Estudos explicam e melhoram vidas

Estudos explicam e melhoram vidas

Com importante papel, a pesquisa tem ampliado e revelado descobertas, muitas delas de grande apoio social

Por
Maria José Vasconcelos e Vera Nunes

Curiosidade é importante qualidade de quem investiga algum fato. Aliada ao estudo, a vontade de saber mais e aprofundar conhecimentos pode resultar em pesquisa, com maior ou menor interação e impacto social. Às vezes provocado por notícias, por questões pessoais ou locais, o desejo de escarafunchar é motivado por uma indagação que deseja respostas ou melhores soluções a uma situação ou conjuntura.

Com estudo sobre casca de árvore com potencial para tratamento de doenças gástricas, a Universidade do Vale do Taquari (Univates), com sede em Lajeado, teve mais uma patente aprovada pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi). Na investigação, a paineira (Ceiba speciosa) foi utilizada como matéria de pesquisa. A descoberta em relação a essa árvore – de grande porte e comum no território gaúcho – está na casca da paineira, que contém poderoso elemento para o tratamento de doenças gastrointestinais. A planta, nativa das florestas brasileiras e de outras regiões do sul da América Latina, motivou averiguação (iniciada em meados de 2014) e resultou, neste ano, na segunda patente aprovada na Universidade, assegurando à Univates a possibilidade de seguir pesquisando as propriedades da Ceiba speciosa, com a chancela e a propriedade intelectual garantida.

Tratamento de doenças gástricas

Com o estudo sobre casca de árvore com potencial para tratamento de doenças gástricas, de Márcia e Juliana (D), a Univates obtém patente aprovada pelo Inpi. Foto: Artur Dullius / Divulgação / CP

Os resultados do estudo demonstram que a espécie vegetal possui potencial biotecnológico e farmacológico no tratamento de úlcera e lesões gástricas. Além disso, o Sistema Único de Saúde (SUS) tem interesse no uso de espécies vegetais, pelo potencial como componente terapêutico em medicamentos fitoterápicos. A proposta, da então mestranda Juliana Dorr, sob coordenação da professora Márcia Inês Goettert, do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia da Univates, teve colaboração de outras instituições.

Como o uso da casca da paineira, na medicina popular, é relatada, por moradores da região do Vale do Taquari, para o tratamento de doenças como úlceras e gastrites, Juliana se interessou pela planta. “A água em contato com a casca tem papel solvente e a capacidade de extrair alguns dos compostos presentes na casca responsáveis pelo efeito”, explica Márcia. “Para nossa surpresa, um dos extratos preparados com a planta reverteu a situação (úlcera induzida) e o animal tratado com o extrato da planta teve uma resposta positiva, comparável aos animais que foram tratados com omeprazol, medicamento utilizado para o tratamento de gastrite e úlcera”, revela a professora.

As pesquisadoras relatam que vários estudos revelam o potencial terapêutico de plantas pertencentes à família Malvaceae, como Ceiba pentandra, Bombax ceiba e Ceiba glaziovii, apresentando amplo espectro farmacológico relacionado a atividades antioxidantes, antiulcerogênicas e antimicrobianas. Também explicam que o tratamento de doenças gástricas é bastante oneroso, por isso, apontam a importância do estudo de novos agentes terapêuticos seguros, eficazes e com menor custo. Dentre as vantagens da invenção, destaca-se uma dosagem necessária pequena, evitando potenciais efeitos colaterais que podem ser imediatos ou cumulativos. Segundo a equipe, atualmente, das 71 plantas que fazem parte da Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao Sistema Único de Saúde (Renisus), 12 delas já são distribuídas pelo próprio órgão. Dados aqui.

Apoio psicológico

Já um projeto de apoio à população durante a pandemia integrou as universidades de Santa Cruz do Sul (Unisc), do Vale do Taquari (Univates) e a Estadual do RS (Uergs), com o objetivo de prevenir agravos psicológicos. Compreendendo os riscos de agravamento de estresse, ansiedade ou depressão nesse período, as instituições buscam auxiliar no processo de diagnóstico para a Covid-19 e para os sintomas psiquiátricos por meio de pesquisa. O trabalho visa oferecer teleatendimento psiquiátrico e psicológico, auxiliando pessoas em sofrimento psíquico. Segundo a professora Edna Linhares Garcia, da Unisc, a atual situação pandêmica favorece a intensificação do sentimento de desamparo psicológico, o que torna os desafios rotineiros e cotidianos muito mais difíceis e até paralisante. A intenção é ampliar esses atendimentos, ofertando encontros com abordagem de psicoterapias breves, baseadas nos protocolos disponibilizados pelo Ministério da Saúde; e, após o estudo, que a plataforma se torne ferramenta permanente de auxílio em serviços de saúde da rede pública para as situações de risco de suicídio. O estudo foi aprovado pelo Edital Inova RS, da Secretaria Estadual de Inovação, Ciência e Tecnologia (Sict). Além das universidades, fazem parte da equipe profissionais das secretarias de Saúde de Santa Cruz e de Lajeado e empresas. Na Unisc, o projeto é realizado pelos Programas de Pós-Graduação Mestrado Profissional em Psicologia e pelo Mestrado e Doutorado em Promoção de Saú-de, sob coordenação das professoras Edna Garcia, Silvia Areosa e Andréia Valim. Detalhes aqui.

Imigrantes italianos

  • A ocupação do Vale do Taquari por imigrantes italianos e descendentes ocorreu conforme práticas de uso do espaço adotadas na Itália. A constatação é resultado de pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Ambiente e Desenvolvimento da Universidade do Vale do Taquari (Univates), com sede em Lajeado. Acesso aqui.
  • Uma das investigadoras, a doutora Janaíne Trombini, pesquisou a história ambiental e as espacialidades ítalo-brasileiras, comparando territórios no norte da Itália e ao norte do rio Taquari, tendo como base o período compreendido entre os séculos XIX e XX. 
  • A pesquisa apontou muito mais semelhanças do que diferenças nas práticas sociais e culturais dos imigrantes italianos e ítalo-brasileiros descendentes no que se refere à relação com o ambiente. 
  • As correlações ambientais demonstram distinções como, por exemplo, relevo das áreas, posição geográfica do território, clima e principais rios (Pó, na Itália; Taquari, no Vale) como centrais no desenvolvimento das regiões; além de flora e fauna como características próximas dos dois locais.
Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895