LuLeite?

LuLeite?

Falar sobre política não significa ser politizado

Guilherme Baumhardt

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O Rio Grande do Sul é uma espécie de almoxarifado de expressões e mantras políticos, de máximas que se confirmam e outras que ficam pelo caminho. Exemplos? “O que seria da crônica política, se não existisse o PDT?” era frase recorrente nas editorias de política, proferida a cada guinada repentina dos trabalhistas – após decisões que muita gente simplesmente não entendia. Mais? “Gaúchos não toleram troca de partido”. E foi assim que o PSDB, que nasceu forte em outras regiões do país, surgiu mirrado no Rio Grande do Sul, um arremedo, fruto da permanência no PMDB de figuras como Pedro Simon e o grupo liderado por ele.

Algumas das frases acima se mantém. Outras caíram por terra. A pior delas, na opinião do colunista: “O gaúcho é um povo extremamente politizado”. Falar sobre política não significa ser politizado. No fundo era só mais um daqueles bairrismos bobocas, que nos fez estacionar no tempo e na história. Uma população que elege Olívio Dutra, sente na pele o desastre de uma gestão petista e, anos depois, vota em Tarso Genro não tem nada de politizado. Tem, sim, doses cavalares de teimosia e severas limitações.

Uma amostra do quão errados estávamos é assistir hoje ao desenvolvimento catarinenses, que ligaram os motores e avançam em alta velocidade – o Estado vizinho ostenta hoje os menores índices de desemprego e é porto seguro para investimentos internos e externos. Enquanto eles navegam em alta velocidade, por aqui ainda estamos procurando os remos e tentando levantar velas.

Rio Grande do Sul afora muita gente acredita que gaúchos não toleram o muro. É preciso ter posição. É uma verdade, mas até ali. Se somos gremistas e colorados, ximangos e maragatos, precisaríamos ser direita ou esquerda. Era uma verdade, até o dia em que, diante do dualismo Antônio Brito versus Tarso Genro, em 2002, resolvemos eleger Germano Rigotto. E, assim, inauguramos a gestão de pelúcia, com embates menos acalorados, com frases ponderadas e zero polêmica. Resultado? Pouco avançamos naquele período – nenhuma privatização, nenhuma grande reforma. E, para completar, duas estiagens seguidas que afundaram a economia do Estado.

Tal qual Rigotto, Eduardo Leite adotou a estratégia do muro. Deu certo no passado, mas os tempos agora são outros. O cenário nacional é de polarização acirrada, que se repete de norte a sul do Brasil. Do ponto de vista de marketing o objetivo é claro: conquistar os votos de esquerda, mas sem perder o apoio de quem votou em Leite e, ao mesmo tempo, em Bolsonaro, no primeiro turno.

Trata-se de uma tarefa cada vez mais difícil, especialmente depois que Tarso Genro, Manuela d’Ávila e outros próceres da esquerda abriram campanha escancarada a favor do tucano. Quer queira, quer não, o petismo e a esquerda, a partir de agora, estão colados em Eduardo Leite. E a conta passa a ser de chegada: ganha-se ou perde-se mais? Nem todo esquerdista votará em Leite. E certamente bolsonaristas estão torcendo o nariz para o apoio vindo do PT.

A estratégia tucana vai nos proporcionar duas respostas: a primeira é saber se a máxima de que é preciso ter posição definida segue valendo no Rio Grande do Sul ou se o muro virou porto seguro. A segunda é saber se estaremos, novamente, na contramão dos nossos vizinhos do Sul. O Paraná reelegeu Ratinho Jr. ainda no primeiro turno, apoiado por Bolsonaro. Em Santa Catarina (estado que nunca foi governado pelo PT), o candidato Jorginho Melo, também apoiado por Bolsonaro, deve passar a patrola sobre o petista Décio Lima. E por aqui? O eleito será Onyx, na mesma batida de catarinenses e paranaenses? Ou elegeremos o tucano, apoiado por petistas, naquilo que está sendo chamado de voto “LuLeite”, em alusão a Lula?

Respostas no dia 30 de outubro.

 


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