Sebastião Salgado e sua imersão pela Amazônia

Sebastião Salgado e sua imersão pela Amazônia

A nova exposição do fotógrafo, que virá a Porto Alegre, é o resultado de sete anos de vivências na região amazônica

Adriana Androvandi

Sebastião Salgado

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A exposição “Amazônia”, com 194 fotografias de Sebastião Salgado, foi inaugurada no Rio de Janeiro no último dia 19. Este é o resultado da imersão, durante sete anos, do fotógrafo e sua mulher, Lélia Wanick Salgado, na região que cobre o Norte do Brasil e se estende por oito países. 
Após ser exibida em Paris, Londres, Roma e São Paulo, a mostra permanece no Museu do Amanhã até 29 de janeiro. A maior floresta tropical do planeta, traduzida pelas lentes e pela cenografia do casal Salgado, transforma-se em convite à reflexão em defesa do ecossistema.
Em entrevista coletiva via on-line, o fotógrafo garantiu que a mostra virá a Porto Alegre. “Estamos discutindo com o espaço do Santander”, revelou.
Sebastião Salgado esteve em Porto Alegre em 2014 por ocasião da abertura de sua exposição “Gênesis”. Questionado sobre como vê a relação entre o ser humano e o planeta após 8 anos daquela mostra, ele diz: “Após ‘Gênesis’, passei sete anos morando na floresta amazônica, com comunidades indígenas; elas me ajudaram a voltar para dentro da minha espécie”, analisa. O fotógrafo, que já cobriu conflitos e guerras, confessa: “Vi tanta violência na minha vida que, em determinado momento, perdi a fé na humanidade. Acreditei que a gente não merecia ter sobrevivência enquanto espécie”, contou. Mas as experiências com a natureza e os indígenas lhe trouxeram paz. 
Ao todo, foram 12 tribos visitadas. Salgado relata que para se entrar em uma comunidade é comum ser realizada uma grande discussão entre seus membros, o que pode levar de 2 a 3 dias. “Eles parlamentam muito, tanto homens como mulheres”, observa. “Estive com indígenas de recente contato com ‘o nosso lado’ e foi uma grande lição de vida”, afirma. “Vi que para projetar nosso futuro temos de conhecer o nosso passado. E a espécie humana tem uma vantagem imensa, ela está vivendo com o passado dela”, reflete. Para Salgado, a pré-história da espécie humana está dentro da floresta amazônica. “Tudo que é essencial, que é mais nobre, aquilo que minha mãe me ensinou quando eu era menino, a ideia de solidariedade, de comunidade, a bondade, estão lá”, diz ele, ressaltando ainda outros saberes. “Aprender com essas comunidades me permitiu conhecer melhor a minha, no momento histórico que estou vivendo”. 

Mostra apresenta os sons da floresta

Sebastião Salgado ressalta o trabalho da mulher, Lélia, como a curadora da exposição “Amazônia”. Ao longo da jornada, os sons da floresta estiveram entre as questões que mais impactaram a parceira do fotógrafo. “Ao projetar ‘Amazônia’, quis criar um ambiente em que o visitante se sentisse dentro da floresta, se integrasse com sua exuberante vegetação e com o cotidiano das populações locais”, comenta Lélia. Isso inspirou o fato da exposição ganhar projeções em vídeo e uma trilha sonora. 
Quem assina a trilha sonora original é o francês Jean-Michel Jarre, que a elaborou, a pedido do casal, a partir dos sons da região amazônica. A exposição apresenta dois espaços com projeções de fotografias. Uma delas mostra paisagens florestais acompanhadas pelo poema sinfônico “Erosão – Origem do Rio Amazonas”, de Heitor Villa-Lobos; a outra é sonorizada por uma peça de Rodolfo Stroeter especialmente composta.
Como parte da exposição, será realizado neste sábado um concerto no Theatro Municipal do Rio de Janeiro em memória do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Philips, assassinados no Vale do Javari no mês passado.

Confira no vídeo a entrevista completa do fotógrafo à imprensa:

 


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