Negócios ou direitos humanos

Negócios ou direitos humanos

A relação entre os Estados Unidos e a Arábia Saudita

Jurandir Soares

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Em nome da defesa dos direitos humanos, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, resolveu fazer um enfrentamento com um dos mais importantes aliados e compradores de armas do Oriente Médio: a Arábia Saudita. Isto porque, esse país que se torna um player cada vez mais importante pelo poder do dinheiro do petróleo. É, ao mesmo tempo, uma monarquia autocrática e sanguinária que, sob a liderança do príncipe herdeiro Mohamed Bin Salman, o MBS, mantém a opressão sobre a mulher, manda matar quem critica o regime – como fez com o jornalista Jamal Khashoggi, executado e esquartejado no consulado de Istambul – e considera o homossexualismo crime passível de morte.

A Arábia Saudita, muçulmana sunita, trava por procuração uma sangrenta guerra com o Irã, muçulmano xiita, pelo controle do Iêmen. Ao mesmo tempo, o país tem se juntado a outros da região, como Emirados Árabes Unidos e Barhein, que se aproximaram de Israel e que também têm no Irã o seu maior inimigo. O presidente Biden vem mantendo um jogo duplo com Teerã. Ao mesmo tempo em que acena com a retomada do acordo sobre o programa nuclear daquele país, manda bombardear as forças iranianas no Iraque que dão sustentação ao regime de Bashar Al-Assad.

Biden acusa MBS de ter dado um status de pária para a Arábia Saudita e o desconsiderou nesta semana ao ligar para Riad e exigir falar com o rei Salman, para quem teria manifestado o seu descontentamento com o que vem fazendo o príncipe herdeiro. O problema é que a pressão sobre a moralização do regime tem o seu preço. Os sauditas historicamente são os maiores compradores de armas dos EUA. O que tem feito com que presidentes que antecederam Biden tenham passado a mão sobre os desmandos dos sheiks. A Arábia Saudita é o nono país no ranking do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos em gastos militares, tendo despendido em 2020 um total de 49,7 bilhões de dólares. A grande maioria das compras foi do mercado norte-americano.

De olho atento ao que acontece no mundo, o presidente russo Vladimir Putin, que não está nem aí para questões de direitos humanos, já abriu negócios com MBS para vender caças Sukhoi Su-35 e sistemas antiaéreos S-400, da mesma forma como já fizera para o turco Recep Tayyip Erdogan, quando este se indispôs com Washington. Nesse caso, Putin conseguiu abocanhar um membro da Otan. E agora pretende trazer para seu lado e seus negócios um importante ator do Oriente Médio. Assim, espera-se o resultado da jogada arriscada que Biden está fazendo, de inverter o que vinha sendo praticado e colocar os direitos humanos acima dos negócios.


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