O conflito israelo-palestino

O conflito israelo-palestino

Morte de jornalista evidenciou situação entre os dois lados

Jurandir Soares

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A morte na Cisjordânia da jornalista palestino-americana Shireen Abu Aqleh, estrela da TV Al Jazeera, que tem sede no Catar, ocorrida na quarta-feira, colocou em maior evidência um conflito que recrudesceu nos últimos meses: aquele que envolve palestinos e israelenses. Um conflito milenar, mas que se incrementou a partir do início do século XX, com a decisão dos judeus de se restabelecer na Palestina, terra que nos tempos bíblicos abrigou o Reino de Israel, que fora comandado por figuras marcantes, como os reis Salomão, Saul e Davi. Hoje o que se tem naquela área é o Estado de Israel, solidamente estabelecido e se constituindo num dos países mais avançados do mundo, tanto tecnológica como culturalmente. Em áreas limítrofes tem-se a população palestina dividida em dois setores. Cisjordânia, dominada pela facção moderada Fatah, que inclusive preside a Autoridade Nacional Palestina, e Gaza, onde está estabelecida a facção radical Hamas, que tem travado várias guerras com Israel nos últimos anos. Este fato de os palestinos estarem sem formar um estado nacional como Israel, se dá por não terem aceitado a decisão da ONU de 1948, que determinava a partilha daquela área entre os dois povos. Israel imediatamente aceitou a decisão e formou seu Estado, enquanto que os palestinos, com o apoio do mundo árabe, foram à guerra contra os judeus e perderam. Assim como perderam outras três guerras que se sucederam.

Depois de verem que Israel é uma realidade e que não poderiam destruí-lo, os palestinos moderados, liderados pelo Fatah, resolveram partir para a constituição de seu Estado em áreas que ocupam. Já os radicais do Hamas vivem na ilusão de que um dia poderão destruir Israel e tomar toda aquela área. Em meio a esta situação tem-se vivenciado constantes conflitos, que vão desde ações isoladas de adeptos de uma causa até guerras com mísseis e armamentos pesados como as que Israel tem travado com o Hamas na Faixa de Gaza. A Cisjordânia sempre tem sido uma região mais tranquila, especialmente depois que Israel construiu um muro separando os dois territórios. Nos últimos meses, no entanto, palestinos oriundos daquele território têm cruzado a fronteira para realizar atentados com armas brancas que mataram ao menos 18 pessoas em Israel. Atos que mereceram ações de represália do Exército israelense. E foi em meio a um desses conflitos que a jornalista da Al Jazeera morreu, ao cobrir os acontecimentos. E as acusações pela morte vieram de ambos os lados.

O pior é que não se vê uma perspectiva para isto acabar. A rigor, a solução seria o que os palestinos clamam, a constituição de seu Estado, o que, conforme se viu, deixaram de constituir em 1948. Porém, mesmo agora essa questão não é unanimidade entre eles, porque enquanto o Fatah reconhece a existência do Estado de Israel o Hamas não só não aceita como tem a pretensão de destruí-lo. E o pior ainda para os palestinos é que o unânime apoio que tinham do mundo árabe foi se esvaindo com o tempo. Primeiro, em 1979, com o Egito assinando acordo de paz com Israel. Depois, em 1984, foi a vez de a Jordânia fazer o mesmo. E mais recentemente, ao fim de seu mandato, Donald Trump costurou os chamados “Acordos de Abrahão”, que levaram à paz com Israel os Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Sudão e Marrocos. Havendo também uma aproximação, ainda sem acordo, com a Arábia Saudita. Um intercâmbio que fará todos crescerem. Porém, a questão palestina segue insolúvel e, por conseguinte, conflitos como os que têm ocorrido tendem a continuar.


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