Disputa Rio x São Paulo é favorável a planos da Liberty para cobrar mais por GP do Brasil

Disputa Rio x São Paulo é favorável a planos da Liberty para cobrar mais por GP do Brasil

Chefão da F1, Chase Carey quer terminar com vantagens contratuais históricas da corrida em Interlagos

Bernardo Bercht

Manda-chuva da F1 atua em duas frentes por acordo favorável à Liberty

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A "disputa" entre Rio de Janeiro e São Paulo para sediar o GP do Brasil tem contornos políticos dentro da própria Fórmula 1. Apesar dos discursos "amigáveis" da Liberty e seu chefão Chase Carey, o surgimento do projeto de GP do Brasil no Rio de Janeiro joga muito a favor de um desejo da corporação desde que adquiriu a Fórmula 1: aumentar os pagamentos realizados pela prova, atualmente em Interlagos.

Desde 2017 Carey tem torcido o nariz (o bigode já é torcido) para o contrato feito por Bernie Eccleston com a pista de São Paulo. Num relatório divulgado pela Forbes, ele apontava que a categoria teve um prejuízo de R$ 50 milhões no balancete de 2018, em grande parte por conta de como foi definido o acordo com o GP do Brasil.

"Um acerto por legado com Interlagos, que permitiu uma redução substancial na taxa de promoção foi ativado em 2016 e seguirá até 2020", explicou Carey. Existe uma opção de renovação com a capital paulista, por mais cinco anos, e a Liberty estaria fazendo força para que um novo escalonamento para baixo não faça parte desse acerto.

Neste cenário, a promoção pelo próprio presidente da República, Jair Bolsonaro, de um projeto de centenas de milhões - com a pista de Deodoro - no Rio de Janeiro, é uma carta na manga para Carey pressionar a organização de um eventual GP brasileiro por mais grana. A situação começa a ser análoga a um leilão.

No início de maio, Bolsonaro anunciou o termo de compromisso para construir a pista e transferir a corrida de Interlagos para o Rio. A projeção inicial foi de realizar a etapa já em 2020, mas após conversar com Carey, foi postergada a data para 2021.

O presidente garantiu que a construção seria realizada com "100% de capital privado" pela empresa Rio Motorsports, que venceu licitação na qual só ela apresentou proposta. O capital social da empresa, conforme registro na Junta Comercial do Rio de Janeiro, é de R$ 100 mil, enquanto a obra inteira foi orçada em R$ 697 milhões. Não foi esclarecido como a companhia levantaria um montante tão elevado de recursos.

Em comunicados oficiais, a prefeitura do Rio de Janeiro enfatizou a regularidade do processo licitatório e das garantias financeiras apresentadas pela Rio Motorsports. Além disso, divulgou peça publicitária que, curiosamente, mostra o mapa da pista de Monza, na Itália, ao invés do traçado já divulgado para o eventual autódromo carioca.

A questão é que, independentemente da pista em Deodoro sair ou não do papel, o aumento da "demanda" por um GP no Brasil dá argumentos para a Liberty concluir sua meta: barganhar por mais dinheiro com Interlagos.

A alta soma envolvida se explica pela atual condição do terreno disponibilizado para erguer o complexo automobilístico. Antiga área de propriedade militar, o terreno em Deodoro não dispõe de qualquer infraestrutura pré-estabelecida - saneamento, rotas de veículos de grande capacidade etc - e abriga a Floresta de Camboatá, área de preservação de Mata Atlântica.


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