A caminho do campo

A caminho do campo

Em busca de qualidade de vida, conexão com a natureza e distância dos problemas dos centros urbanos, há quem decida morar e/ou trabalhar no campo e, com isso, seja qualificado como neorrural pelos estudiosos

Por
Taís Teixeira, Angélica Silveira e Otto Tesche

Taís Teixeira

Um movimento de moradores da cidade, com profissões urbanas, que optam por ir morar no campo e, muitas vezes, ganhar a vida com atividades rurais, vem sendo percebido tanto no País quanto no Estado desde os anos 1990 e já é objeto de análise de estudiosos, que até definem esses “migrantes” como neorrurais. Mesmo que eventualmente sejam tratados como tendência, esses deslocamentos não podem ser comparados com algum tipo de inversão da migração que levou a população de zonas rurais do Brasil a cair de 44,0% do total em 1970 para 15,6% em 2010, enquanto a das áreas urbanas subiu de 55,9% para 84,3%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Feita a ressalva, o conceito dessa escolha do campo é amplo e contempla múltiplas definições. Uma delas é do sociólogo e professor do Programa de Pós-Graduação e Desenvolvimento Rural da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGDR/Ufrgs) Sérgio Schneider, que entende que a identidade do neorrural concentra-se na comutabilidade entre o urbano e o rural, não se limitando a identificar se ele nasceu ou se mora em um dos dois ambientes.

“O que importa é que ele constrói uma nova relação entre rural e urbano, que não é mais baseada no antagonismo, como era no passado”, afirma Schneider. Para explicar, o professor usa a expressão “fronteiras borradas”, o que significa que não há limites claros entre rural e urbano. “É nessa área cinzenta que está a nova ruralidade”, destaca.

Já a jornalista e mestre em Desenvolvimento Rural pelo PPGDR/Ufrgs Bruna Karpinski considera como neorrurais aqueles que têm origem urbana e migram para áreas rurais. “São pessoas que decidem deixar emprego e/ou moradia estáveis na cidade e ir para o campo trabalhar com a produção de alimentos para autoconsumo”, define. Bruna, que em 2020 defendeu uma dissertação considerada como um dos trabalhos pioneiros sobre o tema no Estado, acrescenta que também ocorre a comercialização do excedente e a geração de renda.

Schneider divide o neorruralismo em três fases no Rio Grande do Sul. A primeira, nos primeiros anos da década de 1990, foi a da busca de áreas para sítios de lazer na região Metropolitana de Porto Alegre. Na segunda, a partir dos anos 2000, ocorre uma expansão para a serra gaúcha, na qual a finalidade era a aquisição de casas de moradia. A terceira começou em 2015, quando os neorrurais passaram a se estabelecer ao redor de cidades que são polos agrícolas, como Santa Rosa, Erechim e Passo Fundo. “As mudanças de logística, a facilidade de comprar carros e a internet impulsionaram essa migração, que acredito que deve ser uma tendência cada vez mais evidente”, avalia.

O trabalho acadêmico de Bruna Karpinski analisou um grupo de neorrurais agroecologistas da Associação dos Produtores da Rede Agroecológica Metropolitana (Rama). Segundo Bruna, um resultado que chamou a atenção foi que, na época, das 46 unidades de produção certificadas pela associação, 22 (47,8%) eram de neorrurais. A jornalista criou critérios para mapear a pesquisa, como as principais motivações que impulsionaram essa mudança. Em ordem de importância, as mais citadas foram as ambientais, sociais e econômicas. A análise feita mostra uma tendência de aumento gradual do fluxo da cidade para o campo ao longo das últimas três décadas. “Embora os dados sejam anteriores à pandemia, o que se percebe é uma crescente valorização dos espaços rurais no cenário atual, um indicador de que o movimento de neorrurais deve seguir avançando”, observa Bruna.

O presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag-RS), Carlos Joel da Silva, percebe a chegada dos novos rurais há uns dez anos. O dirigente observa que muitos mantêm algum trabalho na cidade e também no campo, onde moram. “É a chamada pluriatividade”, ressalta Schneider, que qualifica o termo como uma marca do novo rural. “No campo, já não vivem mais apenas agricultores, mas outros atores, como os residentes, os aposentados e os neorrurais, sendo que muitos desses vivem no rural, mas trabalham fora, formando o grupo dos pluriativos”, explica.

O coordenador comercial de vendas da imobiliária Guarida Imóveis, Arion Peixoto de Oliveira, relata que a busca por áreas rurais subiu muito na pandemia, especialmente em Porto Alegre, Gravataí, Viamão, Eldorado do Sul, Guaíba e Cachoeirinha. “Essas vendas aumentaram em torno de 50% no período”, mensura. “A pandemia mostrou que é possível trabalhar em home office e por isso muitos procuram sítios com uma boa infraestrutura”, afirma. O professor Schneider acredita no processo de ressignificação do espaço do campo, que desperta o interesse de pessoas que não têm objetivo agrícola, como no passado, porque quem trabalha e vive nele já não depende mais apenas das atividades e profissões ligadas à produção rural, o que é um indício da multiplicidade do conceito. “Rural é sinônimo de agrícola; neorrural é sinônimo de serviços”, diferencia.

Motivações diversificadas

Estudioso observa que neorrurais optam pela mudança para o campo por diferentes razões, entre as quais estão as de empreender em busca de nichos econômicos, buscar lazer e descanso, apostar no cultivo agroecológico e preservação da natureza e aplicar tecnologia à produção

Para entender melhor os fatores que impulsionaram o movimento dos novos habitantes rurais, o sociólogo e professor do Programa de Pós-Graduação e Desenvolvimento Rural da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGDR/Ufrgs) Sérgio Schneider criou quatro tipos sociais. Uma dessas categorias é a dos Neorrurais Empreendedores, que quase sempre têm raízes urbanas e decidem morar e investir em uma produção, geralmente de nicho, como cogumelos, por exemplo. Outra é a dos Neorrurais Sitiantes ou Residentes, que quase sempre têm raízes urbanas e decidem morar e investir em um pedaço de terra com a finalidade de lazer, descanso e regozijo. A terceira é a dos Neorrurais Ambientalistas (orgânicos ou agroecologistas), formada quase sempre por jovens, que raramente possuem dinheiro para comprar um pedaço de terra individualmente e às vezes optam por compra coletiva, cuja principal motivação é política e ideológica, não idílica ou econômica, como as duas anteriores. A quarta é a do Rent-Seeker ou Agronegócio e conta com o jovem filho de empreendedor rural ou urbano que quer fazer algo diferente na produção agrícola, é focado nas tecnologias, tem menos apreço pelas questões ambientais e não raro usa agrotóxicos para elevar a produtividade da terra.

A dissertação de Bruna Karpinski analisou 17 unidades ligadas (11 de Porto Alegre e 6 de Viamão) à Associação dos Produtores da Rede Agroecológica Metropolitana (Rama), que engloba neorruralistas de Porto Alegre, Viamão, Glorinha, Gravataí, Guaíba, Eldorado do Sul, Cachoeirinha e Alvorada. As principais motivações citadas pelos entrevistados para justificar as opções que fizeram foram as ambientais, sociais e econômicas. Nas ambientais destacaram-se a busca por saúde, bem-estar e qualidade de vida, possibilidade de cultivar o próprio alimento e sensação de tranquilidade; nas sociais estão a busca por valores como liberdade e simplicidade, fazer transformações sociais no meio rural e mais autonomia e tempo livre; nas econômicas, fuga da pobreza, possibilidade de renda e procura por habitação mais barata.

O estudo também apontou que apenas 3 das 17 unidades são arrendadas, predominando um perfil de produtores proprietários. “Esse aspecto evidencia que a preservação e o cuidado com o lugar escolhido para viver é importante para os neorrurais”, enfatiza Bruna. O trabalho acadêmico identificou ainda que predomina a faixa etária com mais de 50 anos (72,7%). Os demais têm entre 29 e 46 anos. Entre os neorrurais que mudaram de profissão, destacam-se os professores (4), biólogos ou consultores ambientais (2) e comerciantes (2). Também há uma empresária e uma assessora jurídica. O período em que ocorreu mais migração, 11 no total, foi entre 2010 e 2019, o que mostra que o movimento vinha ganhando força antes da pandemia.

O técnico da Emater/RS-Ascar, Luis Paulo Vieira Ramos, que atende os associados da Rama em Porto Alegre, observa que houve ampliação expressiva de neorrurais em território da Capital em apenas dois anos, de 14 em 2019 para 25 agora. “As pessoas estão se mudando para o campo, pois, com as restrições da pandemia, a zona rural acaba dando mais liberdade”, acredita. “Vejo que as cidades não conseguem oferecer segurança e transporte enquanto o campo está com mais estrutura, como acesso à internet, o que está despertando o interesse de um novo habitante rural agroecológico, que quer fazer uma produção limpa”, constata.

Essa também é a percepção do professor de graduação em Agronomia e do Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia Ambiental da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), em Erechim, e do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural Sustentável da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste/PR), Valdecir José Zonin, ao comentar que há um maior ingresso de urbanos no meio rural ao redor de grandes centros. Ele ressalta que uma das motivações dos que mudam é a falta de liberdade substantiva de moradores das cidades. “Além disso, pode ser simplesmente a motivação ao lazer, ao convívio com a natureza, à produção de alimentos mais limpos para o autossustento, independentemente desta família ter tido laços com o rural, ampliando-se, desta forma, suas liberdades”, avalia.

As motivações também variam conforme o local e a época. Schneider conta que o movimento surgiu nos anos 1960 na França como uma das contestações ao capitalismo, mais ligada às questões ambientais. A partir dos anos 2000, deixou de ser um estilo de vida e passou a priorizar a inserção econômica no sistema vigente. “Não há mais o interesse em se contrapor ao capitalismo, mas sim, em fazer parte dele”, observa.

FAMÍLIA CONQUISTA QUALIDADE DE VIDA

O casal de produtores de morango Joel Moreira Nunes, de 38 anos, e Niaia dos Santos Nunes, de 35 anos, de Rio Grande, sempre teve vontade de viver no campo. No mundo do trabalho urbano, Joel fazia vistoria de veículos em um Centro de Formação de Condutores e Niaia, formada em Administração de Empresas, havia deixado o mercado de trabalho em 2017, quando engravidou da filha caçula, Ester, hoje com 3 anos. Eles também são pais de Eliel, de 11 anos. 

“O ritmo frenético da cidade sempre nos incomodou bastante. Víamos o tempo passar e tínhamos a sensação que não estávamos vivendo como gostaríamos”, recorda Niaia. Em 2020, pouco antes do início da pandemia de Covid-19, surgiu uma oportunidade e a família foi para um sítio na Cascatinha, 5º Distrito de Pelotas. Posteriormente, por perceber que Rio Grande tinha poucos produtores de morango, o casal decidiu ir para o sítio do pai de Nunes, na localidade de Domingos Petroline, no município portuário. O espaço tem três hectares e fica próximo à BR 392, o que facilita os deslocamentos para os pontos de oferta aos consumidores. 

Depois de estabelecer o cultivo de morangos, a família comprou uma vaca leiteira e agora produz queijo, doce de leite e ambrosia. Entre os novos projetos está o de cultivar hortaliças também em estufas suspensas, como faz com os morangos.

Hoje, Niaia enumera a qualidade de vida como a principal vantagem de morar e produzir no campo. E cita também a tranquilidade, o contato com a natureza, a produção do próprio alimento, a redução do custo de vida e a troca de experiências com pessoas da zona rural. (Angélica Silveira)

Joel e Niaia (com os filhos) cultivam morangos e preparam a diversificação das atividades. Foto: Rose Nunes / Divulgação / CP

CASAL INVESTE E DIVERSIFICA PRODUÇÃO

Ângelo Josué Heinen, 30 anos, e Adriana Cristiane de Freitas, 29 anos, desistiram do trabalho na cidade, que haviam buscado no passado, e apostaram na produção rural como atividade econômica da família. A decisão foi tomada em 2011, quando a então vendedora de loja e o então servente de pedreiro, já namorados, optaram por morar em Estância São José, no interior de Venâncio Aires. Hoje o casal cultiva tabaco, milho, verduras e aipim e cria gado, porcos e galinhas.

Inicialmente, Ângelo e Adriana plantaram 60 mil pés de tabaco em área arrendada. “Tivemos algumas dificuldades, como instalações precárias e pouco apoio financeiro, mas sempre corremos atrás e fomos orientados a conseguir o melhor”, recorda Adriana. Depois de cinco anos, os dois compraram o primeiro pedaço de terra e investiram na estruturação da propriedade e aquisição de um trator. “A cada ano aumentamos a área do tabaco para conseguir comprar mais terra”, relata. “Construímos um silo secador para mil sacos de milho e hoje plantamos 150 mil pés de tabaco.”

Depois da colheita, o casal planta milho grão e silagem para o alimento do gado na resteva do tabaco. Para manter a fertilidade, o solo recebe calcário, esterco e adubação verde todos os anos. “O retorno só vem se você investir em nutrientes para a terra”, afirma Adriana.

Ao mesmo tempo que admite que uma das dificuldades do início foi a inexperiência com a lavoura, o casal revela que não pensa em mudar para a cidade. “O lado bom de morar no campo é poder respirar um ar puro, trabalhar naquilo que traz satisfação”, afirma Adriana. (Otto Tesche)

Além de plantarem tabaco, milho, verduras e aipim, Adriana e Ângelo criam gado, porcos e galinhas e descartam voltar para a cidade. Foto: Arquivo pessoal

DAS CONSULTORIAS À AGROECOLOGIA

Cansados de prestar consultoria ambiental, os biólogos Leonardo Bohn, de 38 anos, e Lucas Silveira, 35 anos, transformaram a vontade de trabalhar com sustentabilidade e preservação em realidade e arrendaram uma área de 1,2 hectare, no bairro Belém Velho, em Porto Alegre, para cultivar folhosas, legumes e verduras. Além disso, criaram a Hortalícias, delivery de cestas personalizadas dos produtos orgânicos que cultivam, na qual o cliente faz seu pedido a partir de listas semanais de disponibilidade enviadas pelos produtores pelo WhatsApp. A pandemia elevou a venda de 20 a 30 cestas por semana para uma média entre 100 e 120. “Nosso propósito é sermos agentes de mudança e trabalhar com menos impacto no planeta produzindo alimentos saudáveis”, resume Bohn.

A opção de Bohn e Silveira foi objeto de estudo da pesquisa de Bruna Karpinski, que entende que o neorruralista agroecológico “é contrário ao uso de agrotóxicos e vê o rural como espaço que pode ressignificar as relações entre indivíduo, natureza e sociedade, possibilitando um equilíbrio difícil de ser encontrado na cidade”. Bruna acrescenta que, em geral, eles valorizam o diálogo dos saberes, a solidariedade e a ajuda mútua. Para o sociólogo e professor do PPGDR da Ufrgs Sérgio Schneider, há diferenças entre produtores orgânicos, que não usam adubos e pesticidas, e agroecológicos, que preconizam as práticas de produção aliadas ao compromisso mais amplo com a natureza, o ambiente e a sociedade. “A agroecologia preconiza a sustentabilidade de forma mais ampla, não apenas na produção”, afirma.

Silveira (de camisa xadrez) e Bohn arrendaram área para cultivar folhosas, legumes e verduras. Foto: Guilherme Almeida

PSICÓLOGO BUSCA SUSTENTABILIDADE

Nascido e crescido em Porto Alegre, formado em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com trabalhos com crianças vítimas da violência e em vulnerabilidade social em Porto Alegre e em educação social de refugiados (2014-2017) na Alemanha, Michel Lara de Oliveira é o que os estudiosos classificam de um neorrural agroecologista desde 2018. Naquele ano ele comprou o Sítio Rizoma, com sete hectares, em Três Forquilhas, e, desde então produz alimentos orgânicos no local, contando, inclusive, com o certificado agroflorestal da Secretaria do Meio Ambiente (Sema).

Hoje, aos 30 anos, Michel vende mais de 8 toneladas de produtos por ano entre bananas, laranjas, bergamotas e outros dos cerca de cem produtos orgânicos que cultiva. No sítio para o qual migrou, também cria galinhas e tem quatro cabeças de gado leiteiro. Além disso, é secretário do Organismo Participativo de Avaliação de Conformidade Orgânica (Opac) do Litoral Norte e integrante do conselho administrativo da Cooperativa Mista de Agricultores Familiares de Itati, Terra de Areia e Três Forquilhas (Coomafitt). “Meu objetivo principal foi o autoconsumo com sustentabilidade e depois passei para a comercialização”, pontua.

De família e origens urbanas, Michel conta que mudou a visão que tinha durante sua experiência internacional. “Passei a refletir que os grandes centros não eram locais para resolver as questões sociais, mas talvez fossem parte das causas do problema”, recorda. Junto com isso, surgiu a preocupação com o meio ambiente, o que gerou o desejo de mudar de vida e a decisão de voltar ao Estado e se tornar um neorrural agroecologista.

Frutas como bananas estão entre os cerca de cem produtos orgânicos que Michel cultiva. Foto: Samanta SP Arremberger Desidério / Divulgação / CP

Recepção ao ar livre

Apostar na produção rural e oferta de serviços turísticos é uma opção para quem mora na cidade, mas quer passar a ter conexão com a natureza

A vontade de fazer do campo a própria casa fez com que Luiz Carlos Azevedo Boehl Filho deixasse a oportunidade de seguir para outro órgão público quando a empresa em que trabalhava foi extinta e se mudasse definitivamente para a propriedade rural da família, que existe desde 1906, no bairro Lami, na zona Sul de Porto Alegre. “Diziam que eu era louco de não me aposentar, de trocar algo certo e começar de novo, mas eu pensei: é agora ou nunca”, recorda o produtor, nascido e criado na cidade, mas que costumava passar finais de semana e feriados com os familiares que permaneciam na zona rural. Hoje, aos 66 anos, o neorrural admite que a rotina à frente da Granja Lia é puxada, mas demonstra satisfação com a escolha que fez. “Minha origem é urbana, mas é na vida rural, na natureza, que me encontrei”, afirma. “O estresse da cidade, do trabalho, a falta de autonomia, o trânsito, tudo isso me gerava um cansaço emocional que tornava o meu cansaço físico ainda maior”, compara.

Luiz Carlos e Isabel Cristina repartem com os visitantes o contato com a terra e as plantas. Foto: Guilherme Almeida

Em 1999, Boehl terminou com a produção de leite e passou à de hortigranjeiros e frutas cítricas para autoconsumo e comercialização. Em 2005, começou a investir também em turismo rural receptivo. Em 2009, a Granja Lia passou a participar da Associação dos Produtores da Rede Agroecológica Metropolitana (Rama).

Parceira de Boehl na vida e nos projetos desde 2002, a esposa, Isabel Cristina da Cruz Pacheco, de 62 anos, foi morar na Granja Lia em 2005, quando nasceram as gêmeas Clara e Gabriela, mas não se integrou totalmente às atividades rurais nos primeiros anos. Servidora pública, seguiu trabalhando em Porto Alegre, fazendo diariamente cerca de 70 quilômetros de ida e de volta durante sete anos. “Eu segui nesse ritmo até 2012, quando me aposentei”, recorda. Depois disso, Isabel conseguiu se dedicar com exclusividade ao cultivo da terra e à recepção de visitantes em busca de ar puro, comida caseira, caminhadas, contato com animais e a natureza, que começam a voltar agora, com o surgimento de sinais de que a pandemia do coronavírus ficará sob controle.

A extensionista rural na área social e assistente técnica regional da Emater/RS-Ascar em Frederico Westphalen, Dulcinéia Haas Wommer, afirma que atividades como o turismo rural são expressões da biofilia (amor pela vida, pela natureza), conceito mais usado em áreas como o paisagismo. “Se antes era bom ir a um shopping, hoje é bom se reconectar com a natureza”, compara.

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895