Ensino se adapta à pandemia

Ensino se adapta à pandemia

Recente estudo indica que 82% dos professores brasileiros já se sentem muito ou extremamente confiantes em relação ao preparo técnico para o ensino on-line

Por
Maria José Vasconcelos e Vera Nunes

Sem saber qual a duração da emergência gerada pela pandemia da Covid-19, aos poucos, também a área educacional precisou se ajustar a novas ações e rotinas, em busca de maior eficiência. E nessa relação que se estabelece entre a comunidade escolar, professores e alunos conquistam, gradativamente, melhores formas e espaços na construção de conhecimentos e saberes. 

Pesquisa feita em agosto último, com 325 educadores, de 26 estados brasileiros e Distrito Federal, confirma maior desenvoltura na interação docente. O estudo do International School, com apoio do edc Collab – Educational Development Centre, mostra que mais de 82% dos professores brasileiros já sentem-se extremamente ou muito confiantes em relação ao preparo técnico para o ensino on-line, diferentemente do início da pandemia, em março, quando 52,9% se sentiam totalmente ou pouco preparados tecnicamente. Dos entrevistados, 49,5% têm atuação direta na Educação Infantil; 63,40%, no Ensino Fundamental; e 11,70%, no Ensino Médio.

Sobre dispositivos e ferramentas usados para aulas on-line, 19,7% utilizam desktop com Internet; 83,7%, laptop com Internet; 45,5%, celular com Internet; e 7%, tablet com Internet. E 66% deles não compartilham os mesmos dispositivos com algum membro da família, enquanto 33,2% os usam conjuntamente. A respeito de impactos sofridos em preparação das aulas, o estudo aponta que 96,6% dos professores relataram conflitos e embates durante esse processo, especialmente na fase inicial, enquanto 3,4% dos docentes afirmaram que não tiveram prejuízos.

Formações extras

Em relação ao tempo de aula, 76,6% revelaram que a preparação sofreu reflexos e 23,1% acreditam que não teve influência. Em muitos casos, ocorreram esforços, coletivos e/ou individuais, em busca de maior competência docente por meio de tecnologias e mídias virtuais. Então, verifica-se que, quanto a formações extras oferecidas por escolas durante este período, 53,8% receberam capacitação, enquanto 46,2% não tiveram este suporte. Mas 68,9% afirmaram ter procurado cursos fora da instituição onde trabalham e 31,1% não buscaram. Já no quesito desenvolvimento profissional, 17,2% não se aprimoraram durante esse tempo, enquanto 82,8% sentiram necessidade.

A pesquisa sobre pandemia e ensino ainda abordou aspectos ligados à saúde mental dos professores neste período. Então, segundo os dados, 91,7% dos entrevistados confessaram ter procurado ajuda psicológica. E quando perguntados sobre o quanto se acham preparados emocionalmente, desde o início da pandemia até os dias atuais, o cenário é positivo: mais de 64% relataram que, no começo das aulas remotas se sentiam totalmente ou muito inseguros e, agora, 58,5% se sentem muito ou totalmente confiantes.

Desigualdades

Outro estudo, recentemente realizado pela União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), revelou que 96% das redes municipais ofereceram atividades não presenciais, on-line e off-line. No entanto, mesmo assim, a pandemia acentuou desigualdades sociais, já que nem todos os alunos possuem acesso à Internet. E, de acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), em todo o Brasil, em torno de 9% dos estudantes estão sem nenhum tipo de atividade escolar durante esse período.

Já o relatório semanal (20 a 26/9) da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Covid-19 (Pnad Covid-19), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aponta que 6,4 milhões (13,9%) de estudantes não tiveram atividades escolares, dentre os 46,1 milhões de alunos que frequentavam escolas ou universidades durante este período. O levantamento ainda revela que esse contingente ficou estatisticamente estável em relação à semana anterior, quando 6,3 milhões (13,7%) dos estudantes não tiveram atividades. Porém caiu, se comparado à semana de 28/6 a 4/7, que registrou 9 milhões (20,0%) de estudantes sem atividades. Diante dos 39,2 milhões de alunos com atividades escolares na quarta semana de setembro, 26,1 milhões (66,7%) tiveram aulas remotas em cinco dias da semana, mantendo a estabilidade da semana anterior (26,2 milhões, 66,3%). Segundo o IBGE, haverá a coleta de dados da Pnad Covid-19 até 11 de dezembro deste ano, estando ainda previstas mais três divulgações, referentes aos meses de setembro, outubro e novembro de 2020. Mais informes e dados no site.

Famurs

A coordenadora técnica de Educação da Famurs (Federação das Associações de Municípios do RS), Juçara Dutra Vieira, destaca que a pandemia surgiu em contexto pouco popularizado de trabalho remoto, a distância (EAD) ou on-line na maioria das redes municipais.

Atualmente em assessoria às prefeituras, e próxima a suas secretarias de Educação, a pedagoga lembra que recentes pesquisas de Undime e Famurs mostram avanços do ensino remoto municipal. Segundo ela, inicialmente, a principal estratégia para garantir os estudos era a entrega de trabalhos impressos, pelas secretarias ou escolas, diretamente a pais ou alunos. Em março/abril, 14,9% dos municípios enviavam tarefas on-line; 37,3% entregavam, nas escolas, aos pais; e 47,9% utilizavam outras formas, como setores da prefeitura, colegas ou docentes levando materiais a alunos. Com base nesse diagnóstico, o entendimento foi de promover formação que permitisse familiaridade com o sistema on-line no ensino, valorizando a expertise da universidade pública e com investimento de prefeituras para qualificar quadros.

Aos poucos, Juçara percebe que a relação escolar remota tem se diversificado, por meio de capacitações e uso de outras mídias.

A Famurs, em parceria com a Ufrgs, promove o curso on-line “Formação de Professores Municipais no Contexto da Covid-19”, já na 3ª turma. A proposta é de reflexão, a partir de conhecimentos científicos, para a prática profissional durante e pós-pandemia. Detalhes aqui.

 

Correio do Povo
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