Depois que começa não para

Depois que começa não para

Atriz e produtora Fernanda Petit analisa o show de Luísa Sonza, realizado sábado passado na capital gaúcha

Fernanda Petit *

"A menina da pequena Tuparendi tem um talento enorme, cheia de graça, sem ser nada forçado"

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Depois que começa não para. Essa é uma boa frase pra definir o que foi a noite de sábado, 16, no Pepsi on Stage, no show da diva pop Luísa Sonza. Esse mulherão canceriano completou 24 anos no dia 18 e como visionária lançou o clipe “Cachorrinhas” nesta data nas plataformas. A música não foi revelada aos conterrâneos no Pepsi, mas ela fez um show pra ninguém botar nenhum defeito. Começa e você não quer que pare. Desde que você chega, é uma maravilha ver como o público se veste mesmo com o tempo frio e chuvoso. Todos com muita transparência, casais jovens, mulheres e muitos do público LGBTQIA+ totalmente à vontade em looks brilhantes, curtos e empoderados. Aqui podemos ver a influência de Luísa que abraça a todos e nos permite sermos o que quiser.

Sonza vem munida pelo que há de melhor no “Baile da Braba”, com iluminação caprichada; instrumentistas qualificados (destaque à baterista Rayani Martins). A menina dos olhos são os bailarinos. Fantásticos, sedutores, tecnicamente impecáveis, bonitos e carismáticos. No entrosamento você percebe o quanto ela valoriza os bailarinos e a arte da dança. As coreografias de Flávio Verne são viciantes, divertidas e você fica parado com os hipnotizantes passos do jazz funk. Virou febre ver em looping o vídeo de Amanda Araújo dançando “Escolhe o bandido”. Ao vivo é uma delícia, um delírio e mostra o porquê Amanda merece ser a assistente de coreografia da equipe de Sonza.

Me perguntaram se Luísa segura o show sozinha. Nasceu pra isso. O que entrega em estúdio é o mesmo ou até melhor, pois brinca e ousa mais. Afinada e mega competente, você percebe em cada passo que ela batalhou duro pra chegar até ali. Desde os 7 anos “a braba” sonha com o sucesso e talvez os haters duvidem que uma mulher jovem e sem paciência pra ser didática aos burros seja no momento a top 1, rica e bem-sucedida. 


Quando o telão abre e vem “Interesseira”, recado dado: mulher destemida que aprendeu a lidar com críticas. A menina da pequena Tuparendi tem um talento enorme, cheia de graça, sem forçar, ganhando milhões de fãs e grana. Presenciar o show é tipo fazer parte da sua festa de aniversário. Ela gosta de festa, de ser lembrada e de se mostrar. Empoderada, comanda o palco de forma confortável, apaixonada pelo que faz, carinhosa e respeitosa com o público. Você olha e vê referências: Britney Spears, Madonna e Billie Eilish, mas segue a menina vulnerável do Interior. Isso cativa. O que me aproxima de artistas são vulnerabilidades. O momento mais bonito é quando senta e canta “O conto dos 2 mundos” ao pai que está na plateia e ela cai em lágrimas.

O álbum “Doce 22” é um lado A e B, pois vemos ela sensual e frágil. No palco, a autobiografia: um sucesso atrás do outro. Impossível ficar parado. O público sabe praticamente todas as letras. Luísa acerta no set list com as parcerias: “Café da manhã” (Ludmila), “Atenção” (Pedro Sampaio), “Fugitivos” (Jão), “Anaconda” (Mariah Angeliq) e a recente “Hotel Caro” (Baco Exu do Blues). As letras são poderosas e dedo na ferida. O amor em suas músicas é uma tentativa de dizer: não deixem de ser quem são no relacionamento para se encaixarem. Ela não é apenas rebolado, bunda e pouca roupa como haters acusam. Ela trocou o figurino dos shows para algo que a deixasse mais tapada e menos insinuante. A sensualidade segue até nos fios do cabelo e voz. Se você se incomoda, está um passo atrás com alguém tão dona de si. Tenho certeza que ela ensinou a muitas mulheres que somos com “m” maiúsculo e todas têm uma braba dentro de si.

* Atriz e produtora. 


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895