Café vira aliado da Amazônia

Café vira aliado da Amazônia

Novas cultivares e técnicas de manejo da Embrapa multiplicam a produtividade do grão e reduzem dependência da derrubada da floresta

Por
Carolina Pastl*

O café brasileiro, que nos anos 1970 motivou produtores a derrubar matas, agora está se desenhando como uma alternativa à preservação da Floresta Amazônica. Nos últimos anos, o investimento público de mais de quatro décadas em novas cultivares, técnicas e manejos têm possibilitado o cultivo sustentável da planta e mais renda à agricultura familiar local, que é a principal mão de obra da cultura, sem avançar em área. “Parece contraditório, mas não é”, garante o pesquisador da Embrapa Rondônia, Enrique Alves, que é um dos responsáveis por esses resultados.

Hoje, o espaço plantado com café no estado de Rondônia, que detém 97% da produção do grão na Amazônia, ocupa 70 mil hectares, área bem menor que os 300 mil hectares de 20 anos atrás. Neste mesmo período, a produtividade média aumentou de 10 para 40 sacas por hectare – e há margem para ir além. “Quando há agregação de renda para quem produz, há menor necessidade de expandir áreas para a atividade”, explica Alves. Além disso, o cafezal não prejudica o bioma. “O café, na verdade, vira um aliado da floresta, já que o solo da Amazônia depende dos seus galhos e folhas para ser produtivo”, esclarece a coordenadora técnica do Café Apuí Orgânico e Agroflorestal do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), Marina Yasbek.

Desde criança, Ediana Capich, de 44 anos, trabalha com a cultura. Mas foi nos últimos quatro anos que ela e o seu marido, Romário, acompanharam o pleno desenvolvimento do café na propriedade, localizada ao lado de uma Área de Preservação Permanente (APP), no município de Novo Horizonte do Oeste. Antes da assistência técnica prestada pelo Senar, o casal colhia uma média de 58 sacas por hectare em 1,8 hectare. Agora, a expectativa é ultrapassar 110 sacas por hectare na mesma área. “Mudamos completamente a nossa forma de trabalhar; não esperamos mais a planta ter deficiência para salvá-la”, resume Romário.

Romário e Ediana mudaram a forma de trabalhar e esperam elevar a produção de 58 sacas para 110 sacas por hectare | Foto: Renata Silva / Divulgação Embrapa

A Embrapa estima que a sua pesquisa, divulgada pela extensão rural, tem beneficiado 17 mil agricultores familiares na região. A instituição melhorou a qualidade genética de mudas por meio da tecnologia de clonagem; aprimorou o uso do solo com adubação e manejo; e desenvolveu novas técnicas para poda, secagem e armazenagem, para evitar o surgimento de fungos e outras doenças.

*Sob supervisão de Elder Ogliari

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895