Arroz para os animais

Arroz para os animais

Cadeias produtivas discutem o uso do grão na composição da ração de aves e suínos para compensar a escassez do milho

Por
Danton Júnior e Nereida Vergara

A produção excedente de arroz da safra 2020/2021, que segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) deve ficar em torno de 600 mil toneladas, e a queda das exportações do produto podem abrir a porta para o aproveitamento do grão na alimentação animal. A alternativa foi debatida na última reunião do Projeto Duas Safras, que reúne representantes do Sistema Farsul, da Embrapa e da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). Desta forma, a orizicultura conseguiria suprir parte da escassez de milho, escoar seus estoques e evitar uma queda maior de preços (a saca de 50 quilos de arroz, que iniciou a safra cotada em R$ 90,00, já está sendo comercializada por cerca de R$ 70,00).

O presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Alexandre Velho, é cauteloso ao abordar o assunto e destaca que esta é uma solução pontual. Conforme Velho, o segmento vai se guiar por análises técnicas e econômicas que indiquem se é viável entrar com o arroz na substituição do milho como parte da formulação das rações. “A intenção é avançar nesse processo, aproximando os interessados”, comenta o dirigente. Uma agenda de encontros técnicos e comerciais deve ser apresentada pelo projeto nos próximos dias.

O setor de produção de aves já demonstrou interesse no arroz como alternativa ao milho. “Desde que seja arroz descascado, ele tem um valor energético bem considerável, que pode ser usado na ração animal”, resume o presidente executivo da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), José Eduardo dos Santos. De acordo com ele, em alguns casos o cereal pode suprir até 70% do valor nutricional do milho. O uso do arroz na ração de aves não é exatamente uma novidade. Porém, a matéria-prima utilizada vinha sendo a quirera (arroz quebrado). Agora, com o excedente do grão disponível, passa a haver a possibilidade de uso do grão descascado.

Para Santos, a alternativa do arroz ajuda a reduzir a pressão causada pela procura por milho, porém trata-se de uma opção sazonal. A grande aposta do segmento é na utilização dos cereais de inverno, em especial o trigo e o triticale. A colheita do trigo, porém, inicia-se apenas no mês de outubro. “O setor vai ter que ser criativo”, afirma Santos, citando outras saídas como a busca de milho da Argentina e de outras regiões do Brasil. A safrinha do Centro-Oeste, no entanto, enfrenta problemas climáticos, o que deve limitar a oferta.

Diante desse cenário, Santos destaca a necessidade de criar uma cultura, dentro do setor de aves, de consumo de grãos alternativos, uma vez que a previsão é de que o preço do milho permaneça em um patamar alto por um bom tempo. “Não queremos ficar reféns desse sobe e desce”, observa. O custo e a escassez de milho têm sido os principais responsáveis pela desaceleração da indústria da carne de frango, que em junho reduziu os abates em 15% no Rio Grande do Sul.

As primeiras reuniões entre entidades do setor do arroz e potenciais compradores tiveram início nas últimas semanas. “Imaginamos que a partir de agora os negócios começarão a ser fechados neste sentido, o que pode diminuir um pouco o drama desses produtores de aves, suínos e leite”, acredita o economista-chefe do Sistema Farsul, Antonio da Luz. Mesmo com a recente autorização da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) para a importação do milho transgênico dos Estados Unidos, o economista alerta que o país norte-americano não tem matéria-prima suficiente para atender a necessidade do Brasil – assim como outros grandes produtores, como Argentina, Rússia e Ucrânia. Por outro lado, ele cita que a produção de arroz, na última safra, superou em 500 mil toneladas a previsão inicial, ao mesmo tempo em que a exportação caiu nos últimos meses.

Os criadores de suínos também veem a possibilidade como uma alternativa de redução de custos. Segundo o presidente da Associação dos Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (Acsurs), Valdecir Folador, o arroz pode ser utilizado na alimentação dos plantéis, desde que o seu custo-benefício seja viável. Ele afirma já haver casos de granjas que utilizam o farelo de arroz na alimentação dos animais. “O arroz é excelente para utilizar na alimentação de suínos, principalmente leitões, por ser um produto livre de micotoxinas”, resume.

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895