Livros, livros e mais livros

Livros, livros e mais livros

Quatro obras essenciais para ler ainda neste verão são as dicas do colunista de Cultura do CP

"E Fomos Ser Gauche na Vida", obra essencial de memórias autobiográficas da jornalista Lelei Teixeira

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O ano de 2021 começa com uma série de boas obras dos mais diversos gêneros (algumas que ainda são de 2020) e com temas que vão desde as memórias autobiográficas e a poesia até o ensaio e a ficção sobre laços familiares. O pandêmico 2020 se foi, mas o 2021 veio e os cuidados para ficar mais em casa do que na rua continuam. Por isso, preparei uma lista de alguns livros essenciais para serem lidos neste verão de 2021.  

 

“E Fomos Ser Gauche na Vida”, de Lelei Teixeira (Pubblicato Editora)

 Quem em Porto Alegre de uma geração acima dos 40 anos de idade não trabalhou ou teve um contato mais estrito com a jornalista Lelei Teixeira. Neste livro de memórias autobiográficas, que ela tinha em conjunto com a irmã Marlene Teixeira, falecida em abril de 2015, o projeto era de falar sobre nanismo, acessibilidade, inclusão e discriminação, refletir sobre essa condição e o preconceito que a diferença provoca a partir de memórias pessoais. Com a morte de Marlene, o projeto ficou em fogo brando, com Lelei começando a escrever sobre o tema no blog Isso não é comum do Sul21 até agosto do ano passado. Nestes quatro anos de escrita na internet, ela reuniu fragmentos da trajetória dela e da irmã e o livro tomou forma. E o que se pode dizer da obra é que ela reafirma a força da luta contra este preconceito, que se faz tão justa quanto as causas dos negros, das mulheres, dos trans, dos gays, deficientes e de outros grupos atingidos por preconceito e/ou violência. O livro está no topo da lista dos mais vendidos da Bamboletras e a despeito do tema do nanismo, as memórias de Lelei (e também de Marlene) são uma espécie de livro de história informal do jornalismo praticado no Rio Grande do Sul desde os anos 1970, quando Lelei começou em um estágio na Zero Hora, em 1974, passando também por Rede Pampa, TV Guaíba, TVE, Correio do Povo e outros veículos até chegar à produção de conteúdo em assessoria de imprensa. Lelei é minha prima em terceiro grau, prima segunda da minha mãe e meu tio Aldo Lopes é citado no livro como o diretor da escola em Jaquirana que fez os colegas respeitar a “anãzinha”. Um grande livro, seja você “gauche” ou “droite”. Uma lição de vida.

 

“A estrangeira”, de Claudia Durastanti (Todavia) 

Este livro trata do passado e o presente, um exame sobre os laços familiares, a partir de um casamento tempestuoso. Pela sensível observação de uma infância complicada e de uma adolescência solitária marcada por descobertas empreendidas — a respeito de si e dos outros — pela protagonista que é filha de pais surdos e é uma eterna “estrangeira”. Com este romance, a italiana nascida nos Estados Unidos, Claudia Durastanti, conquistou elogios da crítica europeia. O texto tem fluidez, capítulos curtos, com uma forma que captura lugares e o tempo. Leiam!

Crédito: Todavia / Divulgação / CP

 

 

 

“Estética e raça: ensaios sobre a literatura negra”, de Luiz Mauricio Azevedo  (Sulina)

 

O doutor em Teoria e História Literária pela Unicamp, Luiz Maurício Azevedo, é um colaborador assíduo do Caderno de Sábado. Seus artigos e ensaios tratam de literatura negra, de crítica e de autores que nem sempre recebem resenhas ou considerações em suplementos literários como é o caso de Ralph Elisson e James Baldwin. O próprio Luiz Mauricio define este livro de ensaios pela ótica do enfrentamento ideológico, com suor e sangue, na luta pela fortuna teórico-crítica em literatura negra. Em “Tenório e o anúncio da guerra”, por exemplo, ele relembra que apontou Jeferson Tenório como o acontecimento literário mais importante da literatura contemporânea e o feedback foi cercado de olhares tortos. E as suas profecias ou visão avançada da literatura acabaram dizendo que Tenório  seria logo publicado por uma grande editora, que seria um nome nacional e estaria nos principais veículos de imprensa do país. Também foi rechaçado por tal assertiva. “Não sou um homem rancoroso. Aceitarei, portanto, todos os pedidos de desculpas dos meus pares. Façam duas filas aqui no centro”. A pena de Luiz Mauricio é bem-humorada, irônica, certeira. Não farei uma resenha aqui. Só dei um gostinho para que os leitores procurem imediatamente a obra e entendam um pouco mais de literatura negra pela fortuna da prosa ensaística de Luiz Mauricio.

Crédito: Sulina / Divulgação / CP

 

 

 

“A arte que se baste”, de Celso Gutfreind (Artes & Ecos)

O livro do psicanalista e escritor muitas vezes lembrado como patronável da Feira do Livro de Porto Alegre terá lançamento no dia 4 de fevereiro, às 19h, pela plataforma Zoom, quando Gutfreind conversa com o crítico José Castello. Na orelha do livro, Castello diz que “a poesia de Celso vibra e nos faz vibrar. Nenhum conforto, nenhum relaxamento, nenhuma promessa. Calamos, paramos, respiramos, mas alguma coisa insiste em falar”. Pela Artes & Ecos, ele já tinha lançado outra obra de poesia: “Tesouro Secundário”. Neste livro que será lançado em fevereiro, estão lá as epígrafes antes de cada poema. Gente da melhor estirpe, como Henry David Thoreau, Thomas Mann, Edgar Morin, Ezra Pound, Natalia Ginzburg. Para exemplificar a concisão e a precisão dos seus poemas, me valho de “Novas Noções de Estética”:

“Nada é mais frágil/ do que um conteúdo./ Pode ser tristeza/ ou a alegria./ Vacila, vem cedo,/ claudica, vai tarde./  E só existe/ se a forma arde.” Me atrevo a ir mais adiante nas considerações de José Castello e dizer que Celso faz a palavra ceder o seu sentido mais intrínseco para que o seu eu lírico fale de Walt Whitman, epifania e descontinuidade. Para quem gosta de poesia, é um prato cheio de versos precisos, concisos, decididos. Mais em www.arteseecos.com.br.

Crédito: Artes & Ecos / Divulgação / CP


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