Indígenas fornecem alimentos para programas PAA e Pnae

Indígenas fornecem alimentos para programas PAA e Pnae

A data de ontem, dia do índio serve pare refletir e valorizar a cultura índigena

COLABORE

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O Dia do Índio, celebrado ontem (19), além de ser uma data para conhecer e valorizar a cultura indígena, neste ano traz boas notícias, como a inclusão social e produtiva de famílias Guarani e Kaingang em diversas aldeias do Rio Grande do Sul.

Em Maquiné, por exemplo, indígenas Guarani da Aldeia Yvyty (que significa Castelo, e se situa na localidade de Campo Molhado) se integram ao Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) como fornecedores de pinhão. Apoiados pela Emater/RS-Ascar e secretarias municipais de Assistência Social e de Agricultura de Maquiné, no ano passado os Guarani entregaram para o PAA 851 Kg de pinhão, resultado numa renda de R$ 5.667,03 para a comunidade. Para este ano, está prevista a entrega de 718 kg de pinhão, o que vai garantir mais R$ 5.083,44 de renda para a comunidade. Assim, nestes dois anos, os Guarani de Maquiné comercializaram 1.569 Kg de pinhão, gerando R$ 10.751,03 para a comunidade através desse mercado institucional, que é o PAA.

O pinhão coletado e entregue pelos indígenas nesta safra é destinado, junto com outros alimentos, para 50 famílias cadastradas no Centro de Referência de Assistência Social (Cras) para recebimento de alimentos através do programa, e os excedente é vendido na feira local. “É uma vitória que a gente conseguiu e a gente quer continuar fornecendo e aumentando a cada ano”, avalia o cacique Ramón Brizoela.
 

DIVERSIFICAÇÃO

No município de Cacique Doble, indígenas Kaingang, como Podalirio Veiga, estão comercializando seus produtos por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae). Após quatro anos de entrega de cerca de 40 kg de feijão para a alimentação escolar do município, Veiga se diz satisfeito com a comercialização e conta que produz “um pouco de tudo”. Ele pensa, para este ano, buscar alguma política pública para financiamento das lavouras.

Para a nutricionista do município, Edinara Roberta Accorsi, a experiência tem sido satisfatória. “Como sabemos, o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), através do Pnae, orienta a aquisição mínima de 30% dos alimentos da agricultura familiar, priorizando assentados da reforma agrária, quilombolas e indígenas. Como temos indígenas no nosso município, esses estão produzindo alguns alimentos. Já foram adquiridos feijão, ervilha e mandioca. O produto deles tem boas condições higiênico-sanitárias e são de qualidade. Então, é muito importante incluir esse povo na aquisição da alimentação escolar, dar preferência, incentivar o trabalho, mantendo os hábitos alimentares dessa cultura, a tradição alimentar deles. É muito importante trabalhar com esse povo indígena e foi através da Emater que tive o contato”, conta Edimara.

No município de Água Santa, a Emater/RS-Ascar está envolvida com uma ação de segurança e soberania alimentar, incentivando e orientando na produção de alimentos. O produtor indígena Kaingang, Elvis Braga, da área indígena Faxinal, conta feliz sobre a produção de galinhas caipiras. “A maioria do pessoal plantou milho e tem criação de galinha caipira. Cada morador tem umas 30 ou 40 galinhas, para consumo da carne e ovos, e algumas famílias começaram com criação de leitões”, explicou.

Além de carne e ovos, a área indígena Faxinal, onde vivem 25 famílias, coleta e comercializa pinhão e produz mandioca, fornecendo para uma cooperativa familiar. Elvis e os demais moradores pretendem se aprimorar no cultivo do tomate. “É uma experiência boa a produção de tomate, plantamos em cima do laço, mas nesse ano em parceria com a Emater vamos plantas duas ou mais variedades e ter para vender. O que plantamos, consumimos e vendemos. Também fizemos molho de tomate”.

A liderança Kaingang Brasília de Oliveira Freitas, da Terra Indígena da Guarita, onde vivem 7.600 indígenas, entre os municípios de Tenente Portela, Redentora e Erval Seco, se diz muito preocupada com as temáticas da inclusão social de gênero e com os direitos dos povos indígenas, não cumpridos desde a Constituição de 1988. Segundo ela, nesse momento de pandemia são aguardadas cestas básicas da Funai, para garantir a segurança alimentar, considerada um “alimento adequado e tratamento preventivo para a família. Temos terra produtiva, mas não temos fonte de recursos para produzir essa segurança. Acredito que as mulheres devem abraçar essa causa, através do coletivo nacional e estadual”, avalia Brasília, que anuncia a criação de um coletivo de mulheres do Guarita, para ajudar na sustentabilidade e na inclusão social de gênero e geração de alimentos. “Também defendemos a proteção da nossa semente crioula, que é da cultura indígena, que tá se perdendo, e nós precisamos disso”, ressalta.


SEMEANDO NAS ALDEIAS

Como forma de ampliar o acesso a alimentos e minimizar os impactos sociais e econômicos da pandemia da Covid-19 a 5.260 famílias indígenas das etnias Charrua (17), Guarani (921) e Kaingang (4.322), que vivem em 150 aldeias, localizadas em 67 municípios do Estado, a Emater/RS-Ascar, em parceria com a Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr), lança, neste mês de abril, o Projeto Semeando nas Aldeias.

As sementes de hortaliças foram adquiridas com recursos da Seapdr e vão beneficiar famílias assistidas pelos extensionistas da Emater/RS-Ascar. Abóbora Xingó Jacarezinho Casca Grossa, Melancia Crimson Sweet, Melão Hales Best Jumbo, Mogango Enrugado Barão, Moranga de Mesa (Exposição) e Repolho Chato de Quintal são as seis espécies de hortaliças adquiridas. Cada kit de sementes de hortaliças conterá as seis espécies. As famílias também receberão sementes de milho e de feijão e orientações sobre horticultura, compostagem e o cultivo adequado de cada espécie, além de informações sobre os seus benefícios nutricionais, incluindo receitas que valorizam e enriquecem os alimentos tradicionais já consumidos pelas famílias indígenas.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895