ERS 118: Será que agora termina?

ERS 118: Será que agora termina?

Caminhões, retroescavadeiras e operários voltaram à rodovia, na região Metropolitana. A promessa agora é de conclusão das obras em 2020

 

Textos: Felipe Samuel 
Fotos: Guilherme Almeida

Mais de uma década após o início das obras de duplicação e restauração da ERS 118 — batizada de Mario Quintana —, caminhões, retroescavadeiras e operários voltaram a ocupar os canteiros às margens da pista. Como em uma novela que parece não ter fim, moradores, caminhoneiros e motoristas que usam a via no trecho que compreende Sapucaia do Sul e Gravataí devem conviver pelo menos mais um ano e meio com o barulho de operários, desvios e sujeira produzida pela pavimentação da via. Sucessivos governos e promessas renovadas de conclusão do trecho, que vai do km 0 ao km 21,5, simbolizam o desperdício de dinheiro público ao longo de 13 anos. Para se ter ideia da importância da conclusão da duplicação, na última década, conforme levantamento do Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM) feito a pedido do Correio do Povo, 90 pessoas perderam a vida em função de acidentes fatais na estrada.

Os R$ 200 milhões aplicados nas obras desde 2006, quando começaram os trabalhos, foram insuficientes para melhorar as condições da rodovia, evitar congestionamentos e reduzir os transtornos diários à população dos municípios que ficam às margens do trecho. Para transformar o traçado nem tão poético da rodovia que liga a BR 116, em Sapucaia do Sul, ao distrito de Itapuã, em Viamão, e cruza pela BR 290 (freeway) e pelas ERSs 020, 030 e 040 — estradas que conectam a Capital ao Litoral Norte —, e finalmente concluir os três lotes do projeto, a Secretaria de Logística e Infraestrutura (Selt) planeja investir mais R$ 131 milhões. A retomada dos trabalhos só foi possível graças à liberação dos recursos, no começo de julho, pelo governo gaúcho, que obteve financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Consideradas fundamentais para escoar o trânsito da Região Metropolitana, as obras de duplicação e restauração da ERS 118 estão 70% concluídas, de acordo com a Selt.

 

 

Mesmo com mais da metade dos serviços executados, em vários pontos a rodovia apresenta improvisos, buracos, lixo à margem da estrada, poeira e vegetação alta. A movimentação de caminhões e retroescavadeiras, principalmente do km 0 ao 5, no entanto, representa a esperança de milhares de motoristas que trafegam diariamente pelo trecho e enfrentam desvios e sinalização precária. Quem acessa a pista pela primeira vez, a partir do km 1, no viaduto sobre a linha do Trensurb, na estação Luiz Pasteur, se depara com asfalto irregular, vegetação alta e lixo às margens da via. Uma parte já apresenta os resultados do serviço de terraplanagem. Segundo a Selt, as obras estão na fase de instalação de pilares e fundações, mas apenas 30% estão concluídas. A presença de uma dezena de caminhões e maquinários, a partir do número 2300, revela a importância do trecho para escoar o movimento da Região Metropolitano. Em função dos desvios, há lentidão em vários pontos da rodovia e os motoristas necessitam redobrar a atenção.

Em seguida, entre os km 3,2 e 3,4, os motoristas se deparam com as obras do viaduto sobre a avenida Theodomiro Porto da Fonseca. A conclusão do trecho também vai melhorar o acesso à Unidade de Pronto Atendimento de Sapucaia do Sul, localizada próxima ao viaduto. De acordo com a Selt, cerca de 50% do lote 3 (km 0 ao 5) estão concluídos, mas a restauração da pista antiga ainda não havia começado para não prejudicar o tráfego de veículos. Por outro lado, a pista de duplicação está com 45% dos serviços realizados e as ruas laterais estão com 25% dos trabalhos executados. 

Uma leve melhora na via pode ser verificada a partir do km 5, onde o asfalto está em boa condição. Diferentemente dos primeiros cinco quilômetros, há sinalização às margens da rodovia. Em seguida, há novos marcadores na pista que antecede a ponte sobre o Arroio Sapucaia, que ainda precisa ser finalizada. Mesmo com 70% da obra finalizada, a Selt informa que falta a execução dos aterros e da pista de duas das três pontes. Com isso, os motoristas precisam reduzir velocidade e redobrar atenção no trecho. Do km 5 ao 11, que faz parte do Lote 2, as obras estão mais avançadas, com 88% de conclusão. As ruas laterais estão 90% finalizadas, mas resta concluir os acessos à transposição do poliduto da Transpetro. 

Embora a Selt garanta que as obras que envolvem o trecho do km 11 ao 21,5, do Lote 1, estão com 90% dos serviços executados, o que se percebe ao longo da via são trechos com asfalto raspado, sinalização precária e pouca movimentação de operários ao longo das laterais da rodovia. A Selt ressalta que, nas ruas laterais, 75% das obras estão executadas. Os acessos aos viadutos da avenida Marechal Rondon e sobre a ERS-020 ainda precisam ser concluídos. A restauração da pista antiga está 55% finalizada. 

 

 
 

Os perigos de quem vive na rodovia

 

Se para muita gente a obra vai resolver problemas do trânsito, para outras ela ainda representa um verdadeiro tormento. É o caso de Sônia Teresinha de Figueiredo, 54, que mora em uma casa à margem da rodovia, no km 4, do lado de um córrego. Desde que as obras tiveram início no local, há oito anos, a rotina dos moradores foi afetada. Conforme Sônia, os problemas de infraestrutura começaram a surgir quando a Conterra (empresa que entrou em recuperação judicial e não finalizou a obra do lote 3) iniciou as obras. Moradora da região há 25 anos, ela viu parte da garagem da casa onde morava ser atingida pelos trabalhos de duplicação. “Desbarrancou todo terreno onde era a parte da garagem, que está cedendo, sem falar no lixo que fica acumulado aqui. Agora largaram mais um cano que também vai bater no terreno. Já fui no Daer, não resolveram”, afirma.

Dos 27 metros de frente do terreno, pelo menos cinco metros estão comprometidos. Indignada com a falta de consideração do poder público, Sônia foi ao Daer e explicou a situação, mas não recebeu retorno. “Larguei os papéis com medição do terreno. A gente paga imposto em dia e está acontecendo esse problema”, frisa. “A minha casa está cedendo”, acrescenta. Com o perigo iminente de a moradia cair no barranco, há cinco anos ela foi obrigada a deixar a residência com a família e ir morar na casa do pai, que fica a alguns metros da sua. “Morava aqui, mas saí porque meu pai é cadeirante, não tem nem como ficar”, destaca. Antes, a solução encontrada foi alugar o local, mas com a piora da estrutura, poucas pessoas se arriscaram a ficar. Ainda assim, Sônia lembra que algumas famílias já foram flagradas ocupando a casa. “O terreno e a casa são meus. Aluguei e faz dois dias que roubaram a fiação. Quem vai querer morar em um lugar perigoso como esse?”, indaga.

Outros vizinhos de Sônia também reclamam. É o caso de Vânia Guacira de Oliveira Farias, 53, que mora em uma casa ao lado da de Sônia, no km 4. “Estouraram os canos de água. Já faz oito anos que recebemos água com essas mangueiras azuis, de forma improvisada”, critica. Ela destaca que a Conterra havia instalado bueiros no local, o que impedia que água entrasse no pátio das casas. Mas após a Construtora Toniolo Busnello assumir a obra, aumentaram os problemas de entupimento do esgoto. Em dias de chuva, os moradores daquele trecho são obrigados a fazer valetas para evitar que a água tome conta das casas. “A Toniolo veio e tapou os bueiros, tanto que aterrou com terra vermelha e hoje a água entra para dentro das casas.”

Sem encanamentos de água, a solução encontrada pela Corsan foi instalar mangueiras, que passam na frente das casas, para fornecer água aos moradores. “Olha a nossa dignidade: as mangueiras arrebentam todos os dias e a Corsan não quer vir. A água jorra e não consertam. É um desperdício e nós ficamos sem água. Só que a conta da água é altíssima e chega todo mês. São R$ 80,00, R$ 90,00, R$ 100,00 sem tu receber a água. Quer dizer, a nossa dignidade é uma mangueira azul, o ‘gato’ é deles há oito anos e eles não resolvem. Continuamos pagando tudo em dia”, dispara. Vânia garante que foi à Corsan pedir explicações. “Eles disseram que não podem botar os canos porque estão esperando a empresa arrumar as calçadas, para poder liberar eles de abrir tudo de novo, fazer encanamento novo, tudo de novo. Daí vai arrebentar de novo os canos do esgoto que já estão aqui embaixo. Eles não se acertam e não nos dão satisfação”, afirma.

A água jorra e não consertam. É um desperdício e nós ficamos sem água. Só que a conta da água é altíssima e chega todo mês. São R$ 80,00, R$ 90,00, R$ 100,00 sem tu receber a água.

Não bastassem os inúmeros prejuízos causados no entorno, as obras também afetaram a estrutura das casas. Com a movimentação do maquinário pesado na via, a casa de Vânia teve seis vidros quebrados e a estrutura comprometida. Em novembro do ano passado, ela diz que foi obrigada a chamar um engenheiro do Daer para verificar se as casas daquele km sofriam algum risco. “Quando a Toniolo

começou a meter a máquina aqui, rachou todos os vidros da minha cozinha. Quebrou. Pedi para ele vir e dar uma olhada, como engenheiro, se teria perigo de a casa cair”, observa. Vânia também pediu que um funcionário da empresa fosse ao local. A vistoria, no entanto, resultou em boletim de ocorrência na Polícia Civil contra o servidor. “Chamei ele e mostrei que os vidros estavam caindo, que caíram em cima da minha filha uns pedaços do vidro. Ele disse que não sabia que velha tinha filho. Por causa do palavreado dele que registrei BO. Tudo isso mandei para a Toniolo em e-mail, fotos. Eles disseram que em sete dias tomariam providência. Isso vai fazer um ano”, alega.

Diretor da empresa, Humberto Busnello explica que o funcionário que se desentendeu com Vânia foi dispensado do grupo no final do ano passado. Busnello desconhece, no entanto, o registro do boletim de ocorrência. Sobre os problemas causados na estrutura das moradias, ele garante que a empresa mantém canal permanente de comunicação com os funcionários envolvidos com a obra. “Não chegou nada para a gente sobre esses problemas de rachaduras nas casas”, afirma Busnello, que reconhece, no entanto, que o procedimento adotado pelos moradores é correto. No que diz respeito ao sistema de água, ele destaca que a empresa começou as obras em julho do ano passado. “O entupimento é um problema que ultrapassa a questão da rodovia. O que está sendo feito lá hoje não tem continuidade com o subdimensionamento que tem na drenagem municipal. Pode ter algum problema, a prefeitura sabe disso também, tanto que foi feita modificação no projeto”, observa.

Além dos problemas estruturais, Vânia explica que os moradores querem a colocação de uma proteção no trecho onde há a elevada sobre o córrego. Entre os problemas apontados no trecho estão a corrosão da beirada do asfalto e a ausência de proteção metálica (guard rail) em uma descida que passa pelas casas próximas. À noite, a passagem de carros oferece mais riscos a quem transita pelo local, uma vez que não há iluminação. Até a entrega de cartas se transformou em um grave problema aos moradores, já que o nome do bairro, que sempre foi Valderes, mudou para Boa Vista. “Quando o carteiro põe no GPS da moto, dá em Viamão, como ocorre com motoristas de aplicativos. Chamamos o carro e eles dizem: minha senhora, estou aqui parado na frente”, critica. Com isso, muitas vezes, os moradores precisam explicar mais de uma vez o local onde moram. “Ninguém nos acha mais.”


Previsão é de conclusão até julho de 2020

Em vistoria à rodovia no final de junho, o governador Eduardo Leite destacou que a retomada das obras da ERS-118 foi possível graças aos recursos garantidos pelo BNDES. Ao enfrentar engarrafamento de 40 minutos para chegar a um trecho da rodovia escolhido para vistoriar, no meio da tarde de um dia de semana, o governador sentiu na pele as dificuldades de quem precisa acessar a rodovia diariamente. “Não é horário de pico e a gente já vê o problema do trânsito na região, não apenas pela lentidão, mas pela complexidade do que acaba se impondo aqui, dos problemas de uma região urbana de trânsito de pedestres. Isso oferece mais lentidão e riscos para as pessoas.” Ele salientou que a conclusão do trecho é fundamental para Região Metropolitana e uma das prioridades da sua gestão. “Falo que as obras devem levar mais um ano, mas nosso secretário (Costella) é mais prudente, fala em um ano e meio. Importante é que a gente tem agora recursos assegurados, porque muitas vezes o problema foi falta de recursos”, destaca. Leite frisa que a conclusão das duas pistas centrais, das duas laterais e das obras de arte vai permitir melhor fluidez do tráfego, liberando outras rodovias, fazendo com que a ERS 118 possa ser opção de trânsito entre os municípios. “As pessoas vivem em uma cidade, usam serviços de outras, trabalham em outras, e essa integração que existe na região Metropolitana faz necessitar uma rodovia com consistência de estrutura para fazer esses deslocamentos. Então é segurança, agilidade, melhor qualidade de vida para as pessoas”, afirma Leite.

Em vistoria às obras no dia 1º de julho, o titular da Selt, Juvir Costella, afirmou que os serviços foram retomados na maior parte dos trechos das laterais da rodovia, após dois meses com as máquinas paradas. “Podemos dizer que temos data de início e de término”, destacou. Cauteloso, Costella alerta que no período pode ocorrer “algum percalço”, principalmente em obras de arte, durante a duplicação e restauração da rodovia, que envolve seis pistas: quatro centrais e duas laterais. “Faço sempre uma programação para que possamos entregar até o final de 2020, que é a entrega de toda a obra. Mas o governador Eduardo Leite tem determinado que façamos o possível para entregar até julho de 2020”, observa.

A certeza de que a obra, cujo projeto original foi lançado em 1996, será entregue até o final do próximo ano está na garantia da verba para finalizar a rodovia. A presença de engenheiros e operários das empresas Toniolo Busnello, Sultepa e Premold, que voltaram a executar os trabalhos de duplicação e restauração, também reforça essa perspectiva. “Pela primeira vez, durante todos esses governos, o que se percebe é que temos o valor previsto para o término da obra já definido e liberado. Todos os governos (anteriores) deram sua contribuição, cabe ressaltar. Essa não é obra de um governo, é de todos os governos, que de uma forma ou de outra deram sua contribuição”, reforça. Entre obras de arte, duplicação, viadutos, pontes, Costella garante que 70% dos trabalhos estão concluídos. Ele pondera que os serviços do lote 3, que vai do km 0 ao 5, em Sapucaia do Sul, podem ser mais complicados, uma vez que envolve o viaduto sobre a avenida Theodomiro Porto da Fonseca, no trecho do km 3,2 ao 3,4, que está 65% concluído, e a elevada que liga a rodovia à BR 116. As melhorias na ERS 118 devem impactar o tráfego da rodovia e dobrar o Volume Diário Médio (VDM). “Hoje temos um VDM aproximado de 30 mil veículos/dia. Não tenho dúvida de que na conclusão da duplicação e do término da obra, ela vai no mínimo duplicar”, frisa. 

 


Movimentação é intensa na margem da rodovia

Se por um lado a expectativa é de finalizar o trecho até 2020, por outro o secretário já recebe cobranças da comunidade sobre a continuidade das obras a partir da BR 290 até Viamão. Conforme Costella, as melhorias só devem ocorrer a médio e longo prazo, mesmo com a construção do viaduto no entroncamento da ERS 040 com a ERS 118, cujo serviço é realizado pela Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR). Para isso, uma das alternativas avaliadas pelo governo é buscar recursos no Banco Mundial. Em época de veraneio, o trecho é o caminho utilizado por milhares de veranistas para ir ao Litoral Norte. Os desvios obrigam os motoristas a ter paciência para enfrentar os frequentes congestionamentos. “Hoje está sendo construída a elevada na ERS 040 com a ERS 118, que liga e desafoga a ERS 118, em Viamão, levando para o Litoral Norte. Então acho que é um somatório de obras que nós vamos poder iniciar em um planejamento para o futuro, mas prefiro pensar hoje na conclusão desses 21,5 quilômetros para depois, quem sabe, pensar em um novo desafio, a continuidade da ampliação da ERS 118.” 

Órgão responsável pela execução dos trabalhos, o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) criou uma espécie de força-tarefa, com profissionais de várias áreas técnicas da autarquia e das empresas contratadas, como diretores, superintendentes e engenheiros. “Essa obra é considerada a vitrine do governo para o segundo semestre (de 2020). Estamos elegendo pessoal específico para tratar desses assuntos. Estamos dando todo nosso gás para trazer contratos à tona e dar o devido andamento”, destaca o diretor-geral do Daer, Sívori Sarti. Apesar do esforço, Sarti ressalta que a duplicação é de alta complexidade. 

Um problema constatado ao longo da via é a iluminação precária, que pode aumentar o risco de acidentes. “Tínhamos previsto em projeto a remoção desses postes, mas não é incumbência nossa, temos que pagar a RGE para fazer remoção. Vamos fazer à medida que for necessário, mas a iluminação não sei se está contemplada nos projetos. Isso vai ser avaliado”, informa. Com dinheiro suficiente em caixa para terminar a rodovia, Sarti lembra que houve alguns imprevistos, principalmente nos cinco primeiros quilômetros, e muitos transtornos à população. Pela magnitude da obra, segundo ele, é impossível não ter pessoas descontentes. Conforme Sarti, a orientação é de causar menor incômodo possível. “Há muitas famílias que foram desalojadas, mas também havia invasões. É óbvio que o Daer vai tentar fazer transcorrer com menores efeitos possíveis, não gostaríamos de ver ninguém descontente com a obra.”

A travessia da pista é uma das reivindicações de quem mora à margem da ERS 118. E para garantir a segurança das pessoas, Sarti afirma que há previsão de projetos para construção de seis passarelas. O secretário diz ainda que está em estudo a instalação de um prédio para os policiais rodoviários. A ideia é reforçar o policiamento, especialmente no início da liberação da rodovia, e monitorar o comportamento dos motoristas uma vez que o movimento deve duplicar no trecho. Sobre a manutenção, Sarti ressalta que há um planejamento para todas as rodovias que integram o programa de conservação do Daer com as superintendências regionais. “Elas atendem conforme orçamento para manutenção. Como rodovia nova, vamos fazer manutenção adequada, deixar em condições sem abandonar”, assegura. 

Em nota, a Selt informa que dois contratos de sinalização já estão em atividade, com as empresas contratadas. Do km 0 ao 5, a empresa responsável é Sinasc. Do km 5 ao 21,5, a Sinarodo ficará responsável pela sinalização. Conforme a secretaria, a Sinarodo já instalou placas, pórticos e semipórticos em pontos localizados entre os km 5 e 21,5. A Sinasc aguarda a conclusão de trechos do km 0 ao 5 para começar os serviços. O segmento do Morro do Coco, que corresponde ao lote 1, do km 11 ao 21,5, está em fase adiantada de execução e a obra foi retomada nos últimos dias, após a liberação de R$ 131 milhões, financiados junto ao BNDES.

Demora na conclusão é 'problema de gestão'

 

Desde o início das obras, o Sindicato das Empresas de Transporte de Carga e Logística no Rio Grande do Sul (Setcergs) acompanha os sucessivos problemas para concluir a rodovia. Especialista em questões de infraestrutura rodoviária e membro do Conselho Fiscal do Setcergs, Frank Woodhead aponta a falta de gestão e de planejamento do poder público, especialmente do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer), como as causas para a demora na conclusão da duplicação. “Esse assunto é tão embaraçoso para o Daer, que uma força-tarefa foi criada. Agora, aparentemente, as obras estão andando”, dispara.

Com a experiência de quem acompanha as obras há mais de uma década, Woodhead reitera as críticas feitas há um ano e meio, em reportagem do Correio do Povo, quando destacou a ausência de projetos para a construção de viadutos e pontes e classificou como exemplo de como não fazer uma rodovia. “É um desperdício total de dinheiro. Cada vez que para uma obra de uma rodovia, cobram (empreiteiras) todo o custo de desmonte da infraestrutura. Quando retomam os trabalhos, cobram toda montagem da infraestrutura, como locação de equipamento, contratação de pessoal”, frisa. Apesar das críticas, Woodhead acredita que desta vez a duplicação será concluída até o final de 2020, uma vez que o atual governador separou recursos para finalizar a ERS 118. “Tem verba específica e grande parte dos problemas já foi resolvido. Agora é questão de tocar a obra em frente e ficar em cima”, afirma.

Ele ressalta que a entrega da rodovia vai facilitar o acesso a indústrias e transportadoras instaladas ao longo da via. O entusiasmo com a retomada das obras, no entanto, é acompanhado de uma dose de ironia. “Se não terminar, todas as empreiteiras e o Daer têm de deixar de existir. Não é possível”, pondera, acrescentando que a duplicação compreende um trecho pequeno, com pouco mais de 21 quilômetros de extensão. “No RS, faltam cerca de 2 mil quilômetros de estradas duplicadas”, compara.

A Federação dos Caminhoneiros Autônomos do RS (Fecam-RS) cobra há muito tempo por providências do governo e faz coro às críticas da Setcergs. Há dois anos, a federação criticava a capacidade de veículos projetada para a rodovia e os erros decorrentes das interrupções dos trabalhos. Mesmo assim reconhece a importância da obra para melhorar o tráfego. “O melhor e mais sensato será aguardar a entrega da obra e aí comentarmos sobre uma realidade e não sobre expectativas. Continuo achando tragicômico e sobrecarregada antes de existir”, afirma o presidente da entidade, André Luis Costa.

90 MORTES EM UMA DÉCADA

De acordo com levantamento do Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM), de janeiro de 2010 a junho de 2019, do km 0 ao km 40, foram registrados 84 acidentes fatais que resultaram em 90 mortes. A maioria das mortes (55) ocorreu justamente no local das obras, do km 0 ao km 22. Somente nos km 2 e no km 5, ao longo de uma década, o CRBM contabilizou 18 mortes, nove em cada trecho. Entre as razões para os elevados índices de acidentalidade estão a péssima sinalização, as constantes obras e a alta densidade populacional nos trechos da rodovia. Conforme o CRBM, 2011 e 2012 houve o recorde de mortes em um ano: 14.

Para o comandante do CRBM, coronel José Henrique Gomes Botelho, os investimentos do governo são fundamentais para melhorar trafegabilidade, sinalização e luminosidade da pista. O oficial reforça que a rodovia tem característica peculiar - passa por diversos municípios e fluxo “considerável”. “A situação de obras é uma das agravantes. O fato de esse processo não estar concluído gera incertezas ao condutor que trafega ao longo da ERS 118”, observa. Além dos condutores, Botelho afirma que pedestres que transitam à margem da rodovia também podem ser vítimas de acidentes. “Pessoas acabam se colocando em situação de risco por querer fazer travessia ou por caminhar ao longo da rodovia. À noite existe outro fator, pois em determinados trechos a rodovia está completamente escura e isso faz com que usuários fiquem mais expostos.”


Impactos e perspectivas com conclusão das obras

 

Desde que as obras tiveram início, o prédio que abrigava uma guarnição da Polícia Rodoviária Estadual (PRE) em Gravataí, na ERS 118, foi colocado abaixo e o efetivo que ficava na via em caráter permanente foi deslocado para Viamão. Apesar da mudança, o comandante do CRBM ressalta que há patrulhamento na pista, mas que a intenção é começar a tratar de um local para instalar um novo prédio. Conforme Botelho, a presença de policiais na região é importante para coibir inclusive roubos de carga e de transportes de coletivos, uma vez que o trecho compreende municípios próximos. 

Com a rodovia em boas condições de trafegabilidade e acessos bem demarcados, a tendência é que a velocidade média aumente. “Vamos ter uma atuação muito forte para coibir excesso de velocidade. A tendência é do condutor aumentar velocidade média do veículo”, projeta.

Para reduzir os índices de acidentalidade da rodovia, o CRBM vai apostar, entre outras coisas, em trabalhos educativos com a comunidade escolar. Segundo Botelho, várias escolas estão instaladas à margem da rodovia, o que reforça a importância de uma atuação permanente na região.

Um dos maiores interessados na conclusão das obras, o prefeito de Sapucaia do Sul, Luis Link (sem partido), lembra que a maior parte dos trabalhos precisa ser efetuada no município. De acordo com Link, o viaduto sobre a avenida Theodomiro Porto da Fonseca, que está com 65% concluído, vai ser a única travessia para os dois lados. Além disso, o outro viaduto, que está sendo construído sobre a linha do Trensurb, na estação Luiz Pasteur, no km 1, está em fase inicial, com a instalação dos pilares e fundações. Conforme a Selt, 30% das obras foram executadas. “Está muito atrasada naquela parte. O maior investimento vai ser nessa região, mas falta muita coisa.” Conforme Link, o fim das obras vai representar alívio para os moradores. “Está sendo um transtorno enorme, principalmente quando ficou parada. Deu muitos acidentes por falta de sinalização.”

Outra preocupação é no que diz respeito à manutenção da via. “Esperamos que sejam licitadas passarelas para que a população faça essa travessia e não ocorram acidentes, inclusive com mortes.” Link destaca a importância da obra para a cidade, inclusive para trazer novos empreendimentos, e diz que já recebeu a garantia do secretário Costella de que uma das prioridades vai ser a instalação de passarelas. “Tem crianças que atravessam a rodovia para ir para o colégio, é um ponto crítico aqui”, acrescenta. Sobre alagamentos em determinados locais, ele garante que a prefeitura está avaliando os casos. “Estão aparecendo áreas de alagamento porque foram feitas travessias maiores e hoje, quando chove muito, a água escoa para o lado do bairro Valderes, o que está causando inclusive inundações. Mas estamos em conversas com os engenheiros do Daer e tentando achar uma solução para isso.”

Prefeito de Cachoeirinha, Miki Breier afirma que a cidade aguarda há 20 anos pela obra. Breier, que também preside a Associação dos Municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre (Granpal), frisa que a ERS é fundamental em função do polo logístico instalado na cidade. “As empresas olham principalmente a trafegabilidade, acesso, saída e chegada dos municípios. Então, Cachoeirinha vai dar um salto de qualidade importantíssimo para o seu desenvolvimento assim que essa obra estiver pronta”, projeta. O prefeito observa que, por ser polo logístico, o município precisa da ERS 118 para chegar às BRs 116 e 290. Isso facilitaria o escoamento da produção de empresas e permitiria que as mercadorias chegassem com mais tranquilidade ali. “Para nossa cidade, e sei que para as cidades do entorno também, a ERS 118 é fundamental, porque afastou alguns empreendedores que, ao olharem para cá, verificaram que a estrada estava em péssimas condições. Agora é um alento e certamente isso vai gerar desenvolvimento, emprego e muita renda para a nossa região.”

Satisfeito com o anúncio do governador, o prefeito de Esteio, Leonardo Pascoal, afirma que a garantia dos recursos do BNDES traz mais segurança para a conclusão do trecho. “Sem dúvida é a obra mais aguardada em termos de mobilidade de toda a Região Metropolitana. A gente tem defendido isso e, recentemente, fizemos um fórum em que reafirmamos a posição de todos os prefeitos da região, de que essa aqui tem que ser a prioridade número 1, em termos de mobilidade, por parte do Estado”, explica. Conforme Pascoal, a obra vai facilitar o deslocamento a diferentes pontos do Estado e trazer mais segurança no trânsito.

 

Uma das cidades que será indiretamente beneficiada com a conclusão das obras Viamão aguarda há um bom tempo pela conclusão do trecho. O prefeito André Pacheco afirma que há muita expectativa. Embora não faça parte dos trechos em duplicação, a parte final da ERS 118 se encontra com a ERS 040 e, até chegar à rotatória, o cenário de descaso e falta de cuidado se repete, com vegetação alta, sinalização precária e asfalto em péssima condição. Na junção, funcionários tentam dar continuidade à construção do viaduto na interseção das duas rodovias, já em Viamão. Conforme a EGR, responsável pela obra, cerca de 35% dos trabalhos estão concluídos, com a fundação e instalação dos pilares e vigas finalizados, no sentido Pinhal - Viamão. A estrutura, que terá vão livre de 5,5 metros e pista dupla, já prevendo futura duplicação da ERS-040, custará R$ 16 milhões.

Iniciada na metade de 2018, a obra é fundamental para reduzir congestionamentos, sobretudo durante o veraneio. “A parte da ERS 118 que nos traz atenção especial vai de Gravataí até ERS 040, pois é importante que seja dada sequência a partir da freeway até a ERS 040”, alerta. Pacheco acredita que o trecho, que envolve ainda uma rotatória, deve ficar pronto em até três meses e destaca a importância da retomada do debate sobre rodoanel. A ideia é levar a discussão a possibilidade de parceria público-privada (PPP) para dar andamento ao projeto. “Trata-se da sequência do asfalto da ERS 040 até a Praia de Itapuã, no Lami. Esse projeto existe e está na Metroplan desde a época do governo Yeda Crusius. Na sequência até lagoa, são 20 quilômetros, com ponte de 5 a 6 quilômetros até Barra do Ribeiro”, ressalta. Além de fomentar o desenvolvimento da Região Metropolitana, Pacheco frisa que a obra vai valorizar a região Sul e evitar congestionamentos. 

No total, a duplicação da ERS-118 tem oito contratos referentes a pontes e viadutos, sendo que cinco estão com obras concluídas. No último ano do governo José Ivo Sartori os trabalhos se intensificaram e construções foram inauguradas. Entre elas estão os viadutos na avenida Frederico Ritter, em Cachoeirinha; sobre a avenida Itacolomi, em Gravataí; sobre a avenida Marechal Cândido Rondon (no limite entre Gravataí e Sapucaia do Sul); a elevação do viaduto sobre a ERS-020, em Gravataí; e a transposição do poliduto da Transpetro, em Sapucaia do Sul.

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895