O menino do Rio

O menino do Rio

Oscar Bessi

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Um grande mistério cerca a morte do menino Henry, no Rio de Janeiro. A criança, de apenas 4 anos, morreu, ou foi morta, na madrugada de 8 de março, uma segunda-feira, ao retornar para a casa da mãe e do padrasto. Tinha passado o final de semana com o pai. Um final de semana feliz, pelo que apontam os registros. De brincadeiras e alegrias. Triste mesmo era voltar para a casa. Pelo menos é o que a própria mãe diz ao ex-marido e pai do garoto, nas mensagens trocadas por celular. A imagem que se vê, na noite da morte, mostra uma criança no colo da mãe, como quem quer carinho ou proteção. Numa atitude clara de quem busca acolhimento. O que acontece depois, durante a madrugada, e culmina na tragédia que ceifa a vida de um pequeno anjo, bem, aí só quem viveu saberia dizer. E se há mentira ou verdade no que conta o casal que o levou já sem vida ao Hospital Barra D’Or, só uma detalhada investigação policial poderá revelar.
No imaginário popular, a história não se ajusta e carrega consigo desconfianças extremas. Afinal, temos uma natural desconfiança em casos que envolvam padrastos e madrastas. Uma cultura que já vem das fábulas infantis que carregavam valores de outrora. Mas, ainda temos esses conceitos e preconceitos no subconsciente. E também temos, principalmente nós brasileiros, um pé atrás com políticos, como se todos eles fossem iguais, e não é uma verdade, nenhuma afirmação absoluta é verdadeira e os seres humanos, todos, são múltiplos, portanto rotular é um grave erro. Então queremos condenar de cara o que nos parece mais lógico e fácil. Vamos admitir, porém, que os fatos não favorecem muito ao casal, mãe e padrasto, neste caso. Ainda mais quando a defesa deles apresenta manobras para adiar a reconstituição do crime, o que foi negado pela Justiça, e o casal não comparece, alegando depressão. Nosso desconfiômetro liga. Mas é a Polícia quem investigará e nos mostrará a verdade. E a Justiça decidirá sobre responsabilidade e punição. Nós apenas torceremos.
No Brasil, mais de duzentas agressões a crianças são notificadas por dia, a maioria no ambiente familiar. De padrastos ou madrastas, mas muitas de pais e mães biológicos. Parentes. Amigos. Milhares de mortes, milhares de abusos sexuais. Henry, infelizmente, é apenas um caso que ganhou destaque entre tantos que ocorrem. E alguns são esclarecidos, outros não. Alguns são acobertados, outros (não a maioria), denunciados. Não é fácil ser criança neste país. Não é fácil ter uma criança e cuidar dela como ela precisa e merece. Amar com capacidade de renúncia e jamais abandonar. O que mais me incomoda, e dá um nó na garganta, é ouvir a voz feliz de Henry chamando pelo pai, nas gravações. Era um menino que só queria amor. E que talvez tenha sido levado pelo ódio ou pela tristeza. 


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