Informações falsas são utilizadas como estratégia de guerra

Informações falsas são utilizadas como estratégia de guerra

No conflito entre Rússia e Ucrânia, as fake news viram ferramenta de convencimento e difamação

Por
Giullia Piaia

Fake news. A palavra do ano pelo dicionário Oxford em 2016 se tornou termo comum e se espalhou pelo mundo. Utilizado diariamente pelos brasileiros, ainda que nem sempre de forma correta, a expressão de língua inglesa é atrelada a diversos temas, principalmente dentro do campo político. As consequências de encaminhar uma mensagem de WhatsApp de conteúdo duvidoso podem ser maiores do que se imagina.

A guerra entre a Rússia e a Ucrânia é um exemplo. Iniciada oficialmente no dia 24 de fevereiro, trouxe uma nova leva de notícias falsas: imagens de videogames passando por cenas do conflito armado, fotos editadas do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, com suásticas, vídeos falsos de soldados supostamente ucranianos se despedindo das famílias, entre muitas outras.

A proliferação das fake news em um momento de conflito como esse não é surpresa. Guerras costumam se provar terrenos férteis para a disseminação de desinformação, especialmente, após a popularização da Internet. “Seria impossível pensarmos as guerras hoje sem pensarmos também em uma comunicação midiática que dá conta de irradiar notícias globalmente, instantaneamente”, explica Thomaz Delgado de David, jurista e mestrando em Relações Internacionais pela Universidade de São Paulo.

A prática de espalhar informações falsas é muito antiga, porém, a Internet amplificou esse processo de maneira sem precedentes, fazendo com que a disseminação desses conteúdos se tornasse massiva. Em 2017, a empresa de consultoria Gartner alertou que, em 2022, a maior parte das pessoas em países economicamente desenvolvidos consumiria mais informação falsa do que verdadeira.

Essas informações enganosas são consumidas pelo público, que ajuda a espalhá-las. Como o público interpreta as informações é algo que está ligado a diversos fatores psicológicos. “O leitor sempre esperou que uma notícia confirmasse aquilo que ele acreditava que seria a realidade. Ele lê uma emulação noticiosa, com aquela informação que ele gostaria que fosse verdadeira, ele confia naquilo e isso leva a um empoderamento, no sentido de ‘eu sabia que era assim, eu vou compartilhar e fazer com que todo mundo entenda que o que eu sempre disse que aconteceria está acontecendo’”, exemplifica Marlise Brenol, jornalista, doutora em comunicação e professora na Universidade de Brasília. Essa talvez seja uma das maiores dificuldades no combate à desordem da informação, o fato que a avaliação, por parte do público, da confiabilidade de uma informação, não é feita de maneira racional, mas sim de maneira inconsciente e performativa.

Além da disseminação da informação falsa feita pelo próprio público, os produtores de fake news também podem fazer uso de tecnologias de automação, como contas automatizadas de redes sociais que compartilham os conteúdos enganosos, conhecidas como bots.

A prática de espalhar desinformação é antiga, mas a Internet amplificou esse processo de maneira sem precedentes, fazendo com que a disseminação desses conteúdos se tornasse massiva. Foto: Alina Souza

O que são exatamente as "fake news"

O termo fake news é amplamente utilizado em diversos contextos e por personagens distintos. Seja por um político que tenta se defender de uma acusação ou por um cidadão que encaminha uma mensagem no WhatsApp que descobre, posteriormente, ser falsa. A tradução do inglês significa “notícia falsa”.

As fake news podem ser definidas como informação fabricada que imita notícias em sua forma e aparência, mas essencialmente diferente das notícias, pois não há compromisso com a veracidade das informações e sim a intenção de desinformar. Elas podem assumir diversos formatos. Há o conteúdo que faz uso enganoso de informações para prejudicar uma pessoa ou assunto; o conteúdo impostor, que personifica fontes genuínas; o conteúdo fabricado, que é 100% falso, projetado para enganar e causar danos; manchetes, imagens ou legendas que não correspondem ao conteúdo, criando uma falsa conexão; conteúdo que é genuíno, mas é compartilhado com um contexto falso; conteúdo genuíno que é manipulado para enganar, como fotos editadas; e, até mesmo, sátiras e paródias que, apesar de não terem intenção de enganar, têm o potencial para tal. Uma única fake news pode ser contemplada por mais de uma categoria. Além disso, há o conteúdo falso compartilhado sem a intenção de causar dano, como ocorre em caso de erros jornalísticos.

É muito difícil determinar quem criou, produziu e distribuiu uma fake news e por quê. Produtores de fake news têm motivações diversas. Eles podem visar o ganho financeiro através de publicidade em seus sites ou tentam desacreditar um candidato em uma eleição ou mudar a opinião pública de alguma forma. Podem também ter motivação social e usar as fake news para firmar laços com um determinado grupo social. É muito difícil precisar a real motivação por trás da desinformação. Mesmo que haja razão financeira em sites que visam cliques com manchetes e histórias fictícias e sensacionalistas, por exemplo, é improvável que se descubra se há algum tipo de organização com outro propósito por trás.

A desinformação está nas guerras híbridas e nos conflitos convencionais

Guerras híbridas mesclam ataques regulares por terra, água e ar com investidas cibernéticas e outras atividades paralelas, como a disseminação de fake news para influenciar a percepção da população e da opinião pública internacional. Foto: Aris Messinis / AFP / CP

Assim como os conteúdos falsos ganharam novos contornos com a chegada da Internet, os conflitos modernos também foram alterados para acompanhar as novas tecnologias. Novas táticas de combate dão origem ao que alguns pesquisadores denominam de guerras híbridas, que mesclam ataques regulares por terra, água e ar, com ataques cibernéticos e outras atividades paralelas, como a disseminação de fake news para influenciar a percepção de populares e a opinião pública internacional, visando à desestabilização política. Guerras híbridas buscam objetivos políticos, muitas vezes dispensando um uso extenso de forças armadas, gerando menor gasto militar.

Um elemento importante das guerras híbridas são os ataques cibernéticos. Sites governamentais fora do ar, sistemas bancários e provedores em pane, como o que aconteceu na Ucrânia, logo antes da invasão russa, são conhecidos como “negativa distribuída de serviço” (DDoS, na sigla em inglês). “Os acessos são coordenados por hackers e partem de milhares de dispositivos ‘sequestrados’ em táticas de phishing e malware (instalação de arquivos maliciosos nas máquinas), ou seja, computadores de uso comum são usados em ataques de guerra sem agência do proprietário”, elucida Marlise Brenol.

Para além dos ataques cibernéticos, há a institucionalização das fake news. Segundo o historiador estadunidense Timothy Snyder, autor do livro “Na contramão da liberdade: A guinada autoritária nas democracias contemporâneas” (Companhia das Letras, 2019), a Rússia foi o primeiro país a dominar as fake news na era digital - uma tática já conhecida e utilizada pelos russos como parte de uma estratégia para desorientar a sociedade do próprio país desde os anos 90. Tal estratégia usaria da Internet e da televisão para disseminar desinformação, demonizar instituições com o dever de descobrir fatos, como os jornalistas, e, então, explorar a confusão resultante, em que os cidadãos se tornam cínicos e não acreditam mais na verdade.

Doutor em Relações Internacionais, o professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Fabiano Pellin Mielniczuk lembra, no entanto, que o uso sistematizado de fake news não é exclusividade da Rússia. “Desinformação é usada por todo mundo. Não só pela Rússia. Você pode ter um viés bem direcionado contra a Rússia, porque geralmente é isso que a mídia ocidental vende. Mas isso não é privilégio da Rússia.”

Tampouco o uso de fake news é exclusivo das guerras híbridas, a estratégia é mais antiga que isso. “Até mesmo as guerras tradicionais possuem alguns elementos que hoje são inafastáveis e que decorrem em grande medida de transformações sistemáticas como aquelas ocorridas a partir da década de 70 pelo avanço técnico científico informacional”, afirma Thomaz Delgado de David.

Mesmo um século antes, um conflito armado já era iniciado como consequência de fake news. “O começo da guerra franco-prussiana, em 1870, partiu de uma mentira do chanceler alemão, que pegou correspondências do Rei da Prússia para o imperador da França, Napoleão III. Ele editou essas cartas que eles trocavam e divulgou para a imprensa da França, fazendo uma espécie de montagem, como se parecesse que o rei prussiano estava ofendendo Napoleão III”, conta Mielniczuk. “A opinião pública caiu em cima de Napoleão III, forçando-o a declarar a guerra contra a Prússia, que sabia que a França faria isso e estava esperando isso para poder ganhar a guerra.”

Outra guerra convencional, mais recente, que teve seu conflito justificado com o uso de fake news foi a Guerra do Iraque, em 2003. “Foi uma guerra que emergiu a partir de uma acusação de que haveria no Iraque armamento de destruição em massa. Essa acusação se provou falsa depois, mas ela ganhou uma repercussão mundial de grande significação para a legitimação dessa invasão”, afirma De David. “Os Estados Unidos, inclusive, compuseram um consórcio de estados ao seu redor que auxiliaram a dar essa aparência de legitimidade e há estudos que demonstram que esse apoio de outros estados se deu de uma maneira com pouquíssimo impacto num plano prático, mas com o impacto grande no sentido de legitimação.”

Na crise da Crimeia, em 2014, que é considerada uma guerra híbrida por vários estudiosos, além dos ataques cibernéticos, foram utilizadas informações falsas para criar confusão e semear o pânico, provocando condições favoráveis à atividade político-militar da Rússia. Na atual guerra da Ucrânia, não há consenso entre os pesquisadores sobre sua classificação, se guerra híbrida ou guerra convencional.

A pesquisadora Marlise concorda com a definição da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan): “A guerra cibernética, associada a bombardeios aéreos e tanques por terra, preocupa os países da Otan que passaram a considerá-la uma guerra híbrida”, escreveu. De David discorda: “Ela é uma guerra em um sentido convencional, com elementos que se aproximam daqueles introduzidos justamente em um contexto de capitalismo informacional, de irradiação de informações para o resto do mundo”. O uso das fake news como estratégia, entretanto, é de entendimento geral.

Acusações sobre uso de informações falsas partem tanto da Ucrânia quanto da Rússia

Analistas da Cyabra, empresa israelense de tecnologia para identificação de desinformação, perceberam um aumento de conteúdo antiucraniano no Twitter nos dias anteriores à invasão russa. Eles acreditam que uma grande parte das contas espalhando esse conteúdo sejam ligadas ao governo russo. No dia 1º de março, o ministro da Defesa ucraniano, Oleksiy Reznikov, afirmou que a Rússia lançaria uma “operação psicológica e de informação em larga escala”. Segundo o ministro, documentos e fotos falsas seriam divulgados para “confirmar” uma suposta rendição do exército ucraniano, criando problemas de comunicação.

Em reunião emergencial da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), no dia 28 de fevereiro, os embaixadores da Rússia e da Ucrânia trocaram acusações de desinformação. Naquele dia, segundo o governo da Ucrânia, 352 cidadãos ucranianos teriam morrido desde o início do conflito, enquanto o governo russo afirmava que não havia registro de mortes de civis causadas pelo exército da Rússia. Versões não apenas conflitantes, mas opostas. “A Ucrânia divulgou que matou 9 mil soldados russos. A Rússia reconhece 400 óbitos, o que é um número elevadíssimo. Para comparar, no Afeganistão, durante todos os 20 anos de ocupação americana, morreram 2,5 mil soldados”, pondera o professor da Ufrgs Fabiano Mielniczuk.

“Há uma ideia de que existiria um piloto de caças ucranianos, o fantasma de Kiev, que está derrubando caças russos. Isso é uma campanha para aumentar o moral das tropas ucranianas e da população, mas não tem cabimento porque o aparato militar da Rússia é muito superior ao aparelho militar da Ucrânia. Assim como, quando a Rússia fala de ‘desnazificação’ da Ucrânia, a partir do Putin, também está forçando uma história que não é realística. Essas campanhas de desinformação estão nos dois lados”, argumenta o professor.

Apesar de, nas leis internacionais, existir um princípio de não intervenção direta ou indireta por um país nos assuntos e políticas externas de outros países, não há nada que mencione especificamente a disseminação de fake news. Tarciso Dal Maso Jardim, que é consultor legislativo do Senado para Relações Internacionais e Defesa, também considera desinformação como uma estratégia de guerra. “Teríamos muita dificuldade em proibir fake news em um contexto de guerra”, disse, em entrevista em outubro de 2021.

O pesquisador alemão Björnstjern Baade, em artigo intitulado “Fake News and International Law”, partilha da mesma opinião de que fake news seriam extremamente difíceis de impedir em um cenário internacional. Ainda que uma lei regulando o uso de informações falsas fosse criada, seria muito difícil encontrar os responsáveis pela sua disseminação, visto que, geralmente, a desinformação é veiculada em sites informais e redes sociais.

“A única solução realista é proteger o jornalismo”, afirma Dal Maso. “Os únicos que podem realmente ir atrás do que acontece durante conflitos armados e esclarecer as fake news que acabam circulando durante períodos de tensões e guerras são os jornalistas”, esclarece. “O direito internacional humanitário tem que proteger quem vai nos trazer a informação ‘mais próxima da verdade’: o jornalista.”

Encontrar os responsáveis pela disseminação de fake news é muito difícil, visto que, geralmente, a desinformação é veiculada em sites informais e redes sociais. Na foto, uma mulher usa um telefone celular em um campo montado perto da fronteira eslovaca-ucraniana em Vysne Nemecke, leste da Eslováquia. Foto: Peter Lazar / AFP / CP

Cerceamento à imprensa

Se a presença do jornalista visa diminuir a circulação das fake news, a proibição de seu trabalho deixa o terreno livre para sua propagação. No dia 4 de março, o governo russo aprovou lei que prevê prisão e multas para quem “divulgar fake news sobre ações das Forças Armadas”. Na lei, não está descrito o que é considerado uma notícia falsa, mas em relação à invasão da Ucrânia, a imprensa tem de usar as informações das declarações oficiais sobre o tema. Fica proibido, por exemplo, o uso das palavras “guerra” e “invasão”: oficialmente, o governo chama o conflito na Ucrânia de “operação especial”. No mesmo dia, a agência reguladora de comunicação anunciou que restringiu o acesso aos sites de quatro meios de comunicação, incluindo a versão em russo da BBC.

Após a aprovação da lei, jornais internacionais anunciaram o fechamento de seus escritórios em Moscou e/ou a paralisação de seus serviços no país. O americano The New York Times foi um dos que decidiu deixar a Rússia e disse, em nota: “A nova legislação da Rússia busca criminalizar reportagens independentes e precisas sobre a guerra contra a Ucrânia. Para a segurança de nossa equipe editorial que trabalha na região, estamos transferindo-os para fora do país por enquanto”. A BBC, da Inglaterra, anunciou o fechamento do escritório, mas decidiu seguir os serviços de reportagem em inglês no país. A americana CNN anunciou a interrupção de sua programação na Rússia.

No lado oposto, a União Europeia, dois dias antes da proibição russa, embargou todas as atividades dos canais russos Russia Today (RT) e Sputnik News, ambos ligados ao governo da Rússia, em todo o território europeu, sob a prerrogativa de “impedir que espalhem desinformação”. Isso gerou críticas de entidades ao redor do mundo, que viram a decisão como censura. Redes sociais como Twitter, Facebook, Instagram e TikTok, além do Google, também baniram ou colocaram avisos de “ligados ao governo russo” em todas as contas da RT e da Sputnik, inclusive das filiais internacionais dos serviços. A presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Maria José Braga, condenou a decisão: “Embora a Sputnik seja estatal, é uma agência de jornalismo de profissionais competentes e comprometidos. É preciso defender o direito profissional de se trabalhar na Sputnik”.

Quem mais sofre com decisões de censura é a população. “Acredito que um cerceamento à liberdade de imprensa constitui, antes de mais nada, uma ofensa grave à democracia, não somente à democracia no contexto de um estado, mas à democracia como uma como construção para além”, avalia De David. “Na medida em que a imprensa é cerceada, certamente se cria um espaço vago que pode ser preenchido por desinformação e fake news.”

“Obviamente a imprensa perde, mas também é um direito do cidadão ter acesso à informação”, complementa a pesquisadora e acadêmica de Direito pela Universidade Federal de Santa Maria, Ana Elisi Carbone Anversa.

“Como saber de que lado acreditar? A única forma é buscar o pluralismo, ter diferentes fontes para conseguir encontrar a informação. Isso agora tá sendo muito difícil, porque o ocidente baniu os meios de informação que vem da Rússia. Você chama a RT de mentirosa, chama Sputnik de agência de fake news. Então, você não tem mais como comparar as informações para que as pessoas tirem suas conclusões”, diz Mielniczuk.

Em um conflito tão recente, iniciado há menos de um mês, é difícil avaliar qual será o real impacto das fake news. Para De David, parece haver uma importância grande em mudar a opinião pública. “De uma maneira geral, é muito difícil de avaliar o impacto político da disseminação de fake news. No caso da Ucrânia, não há ainda um distanciamento dos eventos que nos possibilite um olhar um pouco mais refinado e a vista de desdobramentos subsequentes. Ainda que possamos estimar que essas fake news terão, em grande medida, algum papel na hora de moldar a opinião pública acerca do que se passa”, constata De David.

No front da comunicação

  • A Rússia anunciou nesta sexta-feira que restringiu o acesso à rede social Instagram, a qual acusa de espalhar apelos à violência contra os russos devido ao conflito na Ucrânia. As páginas ou aplicativos da Internet com acesso limitado geralmente se tornam inacessíveis no país. Este já é o caso do Facebook e do Twitter, que foram afetados pela mesma restrição após o início da operação militar.
  • Uma ação legal contra a Meta, empresa controladora do Facebook e Instagram, foi movida pela Rússia, que denuncia a empresa por ter relaxado suas regras sobre mensagens violentas direcionadas ao exército e líderes russos. O Comitê de Investigação da Rússia indicou que iniciou suas investigações "devido a pedidos ilegais de assassinato de russos por colaboradores da sociedade Meta americana".
  • A ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF) afirmou sexta-feira que havia "desbloqueado" o site de informações para a Rússia Meduza, censurado no início do mês pelo Kremlin. A RSF pediu "ao resto da mídia bloqueada para dar sinais de vida" para que possam ser "reconectados". As autoridades russas limitaram o acesso aos sites de quatro veículos de comunicação independentes em 4 de março: Meduza, as transmissões em russo da BBC e da emissora alemã Deutsche Welle (DW) e da Radio Svoboda, antena da Rádio France International.

Contra as fakes news, o fact-checking

Hoje, os esforços contra as fake news se concentram no que é chamado de fact-checking, ou checagem de fatos, que nada mais é do que verificação jornalística que ocorre tradicionalmente no jornalismo durante a apuração. No entanto, o fact-checking se ocupa de discursos públicos já em circulação e pode ser considerado um tipo específico de jornalismo. 

No Brasil e no exterior, são inúmeras as agências e iniciativas de fact-checking, se dedicando exclusivamente à prática. Uma dessas agências, na Espanha, chamada Maldita.es, percebeu, assim que começou a invasão russa na Ucrânia, que seria necessário um esforço coletivo para verificar tantos conteúdos falsos. Por meio da Rede Internacional de Fact-Checking (IFCN), a agência reuniu colaboradores de diversos países e criou o site UkraineFacts.org, que já reúne mais de 560 checagens feitas em mais de 45 países. “Quando checadores colaboram entre eles, o trabalho é muito mais efetivo”, disse Clara Jiménez Cruz, CEO da Maldita.es em entrevista a IFCN.

A lista de conteúdos verificados é variada. Informações descontextualizadas, imagens modificadas, conteúdo totalmente fabricado, tanto pró-Rússia quanto pró-Ucrânia. “É uma estratégia de guerra porque mobiliza as pessoas, sensibiliza as pessoas, toca na emoção das pessoas. Assim, faz com que elas decidam aderir à ideia de uma guerra ou decidam se posicionar contrários a uma guerra”, observa Marlise. Há uma dificuldade de verificar conteúdos por si mesmo, por isso o trabalho dos checadores de fatos é necessário. “Existem distanciamentos que devem ser observados. Entre eles estão a questão geográfica, a questão política e a questão cultural. Tudo isso são questões que nos impedem de ter segurança na hora de checar informações ou de concebê-las”, exemplifica De David.

Se aproveitando da importância do fact-checking e da confiança do público com os checadores, produtores de fake news também começaram a fabricar fact-checks falsos, segundo reportagem da agência de notícias estadunidense ProPublica. Conforme a reportagem, circulariam pelas redes sociais vídeos e postagens desmascarando supostas fake news ucranianas, quando na verdade esses conteúdos não haviam sido previamente circulados. É importante buscar fact-cheks direto da fonte, os sites das agências, e sempre desconfiar de postagens em redes sociais. “Hoje, o que a gente tem de ferramenta para verificar são as agências de fact-checking, então, no momento em que até isso nos deixa inseguros, ficamos nesse limbo. As agências verificadoras têm falhas, mas são as alternativas que temos”, orienta a pesquisadora Ana Elisi Carbone Anversa.

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895