Colmeias ameaçadas

Colmeias ameaçadas

Notificações de mortandade de abelhas mais que dobraram durante o ano passado

Por
Danton Júnior e Carolina Pastl*

O número de ocorrências de mortandade de abelhas atendidas pela fiscalização agropecuária do Rio Grande do Sul mais que dobrou em apenas um ano. Enquanto em 2019 foram formalizados 23 registros, em 2020 esse número subiu para 55. Deste total, 14 casos estão aguardando a conclusão das análises das amostras coletadas. Entre os demais, 37 continham resíduos de agrotóxicos e, em 32, foi detectada a presença do fipronil, inseticida introduzido no país em 1994 pela Basf, que deteve a patente do princípio ativo até 2008, e que é utilizado em lavouras de soja, milho e arroz.

Ainda que pareça pouca coisa, se comparado com acontecimentos anteriores, os números passam a ser considerados alarmantes pelo setor apícola do Rio Grande do Sul, que é o maior produtor de mel do Brasil, com cerca de 11 mil toneladas por ano e 37 mil apicultores. Entre dezembro de 2018 e fevereiro de 2019, por exemplo, o Estado já havia registrado a morte de 400 milhões de abelhas, atribuída à aplicação de fipronil e neonicotinoides. Na ocasião, a Basf e a Bayer, respectivas fabricantes, afirmaram ter compromisso com o gerenciamento responsável e ético de seus produtos e garantiram que, se utilizados de acordo com as boas práticas agrícolas e as recomendações das empresas na bula, eles são seguros para os seres humanos e o meio ambiente.

“Depois de um intenso trabalho feito pelo Ministério Público, Secretaria Estadual da Agricultura e Câmara Setorial, aliado à divulgação da imprensa, realmente é de se avaliar o que está ocorrendo, pois não era o que se esperava”, afirma o professor e coordenador do Laboratório de Apicultura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Aroni Sattler. 

Para a diretora da Associação dos Fiscais Agropecuários do RS (Afagro), Liese Vargas, esse problema pode estar acontecendo de forma acidental, no momento em que a abelha visita a flor para obter o pólen, ou pela má aplicação ou uso incorreto de agrotóxicos. Já para Sattler, a suspeita é de que as mortes estejam aumentando proporcionalmente ao número de áreas cultivadas. “É preciso saber logo o que está havendo, pois janeiro é época de floração da soja, por exemplo, e mais abelhas poderão se intoxicar”, adverte o professor da Ufrgs.

Embora não possa afirmar que a utilização de pesticidas seja a causa única da mortandade, a veterinária Rita Dulac Domingues, coordenadora do Programa Estadual de Sanidade de Abelhas, vinculado à Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr), afirma que o fato de serem encontrados resíduos na maioria das amostras indica que pode haver, sim, relação entre o uso incorreto destes produtos e a mortalidade das abelhas – até porque, no exame clínico das colmeias, nenhum outro sintoma de doença foi relatado pelos fiscais estaduais agropecuários. “A mortalidade aguda de um grande número de abelhas, associada ao relato do uso de produtos pelos vizinhos, são informações que nos levam a crer que pode haver relação entre o uso dos produtos e a perda de colmeias”, observa.

A CropLife Brasil, entidade que reúne empresas que atuam na pesquisa e desenvolvimento de tecnologia, entre elas a Basf e a Bayer, pondera que diversos fatores, como alterações climáticas, deficiência de pasto apícola e doenças que afetam a colmeia, podem estar associados à desordem no “sistema de navegação” das abelhas ou ao distúrbio do colapso das colônias e que não existem dados que permitam fazer uma correlação direta entre os inseticidas neonicotinoides e os fenômenos.

A diretora da Afagro também reconhece que a situação é preocupante, pois muitas culturas agrícolas dependem exclusivamente da polinização feita pelas abelhas. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), 75% dos cultivos destinados à alimentação humana no mundo dependem das abelhas. “Com a redução da população desse inseto, a produção estará comprometida a longo prazo”, alerta Liese.

Além da acidentalidade e do uso incorreto de produtos químicos tóxicos ao inseto, Sattler também menciona a falta de monitoramento periódico desse tipo de mortandade, o que pode gerar subnotificação dos casos. “Quando não sabemos o problema real, é difícil prever soluções”, salienta. Segundo ele, há pelo menos dois tipos de apicultores que tendem a não denunciar: os pequenos produtores, que não querem despender dinheiro investigando o assunto, e aqueles cujas colmeias ficam em propriedades arrendadas, onde há plantações de soja, cultivadas por outro produtor, por exemplo.

Por outro lado, a veterinária Rita, da Seapdr, acredita que esses números crescentes podem estar relacionados à maior divulgação, pela pasta, da disponibilidade de atendimento dos problemas encontrados pelo apicultor. “Se antes ele levava 30 dias ou mais para ver seu apiário, agora, com os casos de mortandade em alta, ele está visitando com maior frequência”, resume, lembrando que isso permite um diagnóstico mais precoce e a possibilidade de coleta de material para a análise.

Outro grande desafio da fiscalização é identificar o produtor responsável pelo uso do agrotóxico que tenha causado mortes de abelhas, já que o inseto se desloca normalmente até dois quilômetros, podendo ir além. “Esse raio de voo em determinadas regiões do Estado relaciona vários municípios e, nos municípios, dezenas e até centenas de propriedades rurais”, exemplifica Rita. Há casos, porém, de produtos químicos com restrições de uso quanto à época, modalidade de aplicação ou distância de apiários. Quando esses produtos são identificados na amostra é feito um trabalho de investigação para saber quais foram usados e se foram respeitadas tais restrições.

 

Perdas ocorreram em várias regiões

Relatos de apicultores que encontraram insetos mortos coincidem com a aplicação de agrotóxicos em lavouras próximas | Foto: Juliano Fussiger/ Arquivo Pessoal

A produção de mel gera renda para 37 mil apicultores gaúchos. Entre os que enfrentaram mortalidade em suas colmeias, a maioria aponta como causa o uso de agrotóxicos em lavouras vizinhas, relata ter informado o caso à fiscalização ou autoridades mais próximas e se queixa da falta de providências contra quem deixou o produto químico se espalhar até o apiário.

Criador de abelhas há 18 anos, Juliano Fussiger registrou três ocorrências de mortandade em apiários localizados numa propriedade arrendada desde 2019, entre São Gabriel e Rosário do Sul. Na última vez, em dezembro de 2020, a perda foi devastadora. “Quando cheguei ao apiário, encontrei montes de abelhas mortas e outras desorientadas”, conta o apicultor. De 200 colmeias, pelo menos 150 foram afetadas, o que significa R$ 87,7 mil de prejuízos só em mel. “Sem contar a cera, o enxame e a alimentação perdidos e todo o serviço para recuperar essas colmeias novamente”, raciocina.

Ao lado do apiário de Fussiger, outro arrendatário cultiva uma lavoura de soja. “Não tenho dúvidas de que o problema vem de quem divide o espaço comigo”, afirma o apicultor, ao interpretar, que o que está acontecendo é deriva de agrotóxicos, "seja por má aplicação ou porque o produto é proibido”. Ele informa que possui apiários em outra localidade, que ficam a 10 metros de uma cultura de soja, e lá não acontece isso. Mas o problema vai além. Como a área não é dele, Fussiger teria de reclamar com o proprietário, que também arrenda terra para o sojicultor. “Se eu me queixar, corro o risco de perder esse espaço de terra, já que a apicultura não representa nada financeiramente perto da soja”, explica.

Em Aratiba, no Norte do Estado, os apicultores Maria e Luis Pedro Piekas observaram, pela primeira vez, mortandade de insetos no final de julho de 2020. De 16 colmeias, oito foram dizimadas e quatro tiveram problemas significativos de produção de mel. A perda foi estimada em 200 quilos de mel, mais caixas e abelhas. O problema só não foi mais sério porque a família também trabalha com gado de leite e cultivo de frutas e hortifrutigranjeiros.

Piekas acredita que um de seus vizinhos aplicou de maneira errada um dessecante na lavoura de milho. “Qualquer tipo de inseto estava morto ao redor da plantação”, relata. Também conta que até foi à delegacia, mas a burocracia o desestimulou a prestar queixa.

Em Santa Margarida do Sul, na Fronteira Oeste, diversos apicultores enfrentaram problemas semelhantes no mesmo período. Um deles é Vanderley Rodrigues, que também segue carreira militar, produz milho e cria gado. Ele constatou que 52 colmeias, de um total de 75, morreram durante a florada da canola, entre julho e outubro de 2020. No apiário de Paulo Sérgio Miller de Lima, também ovinocultor, as mortes ocorreram na primavera, com a perda de 60 de 72 colmeias. Só em mel, o prejuízo de Rodrigues foi de cerca de R$ 27 mil. O de Lima foi de R$ 100 mil no total. Nos dois casos, a suspeita é a mesma: má aplicação de agrotóxico em lavouras de soja, milho ou canola. “É preciso que se respeite a bula de aplicação do fipronil e do 2,4-D”, ressalta Lima.

“Depois desse tipo de estrago demoramos pelo menos dois anos para recuperar o apiário”, calcula Rodrigues, afirmando que, em 2019, não conseguiu colher nem um quilo de mel. “O pior é que não há como desistir porque seria abrir mão de tudo”, emenda Lima. “Investi tudo o que eu tenho na minha agroindústria (que processa o mel).” Os dois apicultores chegaram a fazer denúncia na Delegacia e na Inspetoria de Divisão Agropecuária, que encaminhou a questão ao Ministério Público do Rio Grande do Sul, mas não conhecem resultados da queixa.

Para o apicultor Paulo Lima, é preciso que se respeite a bula de fabricação do fipronil e do 2,4-D | Foto: Paulo Lima / Arquivo Pessoal 

Outro apicultor, Luciano Schaun, de Canguçu, na Zona Sul, está no ramo há três anos e admite que pensou em desistir depois de perder 47 das 50 colmeias por causa de deriva de agrotóxicos em julho de 2020. O prejuízo foi de R$ 24 mil só em mel. “Pela época, só pode ser o uso de fipronil para matar o nabo forrageiro da soja que um morador que fica a 500 metros cultiva”, deduz. “Que bom que tenho outras produções agrícolas, porque senão eu tinha morrido de fome”, acrescenta.

A história mais dramática, no entanto, talvez tenha ocorrido em Capivari do Sul, no Litoral Norte. Em propriedade arrendada no município, o apicultor Vilmar Brum perdeu todas as suas 40 colmeias em março de 2020. “Podia até entrar sem macacão de proteção porque não havia nenhuma delas voando. Juntei com pá”, recorda. “Não consegui nem aproveitar o pouco de mel que as abelhas tinham produzido, pois havia várias delas nele”, lamenta. O prejuízo total foi de R$ 40 mil.

A tese do apicultor é de que um vizinho que possui lavoura de soja próxima tenha utilizado um agrotóxico proibido, tamanho o estrago causado. “Como esses apiários ficam em uma rota de soja, sempre ocorre alguma morte de abelha, mas são poucas”, emenda o apicultor de 54 anos que, desde criança, trabalha no ramo. Brum também diz ter denunciado o caso, mas que não foi possível fazer análises laboratoriais porque na ocasião já havia iniciado a pandemia do coronavírus, o que inviabilizou o processo. Para solucionar a questão, entende que a legislação e a fiscalização deveriam ser mais eficientes pois o acesso para comprar esses agrotóxicos é fácil. “Não sei se fazem ‘olho branco’ ou há falta de fiscalização mesmo”, completa.

Abelhas morrem antes de produzir

Foto: Vilmar Brum/ Arquivo Pessoal

Logo que infectada, a grande maioria das abelhas morre antes de chegar à colmeia, já que os produtos são altamente nocivos ao inseto. Aquelas que sobrevivem, geralmente, morrem antes de produzir mel. Por isso, o professor Aroni Sattler, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), garante que o risco de contaminação do mel de abelhas “campeiras”, por causa desse tipo de envenenamento, é praticamente zero.

A Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr) também afirma ainda não ter identificado nenhuma contaminação por agrotóxicos no mel e derivados. “São feitas análises de resíduos e o mel só é embalado nos entrepostos, tanto para o mercado interno quanto para exportação, depois de ser aprovado em todas as etapas”, ressalta o coordenador da Câmara Setorial de Apicultura, Aldo Machado dos Santos.

Além da morte na colmeia, há também o desaparecimento de abelhas operárias, que deixam para trás a colônia e sua rainha com muitas crias famintas. O fenômeno, gerado pelo fipronil e neonicotinoides, é uma desordem no sistema de navegação das abelhas provocada por agrotóxicos, que faz com que elas se percam.

 

Cuidado nas aplicações

Caso usem pesticidas em lavouras, agricultores devem seguir instruções de um profissional e respeitar as condições climáticas para preservar as abelhas

Volta das chuvas desde o início do ano fez produtores de mel acreditarem em uma safra farta para aproveitarem as boas cotações do produto no mercado internacional | Foto: Pixabay/Divulgação/CP

O uso consciente de pesticidas, sempre com a orientação de um profissional e respeitando as condições climáticas para a aplicação, é a principal orientação para que a mortandade de abelhas possa diminuir em 2021. “O agricultor deve sempre lembrar a importância das abelhas para a polinização de algumas culturas, ou seja, que elas trabalham a favor da produção agrícola e por isso devem ser preservadas”, afirma a veterinária Rita Dulac Domingues, coordenadora do Programa Estadual de Sanidade de Abelhas, da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr). “Por parte da secretaria, seguiremos investigando e apurando as possíveis causas do problema”, promete.

Responsável por introduzir o ingrediente ativo fipronil no Brasil, a Basf informou, em nota, que não tem produtos "à base de fipronil para aplicação foliar e aérea no país” e que seus produtos são indicados apenas para “tratamento de sementes e aplicação em sulco de plantio no Brasil, o que não causa impacto para polinizadores”. Segundo ela, se os seus produtos forem utilizados de acordo com as instruções do rótulo e com as recomendações de boas práticas agrícolas, “os produtos aprovados com o ingrediente ativo fipronil são seguros para os seres humanos e o meio ambiente, incluindo os polinizadores”. Também lembrou que participa de iniciativas que promovem ações educativas e diálogo entre agricultores e apicultores, como o movimento Colmeia Viva® e Associação Brasileira de Estudos sobre Abelhas. Desde 2011, várias empresas, além da Basf, produzem e comercializam o inseticida no país.

Safra das safras

Ainda que em 2020 a mortandade não tenha sido tão grande, a apicultura gaúcha sofreu com adversidades climáticas. Mas a volta das chuvas nos últimos dias faz com que os produtores de mel acreditem em uma “supersafra” para 2021. Os preços ao apicultor triplicaram em 12 meses. O quilo do produto a granel para exportação passou de uma faixa próxima a R$ 5,00, no início de 2020, para cerca de R$ 15,00, agora. O consumo se manteve aquecido em meio à pandemia. “O mel é um produto nobre e um dos melhores energéticos, todo mundo está tentando usá-lo para aumentar a imunidade”, justifica Santos. Por essa razão, segundo ele, há um déficit mundial de mel calculado em 100 mil toneladas.

 

Ministério Público acompanha o caso

Objetivo é implantar um sistema de observação das colmeias em tempo real para controle de resíduos, parasitas e doenças

Sistema vai identificar mortandades e também causas que possam estar associadas aos episódios, como uso de pesticidas e outros | Foto: Vilmar Brum/ Arquivo Pessoal

Um inquérito civil instaurado há dois anos pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP-RS) tem acompanhado a questão da mortandade de abelhas desde então. Segundo o promotor Alexandre Saltz, da Promotoria de Justiça de Defesa do Meio Ambiente, o objetivo é implantar, junto com as empresas que comercializam o fipronil, o chamado Sistema de Informação e Monitoramento de Abelhas do Estado (SIM-Abelhas). Este programa prevê o monitoramento de colmeias em tempo real, com materiais sendo coletados várias vezes ao ano para o controle de resíduos, bem como a presença de parasitas ou doenças.

“É um sistema bem inovador, que vai permitir identificar não apenas a mortandade, quando acontece, mas também outras causas que possam estar associadas a ela que não sejam exclusivamente pelo uso de inseticidas”, afirma Saltz.

O entendimento do Ministério Público é de que, enquanto a indústria colocar no mercado produtos como o fipronil, ela também deve fazer a sua parte para colaborar com a redução da mortandade de abelhas.

O papel que caberá às empresas no SIM-Abelhas ainda está sendo discutido. O Ministério Público chegou a encaminhar ao governo do Estado um pedido de suspensão provisória do registro e, consequentemente, do uso do fipronil, em sua modalidade foliar. De acordo com Saltz, ainda não houve resposta sobre o pedido, embora algumas indústrias tenham se mostrado favoráveis à participação.

O coordenador da Comissão de Meio Ambiente da Farsul, Domingos Velho Lopes, observa que não há recomendação para o uso foliar do fipronil e destaca que nenhum produto é insubstituível. Na avaliação dele, caso haja laudos que apontem a presença do inseticida, o problema decorre da má aplicação. Para Lopes, as aplicações do fipronil devem ser normatizadas. Ele cita como exemplo positivo a redução dos casos de deriva de 2,4-D em 2020. Naquela situação, as denúncias de produtores de outras culturas atingidas pelo herbicida deram origem a Instruções Normativas da Seapdr que instituíram regras para o uso de agrotóxicos hormonais no Rio Grande do Sul.

Rio Grande do Sul a caminho do monitoramento

Técnicos indicam que presença de apicultores perto das lavouras poderia beneficiar agricultores | Foto: Vilmar Brum/ Arquivo Pessoal

Além da iniciativa do Estado, especialistas sugerem outros tipos de soluções para reduzir a mortandade de abelhas e suas consequências ambientais. O professor e coordenador do Laboratório de Apicultura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Aroni Sattler, recomenda, primeiramente, uma parceria “mais efetiva” entre agricultores e apicultores. “O agricultor precisa entender a importância dos polinizadores porque ele está, inclusive, deixando de ganhar mais 5% a 10% de produtividade na soja”, diz.

Para Sattler, outra questão é a educação. Segundo ele, há muitos casos em que o produtor aplica o agrotóxico para se prevenir, o que é errado. “É preciso um controle maior no financiamento de insumos e na comercialização em geral para evitar isso”, defende. O professor entende também que o manejo integrado de pragas pode ser aliado dessa medida se for mais divulgado por toda a cadeia agropecuária. “Também precisamos pensar na criação de insumos que não sejam tão tóxicos ao meio ambiente”, sugere.

Sattler também aconselha que a Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr) volte a promover cursos para que todos os fiscais estaduais agropecuários que compõem as Inspetorias Veterinárias saibam como coletar corretamente e identificar sinais clínicos de doenças de abelhas. O professor justifica que sua proposta ao argumentar que o produtor normalmente não vai todos os dias ao apiário. “Se ele visitar a colmeia e no dia seguinte um enxame começar a morrer e se, na sequência, chover e ele só voltar em duas semanas, isso pode dificultar a identificação da causa da morte do inseto, que estará num processo avançado de decomposição”, explica.

Em Santa Catarina, o assunto provocou uma polêmica recentemente. O governador Carlos Moisés tentou criar a Tributação Verde, com alíquotas progressivas sobre agrotóxicos. Produtos altamente tóxicos passariam a pagar 17% de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Os percentuais cairiam para 12% para os moderadamente tóxicos, 7% para os pouco tóxicos e 4,8% para os “improváveis de causar dano agudo”. Haveria isenção para os bioinsumos. O texto foi barrado pela Assembleia Legislativa.

Na ocasião, Moisés argumentou que a medida “não era ideológica, era uma questão de segurança alimentar e saúde pública”. Entidades representativas do agronegócio criticaram a proposta, afirmando que os produtos catarinenses ficariam mais caros e o estado iria perder competitividade em relação ao país.

*Sob supervisão de Danton Júnior

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895