salvaram um bebê engasgado, com apenas três semanas de vida. Esta semana, foi no Distrito Federal que policiais em serviço salvaram um bebê. Pesquisei salvamentos semelhantes e vi que eles ocorrem a todo momento no país. Só os policiais rodoviários de Encantado salvaram dois bebês em 2020. É isto. A vida que vence, que prossegue, que mostra que dá para acreditar em coisas boas. E cada novo ano traz a esperança de um resgate do nosso melhor. De que sejamos salvos. Ainda que, volta e meia, engasgados de más notícias.


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