O fim de uma era na Cidade Baixa

O fim de uma era na Cidade Baixa

Editor do Arte & Agenda lamenta o fechamento para reformas do Centro Comercial Nova Olaria, que durante quase três décadas foi o coração cultural do bairro

Luiz Gonzaga Lopes

Local vazio causa lembranças das mais de duas décadas e meia e as vivências culturais minhas e de grandes amigos

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O anúncio da saída do Cine Grand Café das instalações do Centro Comercial Nova Olaria e a saída da Livraria Bamboletras e do Guion Arte do centro cultural, comercial e gastronômico da Cidade Baixa representam para mim o fim de uma era. O meu envolvimento com a Cidade Baixa se deu por causa do Nova Olaria. Lá pelo ano de 1996 quando eu trabalhava na imprensa da Região Metropolitana fui entrevistar a banda Nenhum de Nós junto ao chafariz do local, ponto de encontro da intelectualidade, dos cinéfilos, literatos e dos jovens da região. Na época, ainda funcionava, vertia água. Eu já sabia da existência do Guion Cinemas, mas nunca tinha entrado. Ainda morava em São Leopoldo. A partir deste primeiro contato, coloquei na cabeça que viria morar em Porto Alegre e a Cidade Baixa seria o bairro, pois tinha o Nova Olaria com a Livraria Bamboletras, administrada pela Lu Vilella e o Guion Cinemas, que ainda tinha CDs e DVDs, além de obras de arte, tudo com o bom gosto e a curadoria do Carlos e da Aiko Schmidt, casal pela qual sempre nutri simpatia e que o tempo nos tornou amigos, com muitos bate-papos extretamente enlevantes. Com os amigos do meu cineclube, o Clube de Cinema Paradiso, vimos tantos filmes cults, europeus e também de diretores estadunidenses como foi o caso de “O Resgate de Soldado Ryan”, de Steven Spielberg, ou obras de Woody Allen. Foram tantos filmes inesquecíveis no Guion e também algumas produções agora no Grand Café desde novembro de 2021, quando fui à abertura com a sessão do premiado “Deserto Particular”, de Aly Muritiba. A Bamboletras se mudou para uma antiga igreja na Avenida Venâncio Aires e o Guion Arte fez a última mudança das suas obras de arte e objetos cinematográficos. A foto retratada nesta coluna é um ato de emoção e também de alívio de Carlos Schmidt com a sensação de dever cumprido. Por meio da nossa reportagem, descobrimos que o local será fechado para uma obra que terá a construção de torres residenciais no entorno da galeria e área onde ficava a Faculdade de Desenvolvimento do Rio Grande do Sul (Fadergs). Esperamos que daqui a uns três anos a cultura tenha espaço neste local, como teve durante mais de duas décadas e meia. 

 


Correio do Povo
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