Sobre Hamilton, Interlagos e a Eternidade!

Quando comecei a acompanhar os preparativos para a temporada 2021 da F-1 pensei que, enfim, o domínio da Mercedes poderia estar com os dias contados. Nada contra a equipe alemã, pela qual eu correria numa boa se fosse piloto e eles me chamassem para um de seus cockpits. Na real, estava cansado era do domínio amplo do carro 44, pilotado pelo maior de todos, Lewis Hamilton. O cara é fora de série, está numa equipe de ponta e, no auge da forma, não costuma dar muitas chances para os adversários sonharem. Percebi, sim, que estava “cansado” disso! Para mim, a F-1 precisava de um novo campeão, fosse ele quem fosse, só precisaria ganhar o campeonato pela primeira vez e interromper a série de títulos de Hamilton...

Em 2021, despontou no horizonte um piloto holandês de sobrenome um tanto conhecido, mas sem grande relevância para a categoria... Dessa vez, o tal sobrenome se revelava como uma real ameaça ao looooongo domínio de Hamilton. Aliás, Max Verstappen protagoniza um daqueles curiosos casos em que o filho é mais piloto do que o pai (com todo respeito, Jos, até você sabe disso!). Um jovem que estreou anos atrás, um tanto insolente, como os jovens usualmente são (nem adianta fazer cara feia, você e eu fomos assim, um mais do que o outro, ok!, mas não faça essa cara aí). Arrojado, o cara da Red Bull 33 amadureceu, ou melhor, deu sinais de que estava mais preparado para o embate com o rival do carro 44, o verdadeiro rei do pedaço! Assim, tenho passado o ano a torcer para o touro vermelho criar asas e levar o carro 33 ao título, maaaaaaaaas, dessa vez, em Interlagos, o que você e eu vimos foi algo que beirou o sobrenatural.

Lewis Hamilton, aquele que dinamitou os recordes de Michael Schumacher (que já pareciam de outro planeta), mostrou para todos e, em especial, para nós, brasileiros, que definitivamente não é desse mundo. Ele pertence a outro universo, está em outra frequência. O cara simplesmente veio de outra galáxia!  Só assim para entender um pouco o que ele fez em São Paulo. Sei que muitos viram a cara quando se fala de Hamilton, repetindo-se em ladainhas do tipo: “ah, ele tem o melhor carro, é obrigação fazer o que fez...” Para esses juízes implacáveis das vidas alheias só argumento uma coisa: há outra Mercedes na pista e o cara que está lá não faz nem fez nada parecido... Não é só a força de um carro! Afaste seus preconceitos e más vontades com o (ainda) heptacampeão e apenas reconheça: Hamilton fez história!

No sábado, na corrida Sprint, ele largou da vigésima e última posição, após cumprir punição por uma irregularidade na asa traseira, e passou 15 adversários em 22 voltas. Releia a frase anterior, por favor. Quinze adversários numa corrida de 22 voltas. No domingo, cumprindo outra penalização, agora por ter trocado elementos do motor, ele partiu da posição 10. Novo show! Saiu dali para uma vitória MAIÚSCULA, épica!

O que se viu em Interlagos no dia 14 de novembro de 2021 foi uma atuação de gala do maior nome que a categoria já viu. Como fã de automobilismo, senti-me brindado com a performance e entrega de Hamilton. Um campeão com mais de 100 vitórias na carreira, mas com a sede de título de quem busca o primeiro troféu mundial, assim como o desafiante Max Verstappen sonha! O feito de Hamilton em São Paulo é daqueles que a gente vê, revê e olha mais uma vez. Quem esteve presencialmente no circuito terá boas histórias para contar aos netos num futuro em que Hamilton será nome de avenida, viaduto e, quem sabe, até de equipe da F-1.

Há corridas que são eternas e graças a Lewis Hamilton o GP de São Paulo de 2021 foi elevado a essa condição. Se o britânico vai conseguir reverter a vantagem do rival e ser mais uma vez campeão só o tempo dirá, mas o fato é que, só pelo que fez, Hamilton merece o título também. Em suma, já não torço pelo fim de seu reinado pois é impossível torcer contra um cara assim!