Um país entre duas potências

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A reeleição de Lukashenko em Belarus não surpreende a ninguém

Jurandir Soares

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A Belarus, ou Bielorrússia como muitos ainda preferem chamá-la, está envolta em protestos e prisões desde 9 de agosto, quando o resultado das eleições apontou uma vitória de Alexander Lukashenko por mais de 80% dos votos. A vantagem deste que é chamado de o último ditador da Europa não surpreende. Como em toda a ditadura disfarçada, as vitórias de Lukashenko vem se repetindo desde 1994, a cada cinco anos, com percentuais em torno de 90% dos votos. Desde a primeira eleição, a oposição tem protestado, e organismos como a Organização para Segurança e Cooperação na Europa não reconhecem o processo como democrático.

Porém, até agora, nenhuma manifestação pós-eleição ganhou tanta força e repercussão internacional como as que estão acontecendo. As imagens têm mostrado as ruas de Minsk, a capital, permanentemente tomadas pelos manifestantes. E, como em toda ditadura, os líderes manifestantes acabam presos. Neste caso, não só os lideres, mas cerca de 7 mil pessoas acabaram presas. Quatro já morreram. Para não ser presa, Svetlana Tikhanovskaya, de 37 anos, que disputou a eleição com Lukashenko, se refugiou na Lituânia. Ela, que concorreu em lugar de seu marido Siarhei Tikhanovski, que fora preso pela ditadura. Svetlana formou uma frente oposicionista que inclui Svetlana Aleksiévich, Prêmio Nobel de Literatura em 2015. Nessa frente também se inclui Maria Kolesnikova, de 38 anos, que chefia o chamado Conselho de Transição. Esta desapareceu nesta segunda-feira e reapareceu na terça-feira, presa na fronteira com a Ucrânia. 

E por falar em Ucrânia, a situação de Belarus se assemelha em muito à daquele país vizinho. Ou seja, viveu durante décadas sob o tacão da União Soviética e do regime comunista e sua população se mostra dividida. Uma parte quer seguir com os vínculos com Moscou e outra parte quer usufruir as benesses do capitalismo unindo-se ao Ocidente. E aí é que se dá o choque. Belarus faz fronteira com a Rússia por sua parte Leste. E também com a dividida politicamente Ucrânia, ao Sul, e ainda, a Oeste, com a Polônia, Lituânia e Letônia, que fazem parte da Otan, a Organização do Tratado do Atlântico Norte. O que faz com que forças bélicas orientais e ocidentais estejam junto às suas fronteiras, podendo, em decorrência, ser cenário dessa confrontação. A propósito, em 2017, forças russas e bielorrussas realizaram manobras simulando uma invasão do país pelas tropas da OTan. E, diante do cenário hoje vigente em Belarus não surpreende o fato de o presidente Vladimir Putin ter oferecido ajuda a Lukashenko para sufocar os protestos em seu país. Fazendo crescer a tensão internacional.


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