Eficiência no dia a dia

Eficiência no dia a dia

O uso racional e consciente da energia proporciona não apenas um valor menor na conta no fim do mês, mas também colabora para a preservação dos recursos naturais

Por
Taís Teixeira

É impossível imaginar o século XXI sem energia elétrica. O caminho que o homem vem seguindo no desenvolvimento de tecnologias embarcadas em aparelhos e equipamentos é uma realidade viabilizada pela eletricidade. Computador, micro-ondas, geladeira e televisão são exemplos de aparelhos e equipamentos movidos à energia elétrica que fazem parte da vida humana. Para ter certeza do quanto a eletricidade é indispensável, basta ficar por algumas horas sem luz. Porém, a dificuldade sentida pessoalmente pode virar um caos social. Basta relembrar o recente apagão que tomou conta da maior parte das cidades do Amapá, que enfrentou problemas no fornecimento de energia por 22 dias em novembro de 2020. A crise afetou 90% da população (cerca de 765 mil pessoas) e colapsou o abastecimento de água, a compra e armazenamento de alimentos, os serviços de telefonia e internet, entre outros. Essa geração elétrica é oriunda de um sistema composto majoritariamente por usinas hidrelétricas. O Brasil tem 1.369 hidrelétricas instaladas, sendo que 133 estão no Rio Grande do Sul.

Mesmo com essa rede sólida, o uso racional e consciente desse serviço proporciona não apenas um valor menor na conta no fim do mês, mas evita o desperdício dos recursos naturais. É neste equilíbrio que se apoia o conceito de eficiência energética, que consiste na relação entre a quantidade de energia empregada em uma atividade e aquela disponibilizada para sua efetivação. Ou seja, é o uso racional de energia sem que isso implique em perda de conforto. Um exemplo seria a substituição de lâmpadas incandescentes ou fluorescentes compactas por lâmpadas LED, que oferecem a mesma luminosidade e podem propiciar economia de até 90% no consumo.

Hábitos conscientes

Existem hábitos que podem ajudar na redução da conta mensal de luz. Há inclusive ações bem simples, mas que muitas vezes as pessoas não se dão conta, como apagar as luzes ao ir de um cômodo a outro dentro de casa. “Não há consumo com lâmpadas desligadas”, lembra o diretor de Planejamento e Projetos Especiais da Companhia Estadual de Energia Elétrica de Distribuição (CEEE-D), Gustavo Balbino. Ele adverte, porém, que é importante verificar se o tempo de permanência fora do ambiente compensará, ou não, o desligamento das lâmpadas. “O número de acionamentos (liga/desliga) pode influenciar no tempo de vida útil do equipamento, o que também poderia acarretar em um prejuízo para o cliente”, explica. O gerente de Eficiência Energética da RGE, Odair Deters, chama a atenção para a possibilidade de se utilizar a iluminação natural. “Isso impacta na redução do consumo”, salienta.

Um aparelho que muitas vezes é mal utilizado é o split, um tipo de ar-condicionado usado principalmente no verão, que consome energia elétrica enquanto trabalha para que o espaço físico onde está instalado atinja o limite fixado no termostato (dispositivo interno do objeto que mede e informa a temperatura ambiente). Para atingir a temperatura estabelecida, deve-se fechar as janelas e portas do local, assim o equipamento precisa fazer menos esforço e consome menos energia.

Muitas vezes, surge a dúvida se, depois de todo esse processo, vale a pena desligar o split ao se ausentar do espaço para reduzir consumo. “Desligar o aparelho é conveniente para períodos longos de desocupação do ambiente (superior a 30 minutos), evitando que o mesmo trabalhe sem que existam pessoas para usufruir da sensação térmica”, ressalta Balbino. Uma vez desligado, seria necessário refazer todo o procedimento para refrigerar o lugar. “Lembre que o consumo de energia elétrica está diretamente ligado ao trabalho que o equipamento irá exercer para a manutenção da temperatura ambiental”, enfatiza. Deters ressalta que equipamentos condicionadores de ar podem representar de 15% a 50% do valor de sua conta de luz, “quando usados moderadamente”.

No Brasil, outro aspecto a ser considerado é a influência das particularidades regionais, devido às características geográficas e econômicas. O consumo energético da área rural e da cidade, por exemplo, não é uniforme e varia conforme a região. “Podemos citar o uso de chuveiros mais potentes na Região Sul, devido ao frio, ou o uso mais frequente de ar-condicionado em regiões mais quentes, como Norte e o Nordeste do país, onde o calor é mais forte e predominante”, compara Balbino.

Segundo a RGE, a empresa investiu, em 2020, R$ 12,2 milhões em projetos de eficiência energética específicos para o público de baixa renda. Ações como substituição de lâmpadas menos eficientes por LED, substituição de chuveiros por outros mais eficientes ou por sistemas de aquecimento solar, instalação de sistemas de geração fotovoltaico em clientes com Unidade de Terapia Intensiva (UTI) domiciliar, regularização de clientes clandestinos, substituição de geladeiras e ações de conscientização.

Selo incentiva produtos mais eficientes

O consumo de energia também está diretamente ligado à potência do equipamento e ao tempo de sua utilização. Os dados de fabricação dos produtos indicam quais são os que mais usam energia para o funcionamento. Quanto mais alta a potência, maior será o gasto com a energia. Balbino reitera que, via de regra, chuveiros elétricos e condicionadores de ar costumam causar mais impacto no gasto de energia de uma residência, além de geladeiras e freezers que ficam ligados o tempo todo e também influenciam na conta. Deters explica que, em residências que não possuem equipamento de ar condicionado, o chuveiro ocupa o posto de maior vilão. “Na área de concessão da RGE, é comum encontrarmos chuveiros com potência de 7.800 W, que consomem muita energia, dadas as condições de temperatura mais fria ao longo do ano se comparadas às outras regiões brasileiras”, comenta o gerente de Eficiência Energética da empresa.

Para orientar o consumidor na compra de produtos fabricados com os melhores níveis de eficiência energética dentro de cada categoria, o Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel) criou o Selo Procel, por meio de decreto presidencial de 8 de dezembro de 1993. O projeto é executado pela Eletrobrás e tem o objetivo de incentivar o desenvolvimento e a comercialização de produtos mais eficientes. O selo permite ao consumidor conhecer, entre os equipamentos e eletrodomésticos à disposição no mercado, os mais eficientes e que consomem menos energia.

A partir de sua criação, foram firmadas parcerias com o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), associações de fabricantes, pesquisadores de universidades e laboratórios com a finalidade de estimular a disponibilidade de equipamentos cada vez mais eficientes para o consumidor.

Cuidados na escolha e no uso do ar condicionado

  • Escolha modelos que tenham o Selo Procel de Economia de Energia;
  • Prefira os que possuem recursos de programação, como Timer e Sleep (permite a programação do equipamento para ligar um pouco antes da chegada ou para desligar depois de um certo tempo);
  • Compre um aparelho com a potência adequada para o ambiente a fim de evitar que se tenha um equipamento muito potente para um espaço pequeno ou um equipamento limitado, que precise estar ligado emuma temperatura inadequada e por mais tempo em um ambiente maior;
  • Regule o equipamento em 23 graus, modo que costuma ser ideal e consome menos energia;
  • Mantenha os filtros limpos, pois quando sujos forçam o aparelho a trabalhar mais.

Abecedário da energia

Apesar de nem sempre ser notada, todos os equipamentos elétricos vêm com uma etiqueta contendo várias informações. Algumas delas são representadas pelas letras A, B, C, D e E. São cinco faixas de classificação, em ordem decrescente, do nível de maior (A) ao de menor (E) eficiência energética de consumo. Os dados disponibilizados auxiliam no momento de compra de produtos mais econômicos e, simultaneamente, favorece a fabricação de peças mais eficientes. Além das letras, indicações numéricas também são fornecidas, como o consumo em quilowatt-hora (kWh).

Tecnologia e baixo consumo

Várias universidades desenvolvem estudos na área de energia. Na PUCRS, o professor Odilon Duarte coordena o Laboratório de Eficiência Energética. Foto: Ricardo Giusti

Muitos centros tecnológicos de universidades brasileiras estão ativos no desenvolvimento de projetos com ênfase no uso eficiente da energia. É o caso do Grupo de Eficiência Energética (GEE) da Escola Politécnica da Pontifícia Universidade Católica do RS (PUCRS). O GEE faz pesquisas em parceria com os setores público e privado, em torno dos temas relacionados ao emprego sustentável dos recursos naturais com foco na utilização racional da energia. Segundo o coordenador do Laboratório de Eficiência Energética (Labee) e professor de Engenharia Elétrica da PUCRS, Odilon Duarte, “destinam-se a todos os setores da sociedade”.

Entre os projetos desenvolvidos há a elaboração de estudo de eficiência energética nos setores industrial, de comércio e serviços, pesquisa na área da habitação de interesse social e na aplicação das metodologias de eficiência energética em escolas públicas estaduais do Rio Grande do Sul. Há ainda trabalho de incentivo e capacitação de micros e pequenas empresas e microempreendedores individuais.

Outra atividade desenvolvida na PUCRS é o teste de ventiladores de teto. Aproximadamente um terço dos fabricantes de ventiladores de teto do Brasil participam dos testes de eficiência energética feitos nos Laboratórios Especializados em Eletroeletrônica, Calibração e Ensaios (Labelo) da universidade. Em termos gerais, a classificação de eficiência energética de ventiladores de teto é baseada na relação entre a quantidade de ar gerado em uma direção específica e a energia elétrica consumida. Os resultados dos testes são comparados à tabela de referência publicada pelo Inmetro que indica a classificação de A até E e define a eficiência do produto.

O Labelo possui a acreditação do Inmetro para realizar este tipo de atividade desde 1997. “Além dos ventiladores de teto, que tiveram os primeiros ensaios realizados em 2005, também avaliamos, por exemplo, a eficiência energética de condicionadores de ar, refrigeradores, televisores, máquinas de lavar roupa, micro-ondas, lâmpadas, luminárias públicas, motores elétricos dentre outros”, destaca o diretor do Labelo, Israel Teixeira.

Diversificação energética

O suinocultor Valdecir Luís Folador tem uma granja de produção de suínos no município de Barão de Cotegipe, região do Alto Uruguai, norte do Estado. Ele decidiu investir na energia fotovoltaica para reduzir o consumo de energia elétrica vindo da rede. O novo sistema de abastecimento vai atender desde iluminação, aquecimento dos animais, fábrica de ração, todos os equipamentos elétricos utilizados na granja e as residências dos funcionários que moram na propriedade. Folador explica que, com a implementação da usina de energia solar, ele vai pagar em torno de 3% da média mensal que costumava pagar, que era na faixa dos R$ 10 mil. Dessa forma, a conta que era R$ 10 mil passou para R$ 300 e o restante do valor ele usa para amortizar a parcela do financiamento do sistema, que custou R$ 600 mil. “Em cinco anos e meio eu quito o financiamento, sigo pagando em torno de 3% do que consumi e posso usar os R$ 9.700 como eu quiser.” A vida útil do sistema é de 25 a 30 anos e o que for gerado de energia elétrica pela usina acima do valor que foi medido pela distribuidora será revertido em crédito de energia elétrica para consumo posterior pelo suinocultor.

A energia fotovoltaica vem ganhando espaço no Estado e apresenta um crescimento de 10% ao mês. “Cerca de 63% de energia voltaica no Estado está sendo usada pelo comércio e residências”, afirma o diretor do departamento de Energia da Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema), Eberson Silveira.
Um levantamento feito pela Sema, em 2019, aponta que a capacidade operacional instalada no Rio Grande do Sul é a mesma da brasileira (87% de fontes renováveis e 13% de fontes não renováveis). Silveira defende que o Brasil é privilegiado neste sentido e está na contramão do mundo quanto à dependência de energia fóssil. “O planeta usa apenas em torno de 23,6% de energia renovável e 76,4% vem da energia fóssil, uma inversão da realidade do país”, explica.

No Estado, o destaque está no crescimento da energia eólica. Em 2006, por meio Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa), executado pela Eletrobrás, o RS fez a contratação, por 20 anos, da energia produzida em parques eólicos. A partir daí foram construídos parques em Osório, Tramandaí e Palmares do Sul. De 2006 a 2021, o total de parque passou de três para 76, com 1.832 MWh de capacidade instalada. Eles estão localizados em nove cidades: Osório, Tramandaí, Palmares do Sul, Santa Vitória do Palmar, Xangri-Lá, Chuí, Santana do Livramento, Rio Grande e Viamão. O Brasil tem instalado em potencial eólico 17.156 MWh, sendo que o RS está atrás de Rio Grande do Norte, Bahia, Ceará e Piauí. Silveira reforça que hoje o foco está na construção de uma rede de transmissão para atender outros projetos e escoar a energia produzida em um determinado local para o sistema nacional de transmissão.

Ações que ajudam a reduzir o consumo de energia

  • Apagar as luzes ao sair do ambiente;
  •  Ao substituir aparelhos elétricos, escolher aqueles que possuem selo Procel;
  •  Reduzir o tempo de banho e, em dias quentes, colocar a chave de eletricidade do aparelho na posição "verão" para diminuir o consumo de energia elétrica;
  •  Não secar roupas atrás da geladeira, pois obstrui a circulação, o que aquece o motor e, consequentemente, gasta mais energia;
  •  Substituir as borrachas de vedação da geladeira quando as portas não estiverem permanecendo vedadas;
  •  Substituir lâmpadas incandescentes e fluorescentes por modelos LED;
  • Retirar os aparelhos eletrônicos da tomada quando não estiverem em uso, pois o stand-by (modo espera) consome energia;
  • Acionar o “modo energia” em modelos Smart, já que, de acordo com a marca do aparelho, a redução do consumo de energia pode ser de até 30%;
  • Ativar o “modo energia” em computadores, notebooks, tablets e celulares;
  • Desligar o monitor do computador quando for deixá-lo inativo por mais de dez minutos;
  •  Valorizar uso da iluminação natural e as lâmpadas de LED.

 

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895