Genética eleva performance da suinocultura

Genética eleva performance da suinocultura

Em uso há mais de meio século no Brasil, melhoramento nas criações de suínos tem eficácia comprovada no tempo de terminação dos animais, na qualidade da carne e no rendimento da carcaça

Estratégias de seleção diminuem a permanência do animal nas granjas de 180 para 150 dias, o que influencia nos custos de produção do setor, pressionados desde o ano passado pelos altos preços do milho, insumo principal das rações

Por
Maria Amélia Vargas

Instrumento de grande importância nos sistemas de criação da pecuária, o melhoramento genético – alinhado a boas práticas sanitárias, nutricionais, de manejo, de ambiência e de reprodução – tem mostrado resultados positivos para o produtor de suínos. Além de trazer qualidade à carne, a utilização de técnicas inovadoras vem revolucionando as formas de produzir desta cadeia e fomentando a expansão da atividade das granjas nas últimas décadas.

Entre os principais benefícios desses processos (que também envolvem o controle dos acasalamentos consanguíneos), destacam-se a aceleração do crescimento dos animais, a diminuição do seu tempo de permanência nas propriedades e o aumento do potencial reprodutivo. Isso gera mais lucratividade para o criador e cria oportunidades para a modulação dos produtos procurados por consumidores específicos, que podem ser comercializados com valor agregado e em novos mercados segmentados com peças exclusivas.

O pesquisador da Embrapa Suínos e Aves Elsio Figueiredo explica que o aprofundamento das técnicas de seleção genética de suínos teve início nos anos 1970 e segue evoluindo com muita rapidez desde então. “Hoje, há alternativas distintas para cada objetivo do produtor. Temos opções para aumento específico de qualidade, rendimento, aceleração ou redução de custo de produção”, destaca. 

De acordo com o especialista, os suínos utilizados na produção comercial brasileira provêm de vários programas de melhoramento genético, sendo alguns de multinacionais, de empresas brasileiras e de produtores que criam raças puras. 

Quando o desejável é diminuir os custos e garantir que a carne apresente um padrão mais industrial, o melhoramento genético ajuda a aumentar a capacidade de ganho de peso do animal. Figueiredo salienta que os cruzamentos aceleram a evolução do crescimento do animal e diminuem o tempo de permanência na granja, de 180 para 150 dias, quando se alcança o peso médio para o abate, em torno de 120 quilo. 

Em Picada São Gabriel, no interior de Cruzeiro do Sul, no Vale do Caí, o produtor llânio Johner cria a espécie Suíno Light (MS 115), animal desenvolvido com tecnologia de melhoramento da Embrapa e que tem rendimento de carcaça de até 63%. Foto: Granja Genética Pomerode / Divulgação. 

Em razão da crise de insumos vivida pela suinocultura desde o ano passado, com os altos preços do milho, base das rações, muitos produtores adotam a estratégia para minimizar os custos. O pesquisador esclarece, ainda, que a genética influi sobre rendimento de carne na carcaça, o qual passa de 50% para 58% depois do melhoramento. 

Quem vive a criação de suínos no cotidiano confirma as observações que vêm sendo feitas pelas pesquisas. “Até a década de 1980, um suíno levava oito meses para chegar a 90 quilos e estar pronto para o abate. Hoje, em seis meses ele chega a 140 quilos”, pontua o presidente da Associação de Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (ACSURS), Valdecir Luis Folador. O dirigente salienta que a qualidade do produto também teve um grande avanço. “Essa evolução da ciência reforça o desempenho sem comprometer a saúde do animal”, garante. 

Conforme Folador, a produção gaúcha de suínos aumentou 18% no período de 2016 a 2021, considerando plantel e ganhos de produtividade, chegando a 10,5 milhões de cabeças no ano passado. A partir de 2019, houve crescimento na produção gaúcha com a entrada da demanda chinesa, pressionada pela epidemia de peste suína africana. O mercado interno, entretanto, é o maior consumidor da carne suína, ficando com 75% do que é produzido. 

A média de custo de produção do suíno em março, segundo a Embrapa Suínos e Aves, foi de R$ 8,01 o quilo vivo. Pesquisasemanal da ACSURS indicava, no final de abril, que o preço do quilo recebido pelo produtor independente rondou os R$ 6,10. “Estamos vivendo essa crise por causa do aumento da produção para a China (o setor incrementou a produção para atender esta demanda, mas o país asiático diminuiu as compras desde o ano passado, com a recuperação do próprio rebanho), pelo alto custo de produção e pelos baixos valores pagos ao suinocultor”, frisa.

Com o objetivo de aumentar genótipos mais adequados para a indústria brasileira, o melhoramento genético é feito por meio de observação, pesquisa, seleção de animais e cruzamentos entre raças ou linhagens puras ou híbridas. Com a utilização dessa técnica, é possível, por exemplo, aumentar a resistência a doenças, aperfeiçoar a qualidade da carcaça e da carne e aumentar a prolificidade e a conversão alimentar nos animais.

Cooperativa de suinocultores Ouro do Sul iniciou o processo de melhoramento genético em sua granja de fêmeas em 2013, com foco na maior eficiência produtiva e na qualidade da carne, informa a veterinária Daniela Schuh, responsável pelo estabelecimento. Foto: Cooperativa de Ouro do Sul / Divulgação.

Em relação aos suínos, exploram-se as semelhanças e as diferenças observadas entre os animais, associando-se, então, conhecimentos de hereditariedade, reprodução e produção, peculiares de cada espécie e conhecimentos de matemática e de estatística (para avaliar quanto das diferenças observadas é de origem genética e quanto pode ser transmitido).

Dos 19 pares de cromossomos dos suínos, apenas um é responsável por definir o sexo dos animais. Os outros 18 pares são portadores de genes que determinam as outras características, como a cor da pelagem, a conformação e composição da carcaça, a capacidade de produzir carne ou gordura, a taxa de crescimento, entre outros. 
Esses genes interagem com as condições de criação dos animais, incluindo nutrição, alimentação, higiene, instalações e manejo, resultando na produção ou no fenótipo. O processo continua com a avaliação genética, para a qual são usadas informações disponíveis de todos indivíduos (e da sua árvore genealógica) ao longo do tempo e calculados valores genéticos para cada característica e para cada animal. 

Na seleção dos reprodutores, são escolhidos aqueles que atendam, de modo mais adequado, a aspectos de interesse zootécnico e econômico na escala de produção de suínos.

Resultados de longo prazo na produtividade

Cooperativa de Harmonia, no Vale do Caí, obtém a média de até 33 leitões por ano em cada uma das suas 4,3 mil matrizes, selecionando novas fêmeas com capacidade diferenciada de amamentar e de gerar crias de bom peso

Na Cooperativa dos Suinocultores do Caí Superior (conhecida como Ouro do Sul), em Harmonia, no Vale do Caí, a utilização da técnica de melhoramento genético foi iniciada em 2013. A veterinária responsável pela suinocultura da organização, Daniela Schuh, explica que o trabalho da Ouro do Sul envolve a aplicação de sêmen fornecido pela Agroceres PIC. “Nossa granja é composta por fêmeas, que recebem o material genético duas vezes por semana. Cada uma das 4,3 mil matrizes concebe 33 leitões por ano”, completa.

Com foco na eficiência produtiva, são selecionadas aquelas fêmeas com maior capacidade de produzir leite, que possuam boa habilidade materna, gerem leitões de bom peso e passem para as crias a genética de carne de qualidade (com pouca gordura e com facilidade para engordar).

Suínos produzidos no Brasil são resultado do cruzamento de raças importadas com raças nacionais. Os cruzamentos visam, além de produtividade e qualidade da carne, de acordo a Embrapa, uma maior resistência dos animais a doenças características da espécie. Foto: Embrapa Suínos e Aves / Divulgação

Desde a década de 1985, Ilânio Johner cria suínos. Mas foi em 2007 que iniciou o processo de melhoramento genético, com auxílio da Embrapa Suínos e Aves, para chegar à espécie conhecida como Suíno Light (MS 115) na Granja Genética Pomerode, em Picada São Gabriel, distrito de Cruzeiro do Sul, também no Vale do Caí. "O animal fechou com o que o mercado industrial busca hoje. Atraímos criadores de todo o país", explica Johner.

Segundo a Embrapa, machos reprodutores chegam a 115 quilos de peso vivo para uso em centrais de inseminação artificial e monta natural. Caracterizam-se por apresentar um percentual de carne na carcaça de cerca de 63%, reduzida espessura de toucinho e ótima conformação. 

Principais raças utilizadas nos cruzamentos genéticos para produção de suínos no Brasil

Estrangeiras

Duroc 
Desenvolvida nos Estados Unidos, serviu de base para muitos suínos comerciais de raça mista. O animal é proveniente de fêmeas e machos da cor vermelha, de Nova York. O primeiro registro da existência desse tipo de animal é de 1875. Raça muito apreciada pelo marmoreio na carne.

Landrace
Raça proveniente da Dinamarca, vem sendo aperfeiçoada no país há mais de meio século, com a finalidade de oferecer animais à produção de carne magra de excelente qualidade. Os primeiros exemplares chegaram ao Brasil no ano de 1955, em São Paulo. Na idade para o abate, aos sete meses, atingem cerca de 80 a 115 kg.

Large White
Raça originária do norte da Inglaterra, foi introduzida no Brasil no início da década de 1970. Os exemplares apresentam boa formação dos membros, com pernis cheios e profundos. A fêmea é conhecida por sua alta fertilidade.

Nacionais

Piau
Originário do Brasil (especialmente de Goiás, Mato Grosso e São Paulo), tem porte médio e crescimento lento. O custo de produção é baixo, e a carne é considerada de boa qualidade. A seleção do porco Piau foi iniciada na Fazenda Experimental de São Carlos, em 1939.

Moura
A raça Moura foi difundida no Sul do Brasil nas primeiras décadas do século passado, mas não se encontrou registro preciso de sua origem. Entre as características da raça Moura, a ABCS (2022) cita a pelagem preta entremeada de pelos brancos (tordilho), as orelhas Intermediárias entre ibéricas e célticas.

Canastra (Meia-perna ou Moxom)
Provavelmente, descendente da raça Alentejana, apresenta pelagem predominantemente preta, mas também indivíduos de pelagem malhada e ruiva, de perfil subcôncavo, orelhas de tamanho médio, pontudas, horizontais e dirigidas para a frente. É citada como do tipo ibérico, de cor preta.

Fonte: Embrapa Suínos e Aves

 

 

 

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