Moro é ruim de conta

Moro é ruim de conta

Até aqui, candidatura de Moro coleciona erros

Guilherme Baumhardt

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Sergio Moro colocou o time em campo, vestiu o uniforme de candidato e agora percorre o Brasil na condição de presidenciável, nas eleições deste ano. Até agora, o ex-juiz e ex-ministro colecionou mais erros do que acertos. O universo político é bastante diferente do ambiente jurídico. Por enquanto, a habilidade demonstrada como magistrado, nos tempos de Operação Lava Jato, foi trocada por uma caminhada errante. O homem que parecia jogar xadrez na época da força-tarefa, ao desviar das armadilhas colocadas no caminho, agora tropeça em pequenas pedras e escorrega nas cascas de banana que são atiradas diante dos seus pés. Como no Brasil há a obrigatoriedade de filiação partidária para concorrer a um cargo eletivo, a escolha do partido parece ser até agora um dos poucos acertos de Moro.

O Podemos (sigla que abriu as portas para o ex-juiz) não tem nos seus quadros figuras que tenham protagonizado grandes escândalos na história recente do Brasil. Isso acaba conferindo ao partido uma espécie de aura de seriedade e honestidade, que a imensa maioria das agremiações não consegue ostentar. Se Moro tem uma marca que se transforma em capital político é justamente a do combate à corrupção.

Os erros, porém, se acumulam. Um dos principais e mais importantes foi ter aceitado o convite do escritório Alvarez e Marsal, um dos gigantes do mundo do direito na área empresarial. Quando surgiu a notícia da proposta e, logo depois, o aceite de Sergio Moro, para mim havia ficado claro que ele estava se despedindo de qualquer projeto político. Engano meu.

Diferentemente do que é dito, Moro não atuou na defesa de companhias investigadas e processadas na Lava Jato – o que seria uma contradição. Não, seu trabalho não era o de advogado de defesa destas empresas. O ex-juiz atuava na elaboração de políticas de compliance internas. Ou seja, seu papel era o de estabelecer condutas e regras para que empresas adotassem as melhores práticas e evitassem problemas como aqueles que foram apontados na Lava Jato – quando público e privado se misturaram de maneira indesejada e desastrosa (especialmente para o bolso do contribuinte brasileiro).

O problema é que existe uma distância significativa entre realidade e narrativa. Até explicar que jacaré e crocodilo não são a mesma coisa, a dona Maria e o seu Zé já consolidaram a ideia (errada) de que Moro se aliou a bandidos e foi trabalhar com corruptos. E daí escolher outro candidato é um passo. Desconstruir isso leva tempo e consome energia, sem a garantia de que ao final o equívoco seja desfeito.

Como o universo político é bastante “eclético” (para não chamar de zoológico ou zona), é possível encontrar de tudo. E o agora presidenciável Moro, quando menos espera, pisca os olhos e se vê ao lado de Luís Miranda, deputado federal, sujeito acusado de aplicar golpes nos Estados Unidos. Pois bem, o homem de quem eu e você não compraríamos um carro usado se apressou para fazer selfie com Moro.

Miranda é apenas um exemplo. Os jovens (em termos publicáveis) do MBL são outros. E seria possível elencar aqui uma lista de gente que o então juiz Sergio Moro guardaria uma distância segura nos tempos de Curitiba, mas que agora vê ao seu lado, na tentativa de pegar carona na sua candidatura presidencial.

Fica a certeza de que o maior erro de Moro foi ter aceitado o convite para sair da magistratura e ingressar no Ministério. “Ah, agora é fácil falar”. Verdade. Mas na época eu fazia a mesma análise. A começar pelo fato de facilitar a vida da defesa de Lula, ávida por munição nova para questionar no Supremo Tribunal Federal a conduta do juiz nos processos da Lava Jato. Foi o que aconteceu.

O Brasil honesto e que trabalha sente falta do juiz Sergio Moro. Do presidenciável, sobram por enquanto mais interrogações do que certezas.


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