Dia Internacional é afetado pela pandemia

Dia Internacional é afetado pela pandemia

Na data estabelecida pela ONU para exaltar as contribuições da Educação para a paz e o desenvolvimento dos povos, entidades apontam que uma geração inteira sofrerá profundamente os efeitos da crise sanitária da Covid

Com o slogan ‘Mudando o rumo, transformando a educação’, o tema do Dia Internacional da Educação 2022 enfatiza a inclusão social e digital e a participação ativa de comunidade escolar, famílias e educandos. Já os maiores desafios no ensino são ampliar, de 37% para 50%, o atendimento do público de zero a 3 anos e elevar, dos atuais 77%, os jovens que cursam o Ensino Médio.

Por
Vera Lucia de Souza Nunes

Educação foi estabelecido em 24/1, pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), para exaltar a contribuição da educação para a paz e o desenvolvimento dos povos do mundo. Coincidência ou não, no Brasil, foi o dia do anúncio dos cortes do Orçamento de 2022, que atingiram em cheio os ministérios do Trabalho e Previdência e da Educação. Juntas, as pastas concentraram mais da metade dos R$ 3,18 bilhões em recursos vetados pelo presidente Jair Bolsonaro. O Ministério da Educação (MEC), conduzido pelo ministro Milton Ribeiro, perdeu R$ 802,6 milhões, sendo que R$ 499 milhões pertenciam ao FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação).

“Ainda vivemos um momento crítico no Brasil e estamos lutando contra as sequelas na educação, causadas pelo fechamento de escolas e universidades durante a pandemia e pela falta de projetos que viabilizassem o ensino remoto para milhões de estudantes”, alertam, em nota, a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), a União Nacional dos Estudantes (UNE) e a Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG). “Recebemos um estudo do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), mostrando que uma geração inteira será profundamente afetada pela crise sanitária em que vivemos”, afirmam.

Saúde Mental

A preocupação é pertinente. Segundo o Unicef, mais de 616 milhões de estudantes continuam afetados pelo fechamento total ou parcial das instituições de ensino. Em muitos países, esses distúrbios, além de privar milhões de crianças da aquisição de habilidades básicas, afetaram sua saúde mental, aumentaram seu risco de abuso e impediram que muitas tivessem acesso a “uma fonte regular de nutrição”, aponta. "Estamos enfrentando uma magnitude quase insuperável de perdas na Educação Infantil”, assinalou Robert Jenkins, chefe de educação do Unicef, em um comunicado, quase dois anos após o início da pandemia. Reabrir as escolas “não é suficiente”, acrescentou, pedindo “apoio intensivo para recuperar a educação perdida”.

O Unicef destaca que “as perdas de aprendizado com o fechamento de escolas deixaram até 70% das crianças de 10 anos, de países de baixa e média renda, incapazes de ler e compreender textos simples, em comparação com 53% antes da pandemia”. Os países ricos estão longe de se salvarem. Nos Estados Unidos, por exemplo, se verificam atrasos de aprendizado em vários estados, como Texas, Califórnia e Maryland. E ainda foram observados crescentes níveis de ansiedade e depressão em crianças e jovens, ligados à pandemia, “mais de 370 milhões de crianças no mundo foram privadas de alimentação escolar durante o fechamento”, representando, “para algumas crianças, sua única fonte confiável de alimento e nutrição diária”.

Crise Educacional

Para a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), a ruptura global no ensino causada pela pandemia da Covid-19 é a pior crise educacional já registrada. “No entanto, é perceptível uma mudança notável entre dezembro/2021 e janeiro/2022: não há mais fechamentos massivos de escolas, os estados conseguiram estabilizar um novo modelo de gestão de crises, com capacidade de manter as escolas abertas, graças à adoção de protocolos de saúde reforçados e seguros”, avaliou. Países como França, Brasil e México aplicaram novas medidas, como distanciamento, fechamento caso a caso ou a tradicional lavagem de mãos ou uso de máscaras, revelou. Outros, como França, Canadá ou Itália, recorreram aos testes de detecção. Atualmente, 135 países estão com as escolas abertas. Segundo a Unesco, até 2030 “nenhuma região do mundo espera alcançar o ensino médio universal” e os educadores consideram que “apenas um terço dos alunos terá competências básicas em Matemática”, sendo que, “33% dos alunos não serão capazes de ler uma frase no final do ensino primário”. Em longo prazo, a geração de jovens hoje na escola corre o risco de perder quase 17 bilhões de dólares em renda, devido à escassez causada pelo fechamento de centros educacionais durante a pandemia, aponta o Banco Mundial e agências da ONU.

Mudando o Rumo

Diante de perdas e consequências da pandemia, o tema do Dia Internacional da Educação 2022 é “Mudando o rumo, transformando a educação”, com foco na inclusão social e digital, e na participação ativa de comunidade escolar, famílias e educandos. No Brasil, o relatório do Plano Nacional de Educação (PNE), referente a 2021 e divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), mostra melhora em 33 indicadores, se comparado ao documento anterior, em 2019. Cerca de 94% da população de 4 a 5 anos frequenta escola ou creche e 98% das crianças entre 6 e 14 anos estão matriculadas ou já concluíram o Ensino Fundamental. Já os maiores desafios são aumentar, de 37% para 50%, o atendimento do público de zero a 3 anos e avançar no percentual de jovens que cursam o Ensino Médio (hoje 77%).

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895