No rumo do Titanic

No rumo do Titanic

Assim como o Titanic, candidaturas naufragam

Alexandre Garcia

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Num 13 de abril como hoje, há 110 anos, o Titanic seguia sua rota, rumo a Nova Iorque, orgulhoso e confiante, certo de sua supremacia sobre o mar. Estava a dois dias do choque com um iceberg. Seu poder submerso rasgou o casco de aço do presunçoso navio e o mandou para o fundo do mar. Boston está a uns 700 quilômetros a Oeste do local daquele naufrágio, e a 8 mil quilômetros de São Paulo, o maior contingente eleitoral do Brasil. Num encontro em Boston, políticos brasileiros participaram de um seminário. Com a supremacia da verdade, embaçados por suas certezas, assumiam o risco de não perceber os riscos abaixo da linha d’água.

Sergio Moro, em Washington, insistia em permanecer candidato à Presidência da República, negando expressamente que vá aceitar uma vaga para concorrer a deputado federal. A senadora Simone Tebet, em Boston, deixou claro que o seu partido, MDB, mais o PSDB e o União Brasil vão indicar um candidato único, dia 18 de maio, a ser escolhido entre ela, Doria e Luciano Bivar – excluindo expressamente Moro. Será que o ex-juiz vai ficar com a chance de disputar uma vaga na Assembleia de São Paulo? Porque no seu Paraná, ao abandonar o Podemos de Álvaro Dias e Oriovisto Guimarães, as escotilhas se fecharam. Ciro Gomes estava nos Estados Unidos também, vendo afundar seu concorrente de terceiro posto, e não quer ficar a ver navios.

A senadora pode ir vestindo o colete salva-vidas. Em Brasília, Sarney e metade da bancada de senadores do MDB jantaram ontem na casa do ex-ministro de Lula, Eunício Oliveira. Convidado especial: o próprio Lula, que levou a presidente do PT, Gleisi Hoffmann. Como num ato falho, Eunício negou a jornalistas que estivessem traindo Simone Tebet. Àquela hora, ela estava em São Paulo, com o ex-presidente Temer e o presidente do MDB, Baleia Rossi e deve ter sentido o choque com um iceberg que em Brasília rasgava o casco de sua candidatura, que começava a fazer água.

Eduardo Leite também estava no tombadilho em Boston. E suscitou mexericos na primeira classe: que por enquanto ficaria como imediato no caso de o comandante abandonar o navio e isso seria o sinal para se unirem todos ante o perigo do gigantesco iceberg. O comandante, por sua vez, está fazendo manobras estranhas. Indispôs-se com a classe média, queixando-se que gasta demais; com os religiosos, pregando aborto para quem não quiser ter filho; com os militares, ameaçando tirar todos de seus postos no governo; com os deputados federais, ensinando a assediar suas famílias; com 600 mil proprietários legais de armas, prometendo desarmá-los, enquanto daria poder ao MST e ao MTST; quer desfazer privatizações, teto de gastos e modernização das leis trabalhistas. A própria tripulação não entendeu as manobras e está preocupada que seja leme perigoso, com intenção de afundar. Juízes supremos, que vão arbitrar eleições e julgar questões envolvendo o governo estavam lá, como estão por toda a parte, como se estivessem em campanha política, abandonando a imparcialidade e a isenção. A banda vai emitindo as notas do acompanhamento. A orquestra de bordo sente que pode afundar, mas tocar é preciso, navegar não é preciso. A banda eleva o volume para impedir que os passageiros percebam os perigos da rota; os sons saem desesperados, mas têm que tocar até o fim. E a nave segue seu rumo.


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