O eleitor não é um incapaz

O eleitor não é um incapaz

E não precisa ser

Guilherme Buamhardt

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O eleitor brasileiro é um incapaz. É um conceito que fica guardado em uma gaveta e, quando convém, ele vem à tona com força. Estamos diante de um momento assim. Coincidência ou não, esse falatório ressurge quando a terceira via naufraga, Lula cai, Bolsonaro sobe e a distância entre eles é sistematicamente reduzida nas pesquisas eleitorais.

Quando Lula foi eleito e reeleito, quando o brasileiro escolheu o presidencialismo em detrimento da monarquia e do parlamentarismo, não lembro dos atuais profetas do caos vociferando e abrindo as baterias contra o eleitor brasileiro. Quando cogitamos, porém, a possibilidade de decidir sobre a privatização de estatais, os arautos da inteligência alheia saltaram e bradaram: “Não podemos fazer isso! O eleitorado não saberá escolher, ficará confuso, são muitas decisões ao mesmo tempo”. Foi esse tipo de baboseira que ouvimos em 2018 na disputa ao Palácio Piratini.

Na época, os dois projetos que chegaram ao segundo turno eram favoráveis à privatização de empresas estatais (com a ressalva de que Eduardo Leite prometeu uma coisa e fez outra, no que diz respeito à Corsan). De qualquer forma, a decisão dos gaúchos que foram às urnas revelou o real temor daqueles que só veem burrice no eleitorado: eles não queriam submeter ao crivo direto da população uma decisão que já estava desenhada. A turma, no fundo, não queria perder o discurso, encher a boca para dizer “o gaúcho é contra a venda de estatais”. Não era. E a disputa José Ivo Sartori versus Eduardo Leite escancarou isso.

Ao eleitor pode faltar informação, pode às vezes faltar alguma bagagem. Leitura, conhecimento e conhecer a história sempre ajudam, mas não representam escolhas corretas ou a garantia de que o melhor candidato será o eleito. Querem um exemplo? Desembarque em uma universidade pública brasileira. Qualquer uma. Aposto um exemplar de “O Capital” que a maioria dos docentes das instituições é de esquerda. Arrisco, também, dizer que a maioria vai votar no ex-presidiário.

E agora pergunto: falta a eles informação? Certamente não. Falta a eles estudo? De maneira alguma, já que estamos tratando de um ambiente recheado de mestres e doutores. Se eles têm informação e bagagem, por que diabos votarão num sujeito que só não está na cadeia graças ao casuísmo de uma Corte que há muito deixou de ser “Suprema”? Porque na verdade o que todos fazem é olhar para o próprio umbigo, para os próprios interesses. É crime? Não. Mas não venham vender esse peixe de que o eleitor precisa ser ensinado a votar.

Se há algo que eu gostaria de ver (e aqui não alimento nenhuma pretensão de ensinar ou convencer alguém) é ver o brasileiro amadurecer a ideia de que ele é dono do próprio nariz, do próprio destino. De parar de ver a população delegar a terceiros (leia-se Estado) a tarefa de decidir por ela, ou, ainda pior, pedir a bênção ao todo-poderoso Estado para fazer coisas nas quais o poder público não deveria sequer pensar em meter o bedelho. Querer “ensinar” eleitor é coisa de regime soviético, que nem eleição de verdade fazia.

Rádio Guaíba...

Minha paixão pelo rádio começou tarde. Talvez pelo meu interesse por futebol ser pequeno durante a minha infância – meu esporte favorito sempre foi automobilismo –, somente a partir dos 14 anos, com o despertar pelos assuntos políticos e econômicos, passei a ser ouvinte. Ainda assim, nas minhas vindas ao Rio Grande do Sul durante o período em que a família vivia em São Paulo, guardo na memória a imagem e o som dos meus avós ouvindo rádio. E, claro, ouvindo a Guaíba. É uma nostalgia que aquece e conforta a alma.

...65 anos

Já tenho quase duas décadas de história nessa estrada chamada jornalismo. A maior parte dela em rádio, fazendo rádio, comunicando via rádio. Depois de algum tempo, aquele frio na barriga, quando o luminoso “no ar” acende, vai desaparecendo. A rotina nos torna mais frios, automáticos em certos momentos. Depois de muito tempo, ao entrar no icônico Estúdio Cristal, reaberto nesta sexta-feira, voltei a sentir a perna bamba, a barriga gelada. Pudera. É muita história, um compromisso enorme, com uma audiência exigente – razão de ser de qualquer emissora de rádio. Uma história gigante, que completa hoje, sábado, 65 anos. Para um tipo de mídia que tantas vezes foi sepultado, fico com a sensação de que bastam trabalho e paciência para chegarmos a um século de história, tamanha a capacidade de adaptação do rádio a novas tecnologias. Vida longa para a Rádio Guaíba, vida longa aos guaibeiros!


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