Precisamos falar sobre a Coronavac

Precisamos falar sobre a Coronavac

O Rio Grande do Sul lidera o ranking nacional de doses aplicadas

Guilherme Baumhardt

A eficácia geral do imunizante é de 50,38%

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No dia 21 de junho, a Revista Oeste trouxe uma reportagem que serve de alerta. O texto destacava que 30 dos 43 residentes de um lar de idosos, em Arapongas (PR), contraíram a Covid-19. Segundo a prefeitura da cidade, todos foram vacinados em fevereiro e já haviam recebido as duas doses da vacina. O imunizante utilizado? Coronavac. Dos 30 contaminados, seis morreram. Em janeiro, o Instituto Butantan, que produz a vacina em parceria com o laboratório chinês Sinovac, anunciou que o imunizante tinha 100% de eficácia para evitar casos graves e mortes. Sim, estamos falando do início do ano, o cenário era outro e, de lá para cá, surgiram novas cepas. Isso não nos retira, porém, a necessidade de discutir os rumos da Coronavac e, principalmente, do tratamento a ser dado para aqueles que a receberam.

Mergulhar neste assunto é fundamental, por duas razões muito simples. A primeira: é preciso definir se continuaremos usando a estrutura do Butantan para fabricar algo de eficácia reduzida, ou se devemos concentrar esforços e movimentar a máquina para disponibilizar à população outro imunizante. Segundo: precisamos ter um cenário claro, inclusive, para planejar uma nova rodada de vacinação para aqueles que foram contemplados com a Coronavac, e que podem não estar tão protegidos quanto imaginam.
Este último ponto é de vital importância por estarmos tratando do chamado grupo de risco – pessoas com 60 anos ou mais. Foram elas que receberam, na sua imensa maioria, as doses produzidas no Butantan. A Coronavac cumpriu uma missão. Certamente salvou vidas e serviu para ampliar a cobertura vacinal, garantindo um importante volume de doses enquanto a produção da Oxford/AstraZeneca ainda engatinhava, na Fiocruz. Até então não haviam desembarcado no Brasil os imunizantes desenvolvidos pela Pfizer e Janssen. Ou seja: era o que havia naquele momento.

Questionar a vacina chinesa, como ficou popularmente conhecida, não pode ser entendido como um endosso ao movimento antivacina. Também não é um capricho. A Butanvac, uma nova vacina que seria produzida no Butantan, ainda não concluiu a fase 3 de testes. Sobre a Coronavac, existem dois contratos de compra, totalizando 100 milhões de doses. Neste momento, as perguntas são: vale a pena investirmos tempo e dinheiro fabricando uma vacina carregada de incertezas quanto à eficácia? Ou poderíamos virar a chave para utilizar esta estrutura para produção de um imunizante melhor?

Que tal comprar vacinas?

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, resolveu inventar um prêmio para as cidades que aplicarem proporcionalmente mais doses da vacina contra a Covid-19. Os valores variam de R$ 25 mil a R$ 150 mil reais, em quatro diferentes categorias, conforme a população do município. A soma total atinge a cifra de R$ 1,25 milhão. O chefe do executivo classificou a iniciativa como uma “corrida do bem”. Pergunta óbvia: por que não investir esse dinheiro na compra de vacinas? Em uma conta simples, seria dinheiro suficiente para imunizar aproximadamente 22 mil pessoas (já contando as duas doses) e levando em consideração o custo da dose da Oxford/AstraZeneca.

Erro de foco

O Rio Grande do Sul lidera o ranking nacional de doses aplicadas. Mérito de muitos: da logística implantada para distribuir rapidamente o imunizante que chega, até o know how da ponta, de quem trabalha nos postos de saúde espalhados pelos municípios gaúchos. Ou seja, não falta incentivo. Aliás, o cidadão, até aqui, mostra o melhor deles: ele busca rapidamente a imunização assim que ela é disponibilizada.

Excesso de zelo?

Em entrevista ao "Agora", na Rádio Guaíba, nesta semana, a secretária da Saúde do RS, Arita Bergmann, reconheceu que o governo do Estado abriu negociações para a compra direta de imunizantes, sem depender de Brasília, mas recuou: “As pessoas até tinham (vacina) para vender, mas para entrega no fim do ano, em outubro. Ou tinham o produto (para pronta-entrega), mas era com pagamento antecipado. E com dinheiro público a gente precisa ter todos esses cuidados”. Não faltaram críticas ao governo federal por não ter assinado a compra da vacina da Pfizer no ano passado, quando o imunizante sequer havia concluído a fase 3 de testes, mas na visão de muitos isso foi um erro. E agora? Aplicamos o mesmo raciocínio? Ou a falta de zelo com o dinheiro dos outros é refresco?
 


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