Cautela na compra de insumos para o verão

Cautela na compra de insumos para o verão

Com taxas de juros mais altas no Plano Safra 2022/2023 e ainda contabilizando os prejuízos trazidos pela estiagem no último ciclo, produtores de soja aguardam melhora no preço do grão para adquirir fertilizantes

Projeção da Associação dos Produtores de Soja (Aprosoja-RS) indica produção de 21 milhões de toneladas da oleaginosa no Estado na safra 2022/2023, com expectativa de ampliação da área de 6,3 milhões de hectares plantada no ano passado

Por
Patrícia Feiten

Com o plantio dos cereais de inverno se aproximando do final no Estado e a perspectiva de liberação de recursos do Plano Safra 2022/2023 para financiar as próximas lavouras, os agricultores gaúchos começam os preparativos para a nova safra de verão. Os planos de compras de insumos do setor, que ainda se recupera dos prejuízos causados pela estiagem às culturas de soja e milho no início deste ano, ocorrem em um cenário de incertezas. O aumento dos custos de produção e os impactos do conflito entre Rússia e Ucrânia no mercado global de produtos agrícolas são as principais preocupações, de acordo com lideranças do setor.

Segundo o presidente da Associação dos Produtores de Soja do Rio Grande do Sul (Aprosoja-RS), Décio Teixeira, os agricultores que estão encaminhando propostas de financiamento nos bancos encontram uma situação mais complicada que no mesmo período de 2021. As dificuldades se referem aos custos do crédito – no novo Plano Safra, houve aumento de taxas em todas as linhas de custeio e investimento com juros equalizados em relação ao programa anterior – e do seguro agrícola. “É um plantio muito delicado que vamos fazer”, avalia Teixeira. 

Somados à alta dos insumos, explica o agricultor, esses custos preocupam ainda mais quando se considera a desvalorização da soja no mercado interno, um reflexo da queda dos contratos futuros da oleaginosa na Bolsa de Chicago. Após atingir R$ 207 no início do ano, a saca de 60 quilos do produto vem sendo negociada em torno de R$ 180 no Rio Grande do Sul. “O pessoal segurou um pouco (a compra de insumos) para ver o que vai acontecer nesse mercado”, destaca Teixeira. Ele prevê que a aquisição de itens como fertilizantes deve se intensificar a partir de agosto. “Se os preços não recuarem, o produtor vai reduzir a adubação”, diz. Para a safra de soja 2022/2023 no Estado, a Aprosoja projeta uma colheita de pelo menos 21 milhões de toneladas, com a ampliação da área cultivada no ciclo passado, que foi de 6,3 milhões de hectares.

O diretor executivo da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado (FecoAgro-RS), Sergio Feltraco, avalia que, apesar do cenário difícil, o pagamento de indenizações de seguro a produtores atingidos pela estiagem possibilitará a renovação do crédito rural. “O produtor aposta no sucesso da lavoura de trigo e não vai abrir mão de qualificar a próxima lavoura de soja”, diz Feltraco. Na expectativa de compensar as perdas com a lavoura de verão, os triticultores estão ampliando a área de cultivo do trigo neste ano. A Emater/RS-Ascar projeta a semeadura de 1,4 milhão de hectares, 15% a mais que na safra de 2021. 

Segundo o diretor executivo da Associação de Produtores de Sementes e Mudas do Rio Grande do Sul (Apassul), Jean Carlos Cirino, a comercialização de sementes certificadas de soja para a safra 2022/2023 já supera 60% do volume projetado, o que equivale à cobertura de cerca de 1,717 milhão de hectares no Estado – a estimativa considera os negócios fechados entre os produtores e os distribuidores. Cirino observa que o Rio Grande do Sul também abastece outros estados e a última estiagem reduziu a oferta de algumas cultivares. “Percebendo o cenário de escassez, (o produtor) antecipou a compra de sementes de soja”, explica.

Correio do Povo
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