Alemanha se diversifica

Alemanha se diversifica

Parlamento alemão terá deputadas transexuais, negra e com deficiência

Jurandir Soares

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A eleição do último domingo na Alemanha serviu não só para marcar o fim da era Merkel e o retorno da social-democracia ao poder, como também a ascensão ao Parlamento, pela primeira vez, de duas deputadas transexuais e uma negra. Lembrando que até 1969 a homossexualidade era crime na Alemanha. As três conseguiram suas vitórias concorrendo pela lista geral do Partido Verde, o qual conseguiu 15% dos votos e se alçou como a terceira força política do país. Muito provavelmente será parceiro do SPD na coalizão de governo a ser formada. Os senegaleses Karamba Diaby e Charles Huber foram os primeiros negros entre os homens a serem eleitos.

A Alemanha também terá, no próximo mandato legislativo, a primeira mulher com deficiência no Bundestag: Stephanie Aeffner, de 45 anos. No pleito do último domingo, cerca de 85 mil pessoas com deficiência foram autorizadas a votar pela primeira vez na Alemanha, segundo a Deutsche Welle. A permissão foi garantida pela Justiça, após anos de disputas e pressão de ONGs e grupos de ativistas. 

Como se observa, uma mudança significativa num país que tem sua história manchada por perseguições a todos esses segmentos. E esta mudança se deve muito ao legado de Angela Merkel. Porém, outro legado de Merkel segue sendo motivo de discussão na Alemanha: o acordo com a Rússia para o recebimento de gás, o qual passa a chegar por meio de gasoduto ligando os dois países através do Báltico. O tema ganha relevância devido ao aspecto ambiental e à força que conquista o Partido Verde. Gás natural é combustível fóssil, mas ainda assim é 50% mais limpo em emissões de carbono do que carvão e petróleo, respectivamente, 36% e 16% da matriz energética atual. Ambientalistas defendem a substituição total por energia renovável, mas isso é irrealista. Hoje, apenas 14% vêm dessas fontes. Mas além do aspecto ambiental, há o fator dependência. O país fica refém de Moscou. Em um caso de confrontação, não poderá, por exemplo, apoiar sanções da Europa contra a Rússia, sob pena de Vladimir Putin simplesmente fechar a torneira. Ou seja, o país terá que ficar nessa corda bamba, pois optou por desativar as centrais nucleares e as usinas a carvão, sabendo-se que os investimentos em energias limpas ainda vão demorar a apresentar resultados.

Assim é que, se a diversificação na representação política apresenta um quadro animador, de renovação, as alterações na política energética deixam uma certa preocupação.

 


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