Competir para crescer

Competir para crescer

Disputas, olimpíadas e competições educacionais não apenas detectam e incentivam talentos, mas também revelam criativos projetos de transformação social

Por
Maria José Vasconcelos e Vera Nunes

Promover competições de conhecimentos entre estudantes são formas estimulantes, e até lúdicas, de provocar aprendizagem. A importância das Olimpíadas do Conhecimento no desenvolvimento da educação brasileira foi tema debatido pelas comissões de Educação e de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática da Câmara dos Deputados, na última semana. A audiência foi proposta pelos deputados paulistas Cezinha de Madureira e General Peternelli. As Olimpíadas do Conhecimento são competições nacionais e gratuitas, desenvolvidas pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, e voltadas a alunos do Ensino Fundamental ao Superior.

Detectar e incentivar talentos em diversas áreas e resgatar autoestima de alunos e professores são funções importantes dessa iniciativa, na avaliação de Peternellie. “Existem, hoje, no Brasil, mais de 60 Olimpíadas do Conhecimento, em áreas que vão da Cartografia à Inteligência Artificial (...). Anualmente, as Olimpíadas têm engajamento espontâneo de mais de 20 milhões de estudantes, com casos cientificamente demonstrados de sucesso e transformação social para indivíduos, escolas, cidades e mesorregiões. E com poder de impacto enorme a custos baixíssimos”, acrescenta o parlamentar.

No RS, a 36ª Mostra Internacional de Ciência e Tecnologia (Mostratec), organizada pela Fundação Escola Técnica Liberato Salzano Vieira da Cunha, em Novo Hamburgo, é um exemplo de que a boa competição ajuda a estimular estudantes. A já reconhecida e tradicional feira mobiliza diversas instituições de ensino públicas e privadas – da Educação Infantil aos ensinos Fundamental, Médio e Técnico – com prêmios e incentivos educacionais aos projetos destaques. Neste ano, virtual, entre 26 e 28/10, a Mostratec ofereceu 27 distinções, além dos primeiros colocados de cada uma das 14 áreas de pesquisa. Foram cerca de 500 trabalhos, de 17 estados brasileiros e 14 países.

IFRS

Trabalhos de pesquisa de estudantes do IFRS conquistam 17 prêmios na Mostratec 2021. Foto: Flávia Twardowski / Divulgação / CP

O Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) conquistou pelo menos 17 premiações na Mostratec. Seis trabalhos de alunos do Instituto obtiveram reconhecimentos em suas áreas, sendo cinco primeiros lugares; e dois segundos lugares. Os jovens estudantes apresentaram pesquisas que buscam encontrar soluções sustentáveis e inovadoras para problemas que afetam as comunidades.

Economia circular

Entre os destaque está o projeto “Economia Circular: um estudo comportamental dos jovens do Litoral Norte Gaúcho”, de autoria de Victórya Leal Altmeyer Silva, estudante do curso Técnico em Administração Integrado ao Ensino Médio, com orientação da professora Flávia Twardowski, do Campus Litoral Norte. O trabalho, que utilizou equações matemáticas e análise multivariada (observação de diferentes características) para estudar o comportamento de jovens do Litoral Norte na economia circular, conquistou credencial para representar o Brasil em uma das maiores feiras de ciências do mundo em 2022: a Regeneron International Science and Engineering Fair (Isef).

Extratos Aquosos

Foram, ainda, destacados o “Estudo de extratos aquosos de plantas medicinais na inibição do agente causal da sigatoka-amarela”, da estudante Amanda de Lorenzi Borges, também orientada por Flávia Twardowski. O trabalho focou na ação de diferentes extratos de plantas medicinais na inibição do crescimento de um fungo que causa a sigatoka-amarela, que afeta bananeiras e pode resultar em perdas totais na produção. E o projeto “Implicações ambientais por microplásticos: utilizando o lodo ativado como agente na biodegradação de micropartículas plásticas”, dos alunos Igor da Rosa de Oliveira e Laura Teixeira da Rosa, do curso Técnico em Administração Integrado ao Ensino Médio, orientado por Cláudius Soares e coorientado por Flávia Twardowski, do Campus Osório, que investigou a ocorrência de pequenas partículas de plástico (microplásticos) que impactam negativamente o meio ambiente. Assim, propôs uma forma de reduzi-los, com biodegradação, a partir do uso de lodo resultante do processo de tratamento de esgoto (lodo ativado).

SustainPads

Comprometidos com o cotidiano, projetos de estudantes, como Laura Drebes e Camily dos Santos, com o SustainPads, se destacam na Mostratec, conquistando premiações que abrem oportunidades. Foto: Flávia Twardowski / Divulgação / CP

Ainda entre os destaques do IFRS na 36ª Mostratec está o projeto “SustainPads: desenvolvimento de absorventes higiênicos a partir de resíduos agroindustriais”, das alunas Camily Pereira dos Santos, do curso Técnico em Informática Integrado ao Ensino Médio; e Laura Nedel Drebes, do Técnico em Administração Integrado ao Ensino Médio, orientadas pela professora Flávia Twardowski. Elas desenvolveram materiais absorventes a partir das fibras da palmeira juçara e do pseudocaule da bananeira. São alternativas mais baratas e ambientalmente sustentáveis para a confecção de absorventes higiênicos.

Já a pesquisa “Desenvolvimento de polímero biodegradável a partir dos resíduos agroindustriais da uva”, de autoria da estudante Amanda Ribeiro Machado, do curso Técnico em Administração Integrado ao Ensino Médio, busca aproveitar resíduos da produção do suco de uva e do processamento de vinho. A proposta utiliza um processo biotecnológico para transformar o que iria para o lixo em um material alternativo aos polímeros artificiais (utilizados para a produção dos mais diversos objetos e materiais).

Filosofia e ética

O Instituto Federal também teve premiações com o trabalho “Razão e paixões na moralidade em Hume – Fase II”, da estudante Lorenza Pabst Botton, com orientação do professor Franco Nero Antunes Soares, do Campus Bento Gonçalves. A pesquisa busca compreender, a partir de ferramentas teóricas oriundas da filosofia, processos psicológicos que levam as pessoas a agir da forma que agem e, a partir disso, incentivar o desenvolvimento de um modelo ético baseado nesses processos. E a pesquisa “Caracterização da família gênica ERF e seu envolvimento na adaptação de cultivares de maçã (Malus Domestica)”, dos alunos Emanuel Eliabe Alves e Taís Monteiro Ecker, com orientação da professora Ana Lúcia Anversa Segatto, do Campus Caxias do Sul, busca identificar e caracterizar genes resistentes a pragas nos genomas de cultivares de maçã Gala e Fuji, fornecer informações para a conservação da variabilidade genética e ajudar na seleção de variedades resistentes.

Escola Sesi

Um spray cicatrizante, um dispositivo que calcula o tempo ideal de exposição solar, uma placa feita com resíduos plásticos e casca de mandioca e uma capa terapêutica para próteses são os projetos premiados da Escola Sesi de Ensino Médio de Sapucaia do Sul na Mostra Internacional de Ciência e Tecnologia – Mostratec 2021 – que teve a participação de jovens de 14 países. O projeto “Revitalizador Cutâneo: Desenvolvimento de spray ecológico com o um auxílio no tratamento de pacientes com queimaduras”, das estudantes Eduarda Alexia Vitoraci, Helen de Mello da Rosa e Tainara Duarte da Cruz, com orientação da professora Eduarda Felhberg e coorientação de João Leal Braccini, ficou em primeiro lugar em Ciências da Saúde. As alunas receberam o financiamento para levar o projeto para a InfoMatrix, que será realizada em Santa Catarina. “Nossa proposta educacional busca desenvolver competências voltadas à criatividade na solução de problemas e ao mundo do trabalho”, destaca a gerente de Educação do Sesi-RS, Sônia Bier.

Estímulo profissional 

Senac-RS conquista 5 medalhas na etapa nacional das Competições Senac de Educação Profissional. Na categoria Cabeleireiro, Fernando Casagrande foi ouro. Foto: Carolina Grossini / Divulgação / CP

  • No final de outubro, no país, foram encerradas as Competições Senac de Educação Profissional.
  • Nesta edição 2021, o Rio Grande do Sul conquistou 5 medalhas, com: Fernando Belle Casagrande (ouro, em Cabeleireiro); Thaís Gonzales (prata, Recepção de Hotel); Thiago Bertuol (prata, Cozinha); Amanda Bittencourt (bronze, Estética e Bem-estar): e Larissa Vitória Apollo (em Excelência, Cuidados de Saúde e Apoio Social).
  • Com a conquista do ouro, o cabeleireiro Fernando representará o Brasil na WorldSkills Shanghai 2022 – maior competição de educação profissional do mundo. 
  • A etapa nacional das Competições Senac de Educação Profissional 2021, com duração de três semanas, reuniu 47 alunos representantes de 21 estados que, avaliados, precisaram apresentar suas competências em protocolos e situações práticas do dia a dia de trabalho nas ocupações de Cabeleireiro, Cozinha, Cuidados de Saúde e Apoio Social, Estética e Bem-Estar, Florista, Recepção de Hotel e Serviço de Restaurante.
  • As Competições Senac de Educação Profissional são compostas por três etapas: escolar, regional e nacional. As etapas funcionam como seletiva, ou seja, os vencedores da etapa escolar encontram-se na estadual; os medalhistas da estadual representam o RS na etapa brasileira; e os primeiros colocados em cada ocupação na etapa nacional representarão o Brasil na WorldSkills, em Shanghai.
  • O presidente do Sistema Fecomércio-RS/Sesc/Senac, Luiz Carlos Bohn, destaca que as 5 medalhas obtidas pelos gaúchos nas 6 ocupações disputadas é motivo de muito orgulho. “Esse resultado demonstra que investir em educação e dar oportunidade às pessoas é sempre o melhor caminho para o desenvolvimento”, avalia.
Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895