Radiohead de volta e se chama The Smile

Radiohead de volta e se chama The Smile

Ao lado do baterista Tom Skinner, Thow Yorke e Jonny Greenwood formaram o The Smile e lançaram em 13 de maio o primeiro álbum, “A Light for Attracting Attention”.

Marcio Gomes

"A Light for Attracting Attention" foi lançado no dia 13 de maio nas plataformas pelo The Smile

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Lá se vão 15 anos desde “In Rainbows”, o último disco mais “convencional” lançado pelo Radiohead. Desde então, o vocalista, guitarrista e tecladista Thom Yorke e o guitarrista Jonny Greenwood fizeram “The King Of Limbs (2012) e “A Moon Shaped Pool (2016), onde as cordas, os samples e os loops assumiram o protagonismo e elevaram o trabalho da banda iniciado em “Kid A” e “Amnesiac” a outra dimensão. Foi preciso uma pandemia e um projeto paralelo para que os dois principais compositores do grupo resolvessem voltar um pouco no tempo, e colocassem os instrumentos mais tradicionais novamente em primeiro plano. Ao lado de um dos bateristas da banda de jazz Sons Of Kemet, Tom Skinner, Yorke e Greenwood formaram o The Smile e lançaram em 13 de maio o primeiro álbum, “A Light for Attracting Attention”.

Apesar do disco só sair agora, a primeira música do trio foi conhecida no início do ano. “You Will Never Work In Television Again” foi postada nas plataformas de streaming em janeiro, e trazia um rock vigoroso, violento, que há muito tempo não saia do universo do Radiohead. York e Greenwood não se mostravam tão agressivos provavelmente desde “Bodysnatchers”. Ou talvez desde o começo grunge de “Pablo Honey (1993)”. Mas a impressão de que The Smile seria uma volta ao rock and roll mais primal se desfaz logo na abertura do novo álbum, já que “The Same” poderia estar em qualquer um dos últimos trabalhos do Radiohead.

Porém, a batida inicial de Skinner e a guitarra funk de Greenwood em “The Opposite” já trazem o tudo de volta a terrenos mais tradicionais. O piano e o falsete de Yorke em Pana-Vision desaceleram o ritmo. A música cresce com uso de cordas e o trabalho de Greenwood como compositor de trilhas sonoras continua presente.

“The Smoke” começa com batida que dura quase 1 minuto até Yorke começar cantar “Easy, easy, It begs me while I'm sleeping….”. Meio jazzy, conta com outro integrante do Sons of Kemet, Theon Cross na tuba, além do trumpetista Byron Wallen. Se “Thin Thing” e “We Don’t Know What Tomorrow Brings” trazem o rock de volta ao primeiro plano, “A Hardryer” tem uma levada quase hipnótica até o vocal de Yorke deslizar pela canção.

Um grande acréscimo, a bateria de Skinner da versatilidade e consistência ao som do The Smile. É ela que impede a música de deslanchar demais e atingir os níveis mais progressivos e espaciais do Radiohead. Mas eles estão ali, circulando em “Speech Bubbles”, “Open The Floodgates” e “Waving The White Flag”. Já “Free In The Knowledge” é uma bela balada, que Yorke estreou em um show em outubro de 2021, em Londres.

“A Light for Attracting Attention” é um álbum em que os dois principais integrantes do Radiohead dificilmente conseguiriam fazer de outra forma, seja com a banda original ou nos projetos solos. Se a ausência de efeitos, loops e samples tiram um pouco da criatividade que caracterizou a dupla ao longo dos anos, o vocal e a guitarra soam mais cristalinos e estão mais presentes com o The Smile. Não chega a ser uma volta ao básico, mas é o mais perto disso que Yorke e Greenwood jamais chegarão juntos. É um disco energético, eclético e até divertido, quem diria? E faz valer a pena a espera até próximo álbum do Radiohead. Se é que ainda teremos mais um. 

 

 


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