7 de Setembro

7 de Setembro

Escolher bem a bandeira e a faixa que serão levadas ao protesto ajuda e muito a não cair nas armadilhas das narrativas políticas

Guilherme Baumhardt

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Há grandes chances de assistirmos a manifestações expressivas no próximo dia 7 de Setembro, nas principais cidades brasileiras. A imensa maioria indo às ruas de maneira espontânea, sem qualquer patrocínio e com uma bandeira facilmente identificável, mas cuja mensagem não pode trazer “desvios”, mesmo que o propósito final seja um só. É preciso ter cuidado para não mirar no alvo certo, mas acertar o que não se deve. Criticar ministros e decisões do Supremo Tribunal Federal faz parte do jogo. Defender que o STF seja fechado é entregar o ouro para o bandido. A melhor mensagem que pode reverberar e ecoar pelas ruas é a do respeito à Constituição e à defesa da mais absoluta liberdade. Manifestações contundentes neste sentido serão muito bem-vindas.

Há uma nova ideia de pátria florescendo no Brasil. E ela pode representar muita coisa. Norte-americanos têm um sentimento patriótico muito vivo. Ele é cultuado e alimentado. É comum vermos bandeiras do país hasteadas em mastros na frente de casas e espaços privados. Há um respeito especial a figuras históricas, como os founding fathers (George Washington, Benjamin Franklin, Thomas Jefferson...), que lideraram o país rumo à Independência. Veteranos de guerra são reconhecidos e admirados. Mas não se trata de um amor da “pátria pela pátria”, pura e simplesmente, mas sim por tudo aquilo que ela representa. Há valores que foram enraizados nos Estados Unidos (liberdade é certamente o mais importante) e que se fundem com a ideia de nação.

Escolher bem a bandeira e a faixa que serão levadas ao protesto ajuda e muito a não cair nas armadilhas das narrativas políticas. O velho Ulysses Guimarães dizia que político só teme uma coisa: povo na rua. Isso provavelmente não serve para os ministros do STF. Eles não precisaram e não precisam de votos da população. Mas senadores, sim, precisam. Até agora, Rodrigo Pacheco, atual presidente do Senado, deu algumas demonstrações de fraqueza. Com um pedido de impeachment de Alexandre de Moraes sobre a mesa, no lugar de decidir sozinho, com a caneta que lhe compete, ele resolveu se reunir com... o presidente do STF, Luiz Fux! E logo depois veio a rejeição ao pedido. Estaríamos diante de um caso de dobradiça na espinha? Ou falta de personalidade? Talvez desconhecimento jurídico! O fato é que o Senado se apequenou no episódio, graças à decisão do seu presidente.

Particularmente, não gosto do culto a líderes durante o exercício do poder. Acredito que o melhor é reconhecer e “venerar” o legado deixado por pessoas que ocuparam postos e posições-chave ao longo da história depois que elas se afastaram da cadeira e da caneta que ocuparam – casos de Margaret Thatcher e Ronald Reagan. Em muitas situações é fundamental dar tempo ao tempo para termos uma dimensão mais precisa da herança deixada pela passagem de uma figura pública. O resultado de reformas mais duras (e mais difíceis de serem implantadas) raramente aparece no curto prazo. Leva algum tempo para que elas produzam efeito e sejam compreendidas como um remédio de gosto amargo, mas necessário.

Boa parte da população já percebeu que o Supremo Tribunal Federal (ou Semeadores de Tempestades e Furacões) extrapolou, promovendo uma nítida invasão em atribuições que não são dele. Mesmo pessoas que não simpatizam com o atual presidente da República (e muitos dos seus arroubos) perceberam que não foi Jair Bolsonaro quem cruzou a linha, mas a suprema corte brasileira. E muitas destas pessoas estarão nas ruas no 7 de Setembro.
Que seja um dia de paz e de luta pela liberdade.


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