Dinossauros têm primos brasileiros

Dinossauros têm primos brasileiros

Pesquisa realizada na Unipampa revela uma espécie nova de animais extintos, os pterossauros

Por
Maria José Vasconcelos

Os fósseis analisados foram encontrados no Ceará, mas os estudos – que apontam para descobertas de uma nova espécie de animais extintos – são da Universidade Federal do Pampa (Unipampa). Foram realizados no Campus São Gabriel, em parceria com o Museu Nacional (RJ). Trata-se dos pterossauros, primos distantes dos dinossauros. Teriam sido os primeiros vertebrados a alcançar os céus, desenvolvendo voo ativo, cerca de 80 milhões de anos antes das aves. Eram animais extraordinários, que podiam chegar a ter o tamanho de pequenos aviões e, muitas vezes, tinham cristas gigantes no topo da cabeça, provavelmente utilizadas para atrair seus parceiros. Fósseis do crânio e vértebras do pescoço indicam que o bicho poderia chegar a ter até três metros de envergadura e possuir bico sem dentes.

O professor Felipe Lima Pinheiro, do Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas da Unipampa, em São Gabriel, explica que é no nordeste brasileiro, particularmente na região da Chapada do Araripe, que são encontrados os fósseis de pterossauros mais bem preservados do mundo. Nessa região, paleontólogos já classificaram dezenas de espécies desse grupo e novidades continuam aparecendo. Como cearense, Felipe já realizou estudos no local e segue desenvolvendo linha de pesquisa sobre os pterossauros.

Kariridraco dianae

Na Unipampa, o professor deu continuidade a pesquisas sobre esses grupos, por meio de trabalhos acadêmicos. Foi o caso do “Kariridraco dianae”, o novo pterossauro brasileiro, agora descrito a partir de projeto desenvolvido por sua aluna de mestrado Gabriela Menezes Cerqueira (Unipampa/UFSM), primeira autora do trabalho. Mas além da Gabriela e do professor Felipe, também são autores da pesquisa: Mateus A. C. Santos (Unipampa/Ufrgs), Maikon F. Marks (Unipampa) e Juliana M. Sayão (Museu Nacional).
Com autorização do Museu de Santana do Cariri, o material para estudo foi trazido, do Ceará para o Rio Grande do Sul, na Unipampa, em 2019, permitindo as atuais descobertas, que foram publicadas, neste mês, no periódico científico polonês “Acta Palaeontologica Polonica”. Além de descrever, em detalhes o novo bicho, os paleontólogos conseguiram rastrear a origem dos tapejarídeos – um estranho grupo de pterossauros, que ostentavam imensas cristas na cabeça.

O estudo permite inferir, em razão de anatomia, formato de fósseis e análise biogeográfica, que esse grupo surgiu na América do Sul e migrou para outros continentes, como Europa e Ásia. Depois foi se dispersando pelo mundo e não o contrário. Felipe explica que para verificar esses fatos, além do registro fóssil, que pode, muitas vezes não ser achado em determinado local, pela falta de conservação ou cuidado, é feita uma análise sobre a evolução do grupo, rastreando a origem do animal. Segundo o professor, os pterossauros estariam entre os primeiros grupos dispersores de plantas e sementes, tendo, assim, uma importância também na disseminação de vegetais.

Patrimônio Cultural

O professor alerta para a coleta e retirada de importantes materiais históricos de seus locais de origem, aponta o antigo problema de comércio e transporte ilegal de fósseis no país e ressalta a relevância dessas espécies ficarem no Brasil e o mais próximo possível do seu respectivo lugar de origem. “O Kariridraco vai ficar, para sempre, disponível para visitação, para estudo e perto do local onde foi encontrado, no Museu de Paleontologia de Santana do Cariri, que é um exemplar centro de pesquisa no interior do Ceará”, esclarece Felipe, que também assina o novo estudo. “Fósseis brasileiros devem permanecer no Brasil, onde são não apenas objeto de estudos científicos, mas também patrimônio cultural”, defende.

Pterossauro

Reconstrução do animal em vida revela que pterossauro tinha cristas gigantes e podia chegar ao tamanho de pequenos aviões. Arte: Victor Beccari / Especial / CP

  • Quem descobre e descreve uma espécie tem liberdade para escolher o seu nome. Assim, a então mestranda Gabriela Menezes Cerqueira (Unipampa/UFSM), primeira autora do trabalho, batizou seu achado de “Kariridraco dianae”.
  • O nome do novo pterossauro brasileiro resulta de uma combinação, fazendo referência aos índios Kariris, originários da região cearense, e a draco, palavra latina que significa dragão. A espécie também homenageia Diana Prince, a Mulher Maravilha dos quadrinhos e personagem de preferência da pesquisadora Gabriela.
  • O pterossauro brasileiro integra um estranho grupo de répteis voadores, primos distantes dos dinossauros. Como possuía uma crista óssea no topo do crânio, Gabriela relata: “Nossa melhor hipótese é que o animal usava a estrutura para atrair parceiros e comunicar-se com outros da mesma espécie”.
  • Embora conhecido apenas pelos fósseis encontrados do crânio e algumas vértebras do pescoço, os cientistas estipulam que o bicho poderia chegar a ter até 3 metros de envergadura. E seu bico, sem dentes, era adaptado para buscar alimentos, provavelmente pequenos animais, à beira de corpos d’água, semelhante ao que fazem as garças modernas.
  • O novo estudo sobre esse primo distante dos dinossauros também revela que os tapejarídeos, provavelmente, se originaram na América do Sul e, posteriormente, foram se espalhando por todo o planeta. Fósseis destes animais são encontrados em lugares longínquos, como China e Marrocos. 

 

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895