Os descaminhos da guerra

Os descaminhos da guerra

Conflito que completa três meses segue sem perspectiva de um cessar-fogo

Jurandir Soares

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A guerra que a Rússia trava na Ucrânia já provocou um novo rearranjo no cenário geopolítico internacional, com a adesão de Suécia e Finlândia à Otan, além do reforço no relacionamento entre os membros da aliança militar do Ocidente. Muito embora tenha havido uma discordância inicial por parte da Turquia com relação aos dois novos membros, esta aresta seguramente será resolvida. Este refortalecimento da Otan está se refletindo na substancial ajuda militar, financeira e humanitária que os seus membros estão destinando à Ucrânia. A Rússia não quis a adesão da Ucrânia à Otan porque o mapa dos integrantes da organização viria até sua fronteira. Pois, com esta mudança no cenário, este mapa não se estenderá pela fronteira ucraniana, mas pelos 1.300 quilômetros da fronteira da Finlândia com a Rússia. 

Já no campo militar, esta guerra, que na terça-feira completa três meses, segue sem perspectiva de ao menos um cessar-fogo. Nesta semana, o presidente russo, Vladimir Putin, disse que não se estabelece uma trégua porque a Ucrânia não quer. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, retrucou dizendo que só aceita a oferta mediante a retirada russa de todo o território ucraniano. Quanto a esta retirada, não se vê perspectiva no presente momento, porque a Rússia quer consolidar seu domínio em áreas específicas da Ucrânia. Uma tarefa que está sendo muito demorada e muito custosa, tanto em vidas humanas quanto financeiramente. Vale lembrar que quando deflagrou a guerra, a Rússia pretendia em uma semana a dez dias concluir a tarefa, dominando a capital e promovendo uma debandada do governo. Não contava com a forte resistência do povo e das forças ucranianas, que impuseram logo de início um vexame a Moscou, com o recuo dos tanques que marchavam sobre Kiev e que foram bombardeados. Tampouco contava com a substancial ajuda em armamentos que o Ocidente tem mandado para a Ucrânia, o que fez com Putin acusasse a Otan de estar fazendo uma guerra por procuração contra a Rússia.

Mesmo assim, fica claro o objetivo atual da Rússia que é tomar a região do Donbas, onde há um contingente de separatistas pró-Rússia. Já anunciou, inclusive, uma tomada quase total de uma das províncias do local, Lugansk. Fato que pode ser comprovado pela declaração do presidente Zelensky, ao afirmar que os russos deixaram a cidade praticamente destruída. Outra cidade que os russos destruíram, Mariupol, tem importância vital neste objetivo, pois serve de ligação entre o Donbas, ao Leste, e a já tomada província da Crimeia, ao Sul. Digamos que este é o objetivo preliminar. O principal é estender este domínio para o Oeste, tomando Odessa, com o consequente corte de acesso da Ucrânia ao Mar Negro, e seguindo até o encrave de Transnístria, situada dentro do território da Moldávia. Outro protetorado russo resultante de suas interferências nos vizinhos. Enfim, o cenário parece claro e não é favorável a um término imediato da guerra.

Por fim, quero ressaltar o ato falho do ex-presidente George W. Bush ao falar sobre a guerra na Ucrânia, durante um evento nesta quarta-feira em Dallas, no Texas. Ele criticou “a decisão de um homem de lançar uma invasão totalmente injustificada e brutal do Iraque. Quero dizer, da Ucrânia”. Pura confissão.

 


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