Os três erros de Putin

Os três erros de Putin

Presidente russo não imaginou os desdobramentos ao invadir a Ucrânia

Jurandir Soares

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Quando Vladimir Putin iniciou a guerra contra a Ucrânia não imaginava que o conflito iria ter os desdobramentos que está tendo. O que se percebe é que aquilo que ele chamou de “operação militar especial” e que era para se desdobrar em poucos dias está se estendendo, sem uma previsão de fim e com um amplo desgaste não só para a Ucrânia, mas para a própria Rússia. Claro que o desgaste para a Ucrânia é muito maior. O país perde vidas de militares em combate e também de civis, vítimas das atrocidades do oponente. Perde também armamentos. E vê suas cidades serem destruídas. Mas os soviéticos também estão perdendo vidas, embora não revelem o número de soldados mortos. Estão perdendo equipamentos militares e estão tendo um enorme desgaste em equipamentos e em gastos que não eram previstos. Tudo isto porque Putin cometeu três erros.

O primeiro: não dimensionou a resistência dos ucranianos. Quando ele começou a invasão, a previsão era de, em dois ou três dias, tomar a capital Kiev e concluir a ocupação do país em pouco mais de uma semana. Acreditava até que a população ucraniana iria se manifestar favoravelmente à ocupação russa, assim como faz um certo contingente nas províncias de Donetsk e Lugansk. Um comboio militar de 60 quilômetros entrando em território ucraniano no início da operação dava a ideia de que a meta seria cumprida. Porém, logo em seguida a situação começou a se reverter quando uma fileira de tanques que entrava em Kiev foi bombardeada, desarticulada e teve que bater em retirada. Depois de alguns dias de cerco a Kiev, sem conseguir avançar, os estrategistas russos acharam melhor concentrar as operações na região do Donbas, onde situam-se as províncias em que predominam os movimentos separatistas pró-Rússia. Ali, afinal, teriam apoio. Ao mesmo tempo concentraram os bombardeios na cidade de Mariupol, para estabelecerem o controle sobre o corredor entre Donbas e a Crimeia, que já fora tomada em 2014. Aliás, tomada pela Rússia sem qualquer resistência ucraniana naquela ocasião. E isto que Putin imaginou que iria se repetir. Ledo engano. Putin ficou frente a um enorme desgaste não previsto.

Outro fator não dimensionado por Putin foi referente às sanções impostas contra seu país. Também achou que iria se repetir o que aconteceu na tomada da Crimeia, quando o máximo que houve foi o bloqueio a algumas importações da Rússia. Desta vez vieram medidas que incluem congelamento de ativos do Banco Central russo, fechamento do espaço aéreo e restrições comerciais, que começaram a prejudicar gravemente a economia da Rússia e já desencadearam uma espiral negativa no rublo e uma corrida bancária no país. E até mesmo o gás e o petróleo russos, dos quais a Europa é muito dependente, entraram na lista do bloqueio. Já os magnatas russos, próximos a Putin, tiveram suas contas e bens bloqueados no exterior.

E o terceiro erro de avaliação de Putin foi quanto à participação da Otan no conflito. Esta participação não está se dando de maneira direta porque a Ucrânia não é membro da organização e, como tal, não está amparada pelo tratado de assistência recíproca. Mas se dá com o envio, a cada dia maior, de armamentos para a Ucrânia. Sistemas antitanques e antimísseis, armamentos pesados, munições, drones e diversos outros tipos de armamentos estão sendo enviados. O Reino Unido cogita mandar aviões. O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, aprovou inicialmente uma verba de 3,5 bilhões de dólares em ajuda à Ucrânia. Porém nesta semana já pediu ao parlamento um aumento para 33 bilhões de dólares. Sendo 20 bilhões somente para armamentos e o restante em ajuda humanitária, para alimentos e medicamentos. Tudo isto fez com que Putin dissesse que o Ocidente está fazendo uma guerra por procuração contra a Rússia. O que não deixa de ser verdade. E é mais um fator que não estava na sua avaliação. 

 


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