Hang ficou maior

Hang ficou maior

Graças aos iluminados e valentes da CPI, com toda a sua inteligência e sabedoria, o “Véio da Havan” foi alçado a outro patamar.

Guilherme Baumhardt

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“O senhor queria vacinar os seus funcionários, as suas famílias, para que eles voltassem a trabalhar!”. Acredite: a frase acima foi dita em tom crítico. O autor da pérola é o senador petista Humberto Costa, dirigida ao empresário catarinense Luciano Hang, durante o Circo Parlamentar de Inquérito, que alguns ainda acreditam ser uma CPI que investiga o combate ao coronavírus no Brasil. Inverto a frase clássica: com adversários assim, o “Véio da Havan” não precisa de amigos.

Sim, Luciano Hang defendeu que empresas comprassem vacinas para imunizar funcionários. Se isso tivesse ocorrido, colaboradores de grupos privados não teriam disputado doses com aqueles que dependem do Sistema Único de Saúde. Ou seja, um empreendedor (ocupação de alto risco no Brasil) queria oferecer aos seus empregados uma ferramenta para que voltassem ao trabalho com mais segurança. Para o petista, isso é passível de crítica.

Luciano Hang “sambou” diante de Renan Calheiros, Omar Aziz e Randolfe Rodrigues. Foi seguro, firme, trouxe dados. Não deixou que os protagonistas da narrativa falassem sozinhos. Em inúmeros momentos, Hang foi taxado de “antivacina”. Como resposta, lembrou que, além da tentativa de compra de imunizantes pelo setor privado, os estacionamentos das suas lojas foram colocados à disposição para a implantação de drive-thrus para a vacinação. Sobrou retórica por parte dos senadores. Não faltaram respostas do lado do empresário.

Se o catarinense almejava disputar uma cadeira ao Senado (ele, inclusive, lidera algumas pesquisas recentes), nas eleições do ano que vem, Hang agora pode pensar em voos maiores. Graças aos iluminados e valentes da CPI, com toda a sua inteligência e sabedoria, o “Véio da Havan” foi alçado a outro patamar.

Se em uma situação hipotética o presidente Jair Bolsonaro desistisse de disputar o pleito do ano que vem, Hang provavelmente contaria com o voto de 10 em cada 10 eleitores do atual ocupante do Palácio do Planalto. O catarinense entendeu como poucos como se dá a disputa política, entendeu como funciona o debate, ficou à vontade no Senado, diante de “cobras criadas”.

Quem acompanha este espaço sabe que muito pouco tratei sobre a CPI instalada no Congresso Nacional. O circo instalado em Brasília dificilmente produzirá algo útil. As denúncias até agora foram vazias. Parcela significativa dos “especialistas” ouvidos na comissão goza de baixíssimo prestígio junto à comunidade científica. A maior parte serviu apenas para alimentar narrativas. Diante disso, não deixa de causar surpresa que o noticiário de alguns veículos tenha dedicado tanto espaço para algo tão patético.

Não sei se Renan, Aziz e Randolfe terão a clareza do erro que cometeram ao convocar Luciano Hang para a CPI. Se tivessem um pingo de vergonha na cara, teriam encerrado os “trabalhos” da comissão ainda ontem. Ao final, restou o de sempre: condenar o empresário pelo sucesso como homem de negócios. “O senhor é bilionário!”, bradavam. Sim, e daí? Até certo ponto é compreensível. Boa parte dos que estão no Congresso, se perdesse a boquinha, provavelmente morreria de fome. A inveja é, mesmo, uma porcaria.


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