Guilherme Baumhardt

Vender enquanto é tempo

Os Correios estão em greve. Mais uma vez

Os Correios estão em greve. Mais uma vez. Pesquise no Google. Jogue as palavras “greve” e “Correios”. Você encontrará registros deste ano, do ano passado, de 2018, 2017... Paralisações são tão comuns que fazem lembrar o filme “Feitiço do Tempo”, estrelado por Bill Murray, que conta a história de um sujeito que acorda sempre no mesmo dia, todos os dias, quando tudo se repete. A Empresa de Correios e Telégrafos é o nosso Dia da Marmota.

A greve é, na verdade, um grande tiro no pé. Serve para mostrar que uma empresa que tem uma história importante hoje perdeu... importância! Com Internet e banda larga chegando até os rincões mais distantes do Brasil, com o advento dos aplicativos bancários, o serviço dos carteiros está se tornando cada vez menos necessário. Claro que existem exceções e situações bastante específicas, mas a cada paralisação a insatisfação da população só aumenta. São pessoas que passam então a usar cada vez mais os serviços de empresas privadas, que concorrem nos segmentos em que os Correios não são detentores do monopólio – caso ainda das correspondências.

Carteiros têm uma relação de proximidade conosco, principalmente em cidades do Interior. São profissionais conhecidos pelo nome, viram uma referência no bairro. Contratar o serviço de remessa expressa (Sedex) era garantia de que a encomenda chegaria ao destino no prazo estabelecido. Hoje virou loteria. É quase inacreditável que uma empresa que estabelece um grau assim de proximidade e que até pouco tempo atrás era uma das mais confiáveis do país chegue a este ponto. Não é sem motivo. Apenas como exemplo (e o meu é um entre tantos): fiz uma compra pela Internet. O produto saiu de Hong Kong, viajou metade do planeta, levou 9 dias entre o ponto de partida e a chegada ao Brasil. Para vencer as distâncias e trâmites internos foram necessários mais 27 dias, três vezes mais tempo. Há algo que justifique isso?

Se você procurar algum sindicalista provavelmente ouvirá que a empresa está sucateada, que faltam profissionais, que a carreira não está sendo valorizada, quando na verdade o que temos é um claro sinal dos tempos – e dos problemas gerados pela má gestão, em uma estrutura que estacionou e que nas mãos do Estado sofreu as consequências de indicações e interferências políticas. Gente desqualificada para a função, pessoas que mal sabem colar um selo em uma carta tomando decisões – geralmente erradas.

São coisas distintas, mas o maior exemplo da interferência nefasta em um órgão público é o caso do Postalis, o fundo de previdência dos funcionários da ECT. O dinheiro suado, economizado a duras penas por quem trabalha de maneira séria na empresa (a maioria dos profissionais, diga-se de passagem) e que foi terrivelmente administrado. Como? Comprando papéis e títulos podres de nações vizinhas, que viraram pó quando as economias destes países derreteram – casos da Venezuela e da Argentina. Além disso, empresas de saúde financeira duvidosa e que operavam no Brasil também foram agraciadas pela confiança do Postalis, como universidades privadas que fecharam as portas. No mínimo, má gestão, embora as suspeitas levem até a possibilidade de corrupção e pagamento de propina.

O leitor pode alertar que o Postalis é uma coisa, e os Correios são outra. Verdade. Mas a gestão de um não ficou muito distante da administração do outro. Deixando o problema do fundo de pensão para os funcionários e os que já são beneficiários, é importante lembrar que a ECT registrou rombos consecutivos nos anos de 2013 a 2017, prejuízos que ultrapassam a casa dos bilhões de reais. E é aí que a coisa nos toca. Porque o mais comum é ouvirmos que uma empresa pública é, na verdade, nossa. Escutamos a todo instante que elas são importantes, estratégicas e que algumas inclusive dão lucro. O que não dizem para você é o que ocorre quando uma estatal dá prejuízo. Sabe quem paga a conta? É você. Querendo ou não.