Equilíbrio nas relações

Equilíbrio nas relações

Brasil é o país ocidental com maior superávit na relação com a China. Não dá para ignorar isso, assim como rejeitar a tecnologia da chinesa Huawei.

Jurandir Soares

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Documento divulgado nesta quinta-feira em São Paulo estabelece as “Bases para uma Estratégia de Longo Prazo do Brasil com a China”. O estudo, elaborado pelo Conselho Empresarial Brasil-China, propõe que os brasileiros olhem o parceiro asiático cada vez menos como um competidor e uma ameaça, e cada vez mais como referência e oportunidade, em especial para diversificar a pauta de exportação e absorver novas tecnologias.

Esta divulgação se dá num mesmo momento em que figuras de expressão do governo brasileiro, ou ligadas a ele, criam um novo contencioso com a China. Tudo começou com o filho do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro, presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, que, ao manifestar apoio ao programa Clean Network, ressaltou que o mesmo protege seus participantes de violações, o que afastaria a tecnologia da China e evitaria espionagem. A publicação mereceu resposta áspera da Embaixada da China, dizendo que o deputado segue a retórica do presidente Trump de caluniar a China e pediu que essa posição fosse abandonada para “evitar consequências negativas”. Embora a manifestação tenha sido de um deputado e não de um integrante do governo brasileiro, o chanceler Ernesto Araújo tomou as dores e, em ofício à Embaixada, disse que a resposta da missão diplomática ao parlamentar traz conteúdo “ofensivo e desrespeitoso”. Tudo na contramão do que acabara de pedir o Conselho Empresarial Brasil-China e, principalmente, na contramão do que apresentam os números do comércio entre os dois países.

É estupidez ignorar que hoje a China se constitui com os Estados Unidos nos dois maiores atores da economia internacional. Neste ano de pandemia, o saldo positivo da balança comercial com os chineses bateu recorde histórico. Segundo números do Ministério da Economia, até outubro a marca a nosso favor atingiu 32,5 bilhões de dólares, o que corresponde a 33,5% das exportações brasileiras. O que torna o Brasil o país ocidental com maior superávit na relação com os chineses. Então, não dá para ignorar esses números em nome de um alinhamento incondicional com os EUA. Até porque no comércio com os norte-americanos temos uma desvantagem de 3 bilhões de dólares. Tampouco devemos rejeitar a tecnologia 5G da chinesa Huawei, como exige o presidente Trump. O republicano perdeu a eleição e não se sabe se Joe Biden manterá com Pequim o mesmo tom de Guerra Fria 2.0 de Trump. E tudo isto sem falar nas amplas possibilidades, que se alargam dia a dia, de investimentos chineses em áreas de infraestrutura no Brasil, que é o que mais necessitamos atualmente. Assim, mais do que nunca, é necessário equilíbrio nas relações que travamos com as duas potências.


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