Ansiosos pelo retorno

Ansiosos pelo retorno

Expositores do Pavilhão da Agricultura Familiar tiveram dificuldades para adaptar negócios aos tempos de pandemia e acreditam que volta do contato com o público é um dos caminhos para a total recuperação de suas atividades

Por
Patrícia Feiten

Para o público que acompanha a Expointer, será como o retorno de um clássico. Um dos espaços mais movimentados do evento, o Pavilhão da Agricultura Familiar deixou para trás o modelo de atendimento drivethru, adotado no ano passado em razão da pandemia, e voltará a receber visitantes interessados em levar para casa ou para a loja produtos como queijos, embutidos, pães, vinhos e alimentos orgânicos. Nesta edição da feira, o espaço de 7 mil metros quadrados terá 210 estandes, reunindo 228 agroindústrias e produtores de artesanato de 126 municípios gaúchos, além de empreendedores do Amapá, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

O presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag-RS), Carlos Joel da Silva, diz que a 44ª Expointer terá um impacto importante na recuperação das agroindústrias familiares, afetadas pelo cancelamento de feiras regionais e municipais desde o início da crise sanitária. “As mais consolidadas passaram a vender para atacados, supermercados e padarias. Algumas se reinventaram, passaram a vender por WhatsApp e internet, mas muitas não conseguiram, porque vendem em pequenas quantidades”, observa. Organizadora do pavilhão, a Fetag não faz projeções de negócios para o evento. “O pessoal vem com o objetivo de retomar contatos, fortalecer a marca, e sabe que é um novo momento”, analisa Silva.

Adaptado às regras sanitárias, o pavilhão terá controle de fluxo, limitado a 800 pessoas, e distanciamento de 1,5 metro entre os estandes. A oferta de produtos para degustação está proibida.

Entre os expositores, o clima é de ansiedade pelo retorno do público. O empreendedor Rodrigo Aloisio Staudt, de Ivoti, espera conquistar o paladar dos visitantes com queijos especiais da marca Nova Alemanha, elaborados com leite de vaca e cabra. Ele levará para o evento 2 mil peças dos tipos colonial, gouda, maasdam, morbier e – a novidade – um queijo emental de 13 quilos. “Se houver necessidade, vamos repor o estoque”, adianta.

A Nova Alemanha processa 80 mil litros de leite – o de cabra vem de produção própriaerepresenta 10% desse total – e produz 3,5 mil peças de queijo por mês. Staudt começou o negócio com a irmã, Débora Cristina, há 17 anos. Na época, ele fornecia leite de cabra a uma agroindústria da região, que encerrou as atividades. “Não tínhamos a quem vender a produção, começamos a fabricar queijo, comercializando as peças no Brique da Redenção, em Porto Alegre. Posteriormente, uma empresa de laticínios fechou, produtores de leite nos procuraram e começamos a fazer queijo de vaca”, conta.

Sócia da Sulleite, cooperativa de produtores de leite de Santa Vitória do Palmar, Dulce Bueno vai prospectar uma expansão de negócios durante a Expointer. Em abril, a empresa obteve o registro no Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Sisbi), que a autoriza a comercializar seu doce de leite em outros estados. Quem visitar o estande encontrará uma versão curiosa da guloseima – um doce de leite “forneável”, disponível em baldes de 4,8 quilos. “As doceiras de Pelotas pediam um produto mais consistente, desenvolvemos o produto para atender essa clientela”, explica Dulce.

No mercado há 22 anos, a cooperativa tem 21 associados. A produção do doce começou em 2003 como uma forma de garantir melhor remuneração aos produtores. “Visitamos fábricas uruguaias e de Minas Gerais, pegamos algumas ideias”, lembra Dulce. Hoje, o empreendimento capta 80 mil litros de leite por mês. Parte desse volume vira ingrediente do doce de leite – são 15 toneladas por mês – e o restante é destinado a um laticínio de Pelotas.

O expositor Leandro Hilgert, de Harmonia, vem de uma família pioneira na produção da mais brasileira das bebidas. Nos anos 1940, os tios-avós faziam cachaça de alambique e vendiam na própria comunidade. Ele criou a cachaçaria artesanal Harmonie Schnaps em 2004 e desde 2006 participa da feira em Esteio. “No ano passado, mesmo com as restrições, saímos muito satisfeitos”, recorda.

A cachaçaria produziu 32 mil litros de bebida em 2020, com cana-de-açúcar cultivada em 6 hectares próprios e adquirida de agricultores associados. Neste ano, lançará duas novidades na Expointer – uma cachaça extra premium envelhecida por seis anos em dois tipos de carvalho, francês e americano, e uma reserva especial de 2004 em edição limitada de 800 garrafas. “Tem lojista que anda por horas dentro do pavilhão à procura de produtos novos. Fechamos parceria na Expointer e depois ele se torna um comprador ativo”, destaca Hilgert.

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895